“Os centros de decisão deviam incluir jovens”

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Candidato defendeu a criação de espaços verdes na cidade e nas freguesias

João Arroz, o representante do Livre, tem 18 anos, vai para a universidade e defende como prioridades a habitação pública, um Banco de Fomento local e a Casa da Criação Cultural. Quer ainda que os jovens integrem centros de decisão como as autarquias

 A habitação é eleita como prioridade do Livre para as Caldas. Que propostas têm para apresentar?

A habitação pública é a solução e nas Caldas não há a suficiente. Propomos por isso  atingir, como objetivo, 10% de habitação pública ao longo dos próximos quatro anos. E isto a nível do concelho e não especificamente focado em bairros, pois queremos a habitação pública integrada na malha urbana.É preciso fazer um inventário do património da Câmara para sabermos exatamente onde estão os prédios devolutos. Neste momento, não temos acesso público ao documento, mas sabemos que existe.

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Os jovens que têm rendimentos mais baixos estariam numa lista prioritária para aceder a esta habitação. Especificamente os jovens carenciados e também para aqueles que se formam fora e que querem voltar às Caldas. Na parte pública,defendemos a aquisição de imóveis, o arrendamento acessível e também o aumento o IMI sobre prédios devolutos. Queremos garantir que toda a gente tem casa para viver.

 

Conhece bem as dificuldades, sobretudo dos jovens e dos estudantes, aqui nas Caldas. De que forma é que as Caldas pode ser mais atrativas para reter os talentos jovens?

A cidade das Caldas tem uma grande sorte e uma grande capacidade de criar uma comunidade de cultura muito forte. Especificamente por causa da ESAD.CR, que é uma escola e um centro de formação importante para o país e, muitas vezes, até para outros países.

Precisamos de perceber como reter esses jovens que passam por cá. Uma das nossas propostas é a de criar uma bolsa para artistas a início de carreira. Isto ajuda aqueles que fiquem cá a que eles e que possam desenvolver os seus projetos nesta região.

 

Esse será uma medida importante para uma cidade que se diz Criativa e das Artes. Qual é a vossa posição?

Caldas é um lugar onde a arte consegue condensar-se e passar do imaginário para o real. E nós, como Câmara Municipal, acima de tudo, o que temos de fazer é criar condições para que isso aconteça mais.  Um estudo recente mostrava que, em Londres, a parte que mais gerava retorno económico para a cidade não era a financeira, mas sim a artística.

E depois, outra das nossas propostas é criar a Casa da Criação Cultural. Isto é especificamente para os autores, pessoas formadas na ESAD.CR para que consigam ter um espaço, que não precisa de ser lucrativo imediatamente, para desenvolver os seus trabalhos. Isto faz com que, por um lado, os artistas tenham um apoio para ficar cá.

Os bairros mais artísticos de Londres geram um retorno muito positivo à cidade pois trazem pessoas, trazem cultura e geram melhores maneiras de viver. Quando falamos de produção artística, também estamos a falar de design,  de ergonomia e de toda uma capacidade de atrair. E portanto, Caldas, tendo o histórico que tem, os seus museus, a ESAD.CR tendo a capacidade de produção cultural,  tem que entender, acima de tudo, é que nós temos de disponibilizar os meios para que os autores possam encontrar aqui um lugar onde as suas ideias se possam tornar realidade.

 

Que outras prioridades é que o Livre tem para as Caldas?

Temos três prioridades que são a habitação, o ambiente e a mobilidade. No Ambiente, devia-se apostar na energia renovável que poderia permitir aos caldenses poupar muito dinheiro no final do mês. Se a Câmara disponibilizar formações para se criarem, por exemplo, comunidades de energia renovável, então muito mais facilmente as pessoas poderiam aderir.

Isto apoia e melhora a vida diretamente dos caldenses, ao mesmo tempo que faz a cidade das Caldas mais sustentável e que promove também mais estabilidade na rede elétrica. A medida poderia ser aplicada em todo o país, tanto em casas como em edifícios maiores.

