Artur Pereira, o consultor politico que participou em quase todas as campanhas eleitorais em Portugal desde 1976, diz que está cansado do sistema político tal como o conhecemos. Nas Caldas, no último 21 às 21 do Movimento Viver o Concelho, disse que vai sair de sombra e “vai passar a acção”. Como? “Fazendo com que os movimentos de cidadãos possam jogar o jogo deles, indo a votos”, responde. Isto porque a sociedade já não se revê na respostas dos partidos políticos. O convidado que já viveu na Argentina, Cuba, Rússia e em Espanha (onde participou nas campanhas da IU – Izquierda Unida) recordou que “os maus políticos são eleitos pelas boas pessoas que não vão votar”.
“Cidadania, o que fazer?”, foi o tema do debate de 21 de Novembro, na Junta de Freguesia de N. Sra. do Pópulo e que trouxe às Caldas o consultor político Artur Pereira. Este especialista diz que, à semelhança do que se passa na vizinha Espanha com o Podemos, é hora dos cidadãos chegarem à politica e tomar em mãos os destinos do país, dado que as pessoas já não se revêem nas respostas dos partidos políticos.
Artur Pereira recorreu a exemplos históricos para encontrar os primeiros actos de cidadania. O prieiro terá sido a revolta dos escravos, liderados pelo grego Espartaco que, entre 73 e 71 a.C., lutou pelo fim da condição servil e por melhores condições de vida. Referiu também a Revolução Francesa (1789) e a Declaração dos Direitos do Homem na qual “as pessoas deixam pela primeira vez na história de ser súbditos e passam a ser cidadãos”.
Olhando o contexto nacional, Artur Pereira sublinhou que já se viveu um momento ímpar de cidadania e também de desobediência civil: o 25 de Abril. Quando o Movimento das Forças Armadas pediu aos cidadãos para não sair de casa, “o que aconteceu foi que veio tudo para a rua!”. E pediu à plateia (composto por 15 pessoas) para fazer um exercício de imaginar as fotografias relativas à revolução portuguesa sem gente. “Inimaginável”, concluíu.
“Quem fez a revolta foi a coragem dos capitães e o povo, claro”. E hoje, em que ponto estamos em relação à democracia? “Somos bons meninos a ouvir uns discursos de chacha. É isto que o poder espera de nós”, diz o orador, que se revolta com o facto de há 40 anos serem sempre os mesmos, “das mesmas famílias” que se consideram “uma casta que pensa que tem direito a tudo e que em nada se preocupa com o bem comum”. E até garante que em nada se preocupam que uma parte da população “não tenha comida, nem uma prenda de Natal para dar aos filhos”, em consequência desta severa politica de austeridade.
Artur Pereira afirmou mesmo que o “o sistema está podre e eles sabem, só que não têm alternativa”. E portanto é preciso arregaçar as mangas pois perante estas circunstâncias “temos que nos unir, aqueles que são capazes de se indignar”. É preciso, na sua opinião, transformar os movimentos de cidadãos num instrumento político de modo a conseguir uma alternativa para o actual estado a que o país chegou.
Até porque foi a dita classe política “que nos levou à bancarrota e que foge com milhares de euros para as off shores”, afirmou.
Por tudo isto, se não se agir, Artur Pereira teme que se continue a ver aumentar os novos pobres (que antes formavam a classe média) e os excluídos, aqueles que actualmente já vivem sem entrar no mercado de trabalho, vivendo de subsídios ou de actividades marginais e que na verdade, “não contam para o sistema”.
Fazendo futurologia política, o convidado deixou claro que “se o PS ganhar vai ficar tudo na mesma porque a crise não vai dar tréguas”.
“Ainda temos uma réstia de raiva e de capacidade de revolta”
Artur Pereira acha que o povo está mal, mas “não está morto e ainda temos uma réstia de vontade de raiva e de capacidade de revolta”. O consultor quer por isso desafiar quem governa, defendendo novas propostas sociais – “é preciso unir vontades naquilo que é básico e fundamental, numa atitude de grande abertura e grande humildade”.
Ao longo da sua intervenção houve momentos dedicados ao partido Podemos que conta com 30% do voto dos espanhóis. O fenómeno da cidadania, tal como no país vizinho, vai também “ter repercussões em Portugal”, disse, no final da sessão após muitas perguntas da assistência.
“Creio que está a acontecer algo. É tão obvio que têm que aparecer pessoas dispostas a criar novas ferramentas de participação das pessoas”, disse o convidado à Gazeta das Caldas no final da sessão. Só não sabe ainda bem “quando ou como”, mas “talvez para inícios do ano já haja algo ligado aos cidadãos”, acrescentou. O ideal, para Artur Pereira, é que já haja uma alternativa para as próximas legislativas “como um partido que reúna o que de melhor existe em termos de cidadania”, disse acrescentando que ao contrários das outras campanhas, onde fica sobretudo na sombra de outros candidatos, desta vez admite que vai mudar de postura e “passar mais à acção”.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt































