
Relatório RADIS 2025 expõe carência estrutural de profissionais e desigualdades no acesso à saúde
O Relatório de Avaliação de Desempenho e Impacto do Sistema de Saúde (RADIS) 2025 identifica grandes fragilidades do Oeste no acesso a cuidados de saúde. O estudo, divulgado pela Convenção Nacional de Saúde, coloca o Oeste no último lugar entre as sub-regiões em número de médicos e enfermeiros por mil habitantes.
De acordo com o documento, o Oeste registou também o maior aumento percentual de utentes sem médico de família em 2024, com uma subida de oito pontos percentuais num único ano. Uma subida em contraciclo com a tendência nacional de melhoria. No total, 44,4% dos utentes inscritos nos Cuidados de Saúde Primários da região não têm médico de família atribuído, um valor três vezes superior à média nacional (14,5%).
Esta percentagem significa que quase metade da população do Oeste continua sem acompanhamento regular de saúde, o que tem implicações diretas na prevenção, no diagnóstico precoce e na gestão de doenças crónicas.
A realidade do Oeste contrasta com regiões como o Tâmega e Sousa, que atingiu a cobertura total de médicos de família, e toda a região Norte, que apresenta um rácio de 97,4%.
Nos hospitais da região, a escassez de profissionais é igualmente preocupante. O relatório indica que há apenas 0,7 médicos por mil habitantes nos hospitais do Oeste, o valor mais baixo de Portugal e substancialmente inferior à média nacional, que é de 2,9. Em Coimbra, por exemplo, o rácio é de 4,1. O mesmo padrão repete-se entre os enfermeiros: 2,4 por mil habitantes, face aos 5,0 da média nacional.
O RADIS sublinha ainda que as desigualdades no acesso à saúde no Oeste estão associadas a fatores económicos. A região apresenta uma das piores estruturas remuneratórias do país: a diferença entre o salário médio e o salário mínimo não ultrapassa os 300 euros, valor muito inferior aos 746 euros registados na Grande Lisboa. Essa frágil capacidade económica é apontada como fator limitador no acesso a cuidados primários e compromete a sustentabilidade familiar perante gastos médicos diretos.
As limitações estendem-se às infraestruturas. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística para 2023, a região conta com apenas 1,1 camas hospitalares por mil habitantes, menos de um terço da média nacional (3,4).
Apesar desse quadro, a atividade assistencial nos hospitais da ULS Oeste tem crescido. Em 2023, os serviços de urgência atenderam 213.151 doentes, mais 23% do que no ano anterior. As consultas externas subiram 12,7%, totalizando 406.666, com maior procura em Ortopedia (54.324), Oftalmologia (28.385), Ginecologia (25.403) e Psicologia (19.244). O número de cirurgias também aumentou 4,9%, para uma média de 28,3 por dia, embora os internamentos tenham diminuído 5%, para 16.796.
O Oeste apresenta o pior rácio de médicos e enfermeiros por mil habitantes.
A falta de profissionais e desinvestimento na saúde são apontados por todos os partidos
Os partidos, da esquerda à direita, são unânimes na crítica ao poder central e ao sucessivo desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS), o que muda é o apontar o dedo aos governos de esquerda ou de direita que têm governado o país. Os sete partidos políticos (Chega, IL, CDS-PP, PSD, PS, LIVRE e PCP) e um movimento (VM), existentes nas Caldas, são ainda unânimes na crítica à falta de atratividade da região para os profissionais de saúde. Gazeta das Caldas tentou também ouvir um comentário por parte do ADN e do BE, mas estes não responderam.
Ainda que a Saúde seja uma competência do Estado Central, as diversas forças políticas são do entendimento que os eleitos locais também podem ter um papel ativo. Desde logo na criação de programas de apoio à fixação dos profissionais de saúde e investimento nas infraestruturas, tornando-as mais atrativas, mas também exigindo mais vagas nos concursos para esta região e investimento público.