É preciso proteger o património natural – como os nossos rios, o Paul de Tornada e a Duna de Salir – e ter a certeza de que não há descargas ilegais nos rios.

É necessário arborizar as ruas não só na cidade como nas freguesias. Isto ajuda a reduzir a temperatura, faz do espaço público um lugar mais convidativo e  ajuda com fenómenos extremos. Pretendemos criar espaços verdes nas ruas de todo o concelho e de ter, pelo menos, um espaço verde por freguesia.

 

E em relação à mobilidade…

O transporte para outros concelhos tem melhorado como para Lisboa. Dentro do concelho, o Toma não funciona bem e os caldenses sentem isto, há falta de autocarros, especificamente vindo de outras freguesias. Um aluno que viva em Sta. Catarina ou no Carvalhal Benfeito têm dificuldades em vir para as Caldas.  E, portanto, o que a Câmara tem que fazer é criar novas rotas, feitas por profissionais, especificamente focadas em ter a certeza que do centro  da freguesia há sempre ligações, através de transporte público, até às Caldas.Mesmo dentro da cidade essas ligações continuam a existir regularmente e a horas.

Sobre o planeamento urbano, além da arborização nós  queremos que as pessoas possam andar na rua, que tenham acesso a ciclovias e que tenham acesso a transportes públicos. Queremos devolver grandes ruas e alguns espaços públicos, mesmo aos peões e pedonalizar algumas ruas.

 

Defende também mais transparência na política municipal, quais são as propostas em concreto? No Livre acreditamos que é preciso estabelecer ligações de confiança entre a Câmara e os seus cidadãos. Isto significa mais transparência, mais democracia local, com referendos, com consultas à população mais regulares, especificamente também a nível das freguesias a que nos candidatamos, para poder haver mais transparência e poder haver mais consultas do que é que os cidadãos caldenses desejam em relação a vários assuntos.

Queremos também criar o Balcão da habitação municipal. Queremos que as pessoas tenham um lugar onde podem ir, pedir e ver onde se pode ver como funcionam os concursos e o processo burocrático. Seria uma entidade dentro da Câmara, aberta ao público.

 

 Ao nível da saúde, faltam médicos, sobretudo nas freguesias mais rurais. Como é que se pode resolver ou, pelo menos, minorar esse problema?

A Câmara tem dois papéis: o primeiro é o de facilitar e desburocratizar a vinda desses médicos, ajudar a alojá-los. Nós queremos apoiar a vinda dos médicos, garantindo que tenham habitação, garantindo que tenham serviços públicos e, desta maneira, os médicos vão ter uma maior atratividade para as Caldas, especificamente também para freguesias mais rurais. Não há problema em ter habitação pública em lugares mais rurais.

 

É necessário um novo hospital no Oeste. Qual acha que deve ser a sua localização?

A localização do hospital deve ser onde toda a gente, sobretudo os caldenses mas também de outros concelhos, tenham mais facilidade em ir.

Neste momento, sabemos que há vários projetos para hospitais privados nas Caldas e isso é um problema, pois muitos caldenses não vão ter capacidade de pagar esses hospitais.

Nós queremos um hospital  acessível para todos. Isto era prático aqui no Hospital das Caldas da Rainha, mas poderia ser  noutra localização se for bem planeado. É importante que os caldenses possam ter acesso através de transporte público. Primeiro queremos que o governo seja mais transparente na maneira como escolhe o lugar do hospital.

O Hospital das Caldas é um edificado antigo, mas não é por isso que deve ser abandonado. Pode ser  requalificado e deve continuar a servir a comunidade, mas de outra maneira.

 

Como potenciar o crescimento económico no concelho?

