Com quase 55% dos votos, o PSD foi o grande vencedor em Óbidos, consolidando o lugar de Filipe Daniel à frente do executivo, agora com mais um vereador, retirado ao PS. A CDU perde representatividade na Assembleia Municipal que, agora, passa a integrar também dois elementos do Chega
Quatro movimentos independentes presidem a juntas de freguesia
O relógio marcava 21h20 quando, na coletividade do Bairro da Senhora da Luz transformada em sede do PSD, o presidente da concelhia alinhava as contas e dá a noticia: “já ganhaste a Câmara”, dirigindo-se a Filipe Daniel. As somas ainda não estavam terminadas, algumas mesas ainda não estavam fechadas, mas o resultado viria a confirmar-se pouco tempo depois: o PSD venceu em Óbidos com 54,94% dos votos e elegendo cinco elementos para a Câmara. O PS, que alcançou 27,14% dos votos, elegeu dois vereadores, perdendo um em relação ao atual mandato.
“Uma noite extraordinária. É o culminar de um grande trabalho de toda uma equipa“, começou por dizer Filipe Daniel, agradecendo a todos os que se envolveram para obter estes resultados. Perante uma sala cheia reconheceu que não queria só ganhar, “queria ganhar de uma forma muito expressiva, como o conseguimos, e colocar o Bruno Silva como quinto elemento [na Câmara] e alcançámos essa vitória”.
Referindo-se às listas, disse serem compostas por pessoas com provas dadas no concelho, os “verdadeiros embaixadores” de cada uma das localidades, agradeceu-lhes a disponibilidade e garantindo que vai dar continuidade ao “trabalho extraordinário que tem vindo a ser feito em Óbidos”.
Escusando-se a fazer “referências negativas” a qualquer um dos adversários, Filipe Daniel deixou-lhes um agradecimento por se terem disponibilizado para a causa pública, mas não deixou de referir que “ficou bem evidente a diferença entre equipas, mas também entre ideias e isso foi reconhecido pela população uma forma inequívoca”. Não deixou de comentar que lhes foram “colocadas várias armadilhas”, mas que “o povo não está a dormir”, disse, referindo-se à queixa do PS relativamente à incompatibilidade de Ana Sofia Godinho integrar a lista, o que viria a ser confirmado pelo Tribunal das Caldas. Momentos antes, o presidente da concelhia do PSD, Nuno Gaio, já tinha mostrado a sua “revolta” com os “queixinhas” que levaram a que a candidata que figurava em terceiro lugar tivesse sido retirada das listas. “Ela deveria estar também naquele palco”, disse, acrescentando que o “trabalho mostrou que quem está pelo bem e quem está para trabalhar vai ganhar sempre”.
Depois de agradecer a entrega dos jotas na campanha, dirigiu-se a Telmo Faria, lembrando que há uns meses lhe disse: “eu não perco eleições. Não perdi uma única eleição, tenho a sorte dos bons me chamarem para estar com eles, e depois temos trabalho”, concluiu, emocionado.
No fundo da sala, o antigo presidente da Câmara ouviu também os elogios de Filipe Daniel, que lhe atribuiu a responsabilidade de “pôr isto a funcionar”, de “pôr Óbidos no mapa”. Lembrou também Humberto Marques, que o antecedeu e que, tal como ele, quis fazer mais pelo concelho.
O papel da JSD foi também destacado, com o candidato vencedor a realçar a sua importância nesta campanha, mas também no futuro. “Olhamos os principais partidos da oposição e vemos estruturas envelhecidas, pessoas que deixam de acreditar nos projetos do partido, e depois temos o PSD, cada vez mais rejuvenescido, a mobilizar cada vez mais, temos o futuro assegurado”.
E porque o compromisso assumido com a população é para cumprir, “amanhã [segunda-feira] eu e o Nuno [Gaio] continuaremos a trabalhar arduamente, aliás estamos só os dois”, disse, agradecendo-lhe a “dedicação, profissionalismo e compromisso” e fazendo uma alusão à saída dos três vereadores que o acompanhavam no executivo poucos meses antes das eleições.
A noite eleitoral em Óbidos terminou com a caravana do PSD a passar por todas as localidades do concelho, como “forma de agradecimento” pelo voto que lhes deu a maioria absoluta no concelho.
“As pessoas não valorizaram o nosso discurso”
A alegria na coletividade do Bairro da Senhora da Luz contrastava com a desilusão que a candidatura do PS estava a viver nesta noite eleitoral. Algumas dezenas de militantes e simpatizantes juntaram-se numa casa particular, nas Gaeiras, e pouco tempo depois do fecho das urnas, começaram a perceber que os resultados não bafejavam as pretensões socialistas. Ainda não se conheciam os resultados das últimas mesas e já Paulo Gonçalves assumia a derrota do PS, que se viria a concretizar na perda de um vereador, três deputados na Assembleia Municipal (ficando agora com seis) e oito mandatos nas assembleias de freguesia, e que se traduziu na perda de uma junta, a da União de Freguesia de Santa Maria, S. Pedro e Sobral da Lagoa.
O candidato felicitou Filipe Daniel e a sua equipa, mas também a socialista, que tentou “dar o seu melhor”. Contudo, o eleitorado não valorizou as nossas propostas, e portanto nós temos que respeitar”, afirmou Paulo Gonçalves, ressalvando que fizeram o trabalho que tinham de fazer, nomeadamente ao “identificar problemas que não se resolveram, identificar que nada está planeado para que se possa resolver, identificar equipas muito fragilizadas e uma autarquia muito debilitada do ponto de vista interno”. Por tudo isto, espera “que este mandato para a equipa vencedora possa ser bem mais produtivo do que foi o anterior, em defesa dos interesses de todos”.
Garante que o PS estará “para ajudar”, na oposição, mas não deixa de manifestar alguma preocupação com o novo executivo. “É uma equipa com muito pouca experiência da administração pública, os problemas são imensos, portanto diria que não parece que estejam reunidas grandes condições para esperarmos um grande mandato”, considera. “Espero que uma maior experiência do presidente Filipe Daniel possa permitir-lhe perceber que mais votos não significa que grande parte dos problemas estão resolvidos”, referiu, manifestando que o eleitorado validou “alcatroamento de última hora, compra de imóveis sem saber para o que se faz, promessas vãs… e tudo isso também responsabiliza as pessoas”.
E, apesar de não ter ganho, o PS obteve o voto de 1870 eleitores, “que tem de ser respeitado”, pelo que “têm uma missão a cumprir”, concretizou Paulo Gonçalves que vai assumir o terceiro mandato como vereador na oposição.
Como surpresa pela positiva, Paulo Gonçalves destaca os resultados do Chega, que tendo tido bastante votos no concelho nas últimas legislativas, não manteve essa adesão. “A diversidade agrada-nos, não temos nenhum problema em relação a essa matéria, mas não se confirmou aquela onda… o eleitorado prendeu-se mais às questões locais e não tanto às questões nacionais multiplicadas para a máquina de publicidade do líder nacional”.
Resultado “dentro das expetativas”
O Chega foi a terceira força mais votada no concelho, com 10,23% dos votos. Adélia Araújo, a candidata à Câmara, reconheceu que o resultado eleitoral em Óbidos está “dentro das expectativas” com a reeleição do atual presidente Filipe Daniel. “Será a continuidade de promessas, o distanciamento da população e falta visão a longo prazo”, assinala.
Reconheceu que faltaram poucos votos para concretizar o objetivo de eleger e apresentar os seus projetos, mas em relação às autárquicas anteriores, elegeram mais um elemento para a Assembleia Municipal. “Estamos a crescer”, realça Adélia Araújo, acrescentando que, no futuro, o Chega “estará mais presente, a acompanhar todas sessões públicas no concelho”.
“Vamos estar vigilantes”
Carlos Luz, candidato da CDU a Óbidos, não esconde que o resultado de domingo, com a coligação a não ir além dos 2,67% dos votos, não era o esperado. De qualquer forma, “na campanha acho que os debates foram interessantes e evidenciaram aquilo que é preciso fazer”, disse o candidato que percebeu que “poderá haver acolhimento”, por parte de Filipe Daniel, para “alguns dos aspetos que foram sendo colocados”. A CDU perdeu o deputado que tinha na Assembleia Municipal, ficando sem representatividade naquele órgão. Embora reconheça tratar-se de uma “perda significativa”, Carlos Luz, garante que não deixarão de marcar presença, na qualidade de munícipes, assim como nas sessões de Câmara públicas.
O dirigente comunista referiu ainda que já se estão a preparar para as próximas autárquicas, com uma maior mobilização, mais contacto com a comunidade e que, mesmo não estando representados nos órgãos municipais, que irão intervir nos espaços que tiverem à sua disposição. “O concelho tem alguns desequilíbrios que eu acho que têm de ser corrigidos para bem da comunidade”, disse, deixando a garantia de que irão estar vigilantes.
Percepção no terreno não coincidiu com os resultados
Também a concorrer pelo segundo mandato consecutivo, desta feita pelo CDS-PP, Carlos Pinto-Machado refere à Gazeta das Caldas que a percepção que teve no terreno junto da população, “não coincidiu com os resultados expressos nas urnas”. Mas reconhece que a democracia é assim. “Às vezes nem tudo o que parece é. O CDS-PP é um partido fundador da democracia, continuará a fazer uma oposição construtiva em Óbidos”, afirma. E, apesar dos resultados não terem sido favoráveis a este candidato, que obteve apenas 1,22% dos votos, mantém a “convicção que o nosso plano estratégico iria permitir uma solução de desenvolvimento integrado de todo o concelho, melhorando as condições de vida das pessoas”. Pede, por isso, aos eleitos que “não se esqueçam daqueles que sofrem em silêncio e também dos jovens que merecem um futuro na sua terra”.

