As Caldas não é só o meio urbano, é também composta pelas freguesias mais rurais que se focam na produção agrícola. Gostaríamos de criar um selo Caldas que asseguraria a produção local. Depois  teríamos a certeza que as cantinas públicas consomem essa produção. Desta forma apoiaríamos  os nossos agricultores e poluímos menos, porque as coisas não têm de ser transportadas de tão longe e apoiamos a alimentação saudável.

Queremos que haja uma secção separada do Banco de Fomento Nacional, pois pretendemos um Banco de Fomento das Caldas. Isto é possível e o presidente da Câmara pode facilitar a questão burocrática e  fazer pressão para que isto aconteça. Existe noutros municípios e  ajudaria a apoiar as empresas caldenses que ainda estão numa fase inicial, pouco lucrativa.

 

Como é que o Livre vê o aumento da imigração e a sua integração no concelho?

A Câmara  tem que facilitar a integração e a vida em comunidade dos imigrantes. Isto significa que deve disponibilizar aulas de português para as pessoas que cá vêm, a Câmara deve promover a integração destas pessoas, a regularização e, especificamente, ter a certeza de que os direitos destas pessoas são respeitados. Mesmo se não tiverem com a situação regularizada, isto tem de acontecer. É uma necessidade que ajuda quem escolhe a nossa cidade para viver e é algo que ajuda os caldenses como um todo. Porque se as pessoas que cá vêm estão a viver bem, se têm os rendimentos que merecem pelo trabalho que fazem, se falam português,  todos ganhamos. As pessoas  podem participar na vida local, podem integrar-se e fazer o nosso município crescer na direção certa.

 

É o candidato mais novo à autarquia, pois tem apenas 18 anos. De que forma é que essa juventude pode ser uma mais-valia?

Atualmente há uma ideia de que os centros de decisão têm de  de ter decisores mais velhos, de 40 anos e, geralmente, até têm de ser homens. No início da nossa democracia havia  ministros que tinham ali à volta dos 30 anos.

A Câmara Municipal é um centro de decisão. Se os nossos jovens, neste momento, estão a passar por dificuldades, muito acrescidas pela crise da habitação, pela falta de emprego qualificado, então é uma questão de honestidade política ter a certeza de que há jovens nos centros de decisão do  país. É importante criar uma renovação nas pessoas que tomam estas decisões.

 

Também é a primeira vez que o Livre se candidata à Câmara das Caldas.Qual seria um bom resultado eleitoral?

Um bom resultado seria ter alguém no Executivo, ter alguém na Assembleia Municipal e nas Assembleias de Freguesia.  As Caldas da Rainha teve o melhor resultado do Livre no distrito de Leiria nas legislativas.Há uma ideia feita de que os caldenses são muito conservadores. Nós rejeitamos essa ideia. Os caldenses, votaram sim nos dois referentes do aborto, por exemplo. Temos de continuar a criar ligações com a comunidade caldense.

 

Qual a importância da comunicação social local e, na sua opinião, esta deve ser apoiada em termos de política pública local ou não?

A meu ver, a comunicação social local é muito importante pois consegue ter uma ligação à comunidade, às pessoas, no seu dia-a-dia que os órgãos nacionais não conseguem e, por isso, conseguem criar uma ligação de confiança.

E, portanto, os órgãos de comunicação social local têm um papel muito importante pois consegue subverter o perigo da desinformação, dado que trabalham com  fontes em quem confiam e fontes confiáveis e verídicas.

Eu acho que devem ser apoiados a nível municipal e nacional. Devem ter apoios nacionais, isto aplica-se a qualquer imprensa local  para conseguirem continuar a sua atividade sempre, pouco importa o tempo em que vivemos, porque tanto em termos de crise quanto em termos de prosperidade, é importante ter fontes verídicas e fontes confiáveis e, portanto, têm de ser apoiadas nestas duas vertentes.  Vivemos uma crise agora com a habitação, por exemplo, mas também se tivermos outras crises, como a financeira de 2008, temos que ter certeza que os nossos jornais locais continuam a fazer o seu trabalho que é essencial.

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