Também a celebração de protocolos de colaboração com o setor social e privado local, assim como a criação de USF modelo C, são apresentadas como soluções, à direita, enquanto que os partidos mais à esquerda deixam uma crítica à solução de alguns municípios em disponibilizar planos de saúde privados enquanto o centro de saúde público permanece subutilizado e apelam à defesa do SNS na região.
Gazeta das Caldas auscultou os partidos e movimentos com atividade nas Caldas da Rainha sobre este tema na sequência do estudo da Convenção Nacional da Saúde (CNS) que colocou o Oeste com os piores indicadores em vários parâmetros relacionados com a saúde, ou que a influenciam, nomeadamente nos rácios de médicos e enfermeiros por mil habitantes, utentes sem médicos de família e ainda nos rendimentos (ver página 13).
Esta escassez de médicos no quadro faz com que a Unidade Local de Saúde do Oeste seja, a par das do Algarve e do Médio Tejo, sejam as que registam as maiores faturas para pagar a médicos tarefeiros, que prestam serviços sem vínculo permanente. Como noticiado na edição da semana passada, em setembro de 2025, existiam 336 médicos em prestação de serviços na ULS do Oeste, que asseguram em média cerca de 60% das horas de trabalho necessárias aos diversos serviços de urgência da ULS do Oeste, dada a exiguidade do número de trabalhadores médicos do mapa de pessoal e a dispersão de respostas. ■
Que comentário político este resultado lhe merece?
O que pode ser feito, pelos eleitos locais, para combater esta situação?

António Cotrim
Presidente concelhia Chega Caldas
- A região Oeste apresenta o pior rácio de médicos e enfermeiros por mil habitantes e 44,4% dos utentes continuam sem médico de família, três vezes acima da média nacional. Estes números revelam uma falha grave do poder central, que tem ignorado as necessidades reais das populações do Oeste e quebrado o princípio de igualdade no acesso à saúde. Não é um problema pontual: é o resultado de anos de desinvestimento e ausência de estratégia para fixar profissionais.
- Apesar de a contratação depender do Estado e da ULS, os municípios têm margem para agir. Podem criar programas de apoio à fixação — como apoios à habitação, transporte ou benefícios sociais —, investir na modernização dos centros de saúde e extensões, tornando-os mais funcionais e atrativos para os profissionais e acompanhar, dentro das suas competências, a gestão hospitalar, garantindo maior proximidade, escrutínio e articulação com as necessidades reais das populações.
Os autarcas da região devem ainda atuar em conjunto, através da CIM Oeste, exigindo mais vagas nos concursos nacionais e o fim da discriminação negativa da região. O CHEGA defenderá também o reforço de parcerias com o setor social e privado, dentro da lei, para aliviar a pressão sobre os cuidados primários. O Oeste tem sido deixado para trás; é tempo de exigir respeito e soluções concretas para a saúde das nossas populações.
Em suma, a ação local pode ser decisiva para pressionar o estado e criar soluções que mitiguem falhas de um sistema que tem deixado o Oeste para trás.

Carlota Oliveira
Coordenadora Núcleo Territorial IL
- O colapso dos Cuidados de Saúde Primários no Oeste é a consequência direta de décadas de incompetência e centralismo. Os sucessivos Governos transformaram o SNS num labirinto burocrático onde faltam médicos, enfermeiros e responsabilidade. O facto de 44% dos utentes residentes no Oeste não terem médico de família é um escândalo! É inaceitável se tivermos em conta que a percentagem na região do Tâmega e Sousa é de 0%, ou seja, todos os utentes têm médico de família, apesar desta região ter mais residentes do que o Oeste. A Iniciativa Liberal defende uma mudança estrutural neste domínio: gestão autónoma das unidades de saúde, liberdade de escolha para os cidadãos, a progressao de carreira dos profissionais de saúde baseada no desempenho.
- Por outro lado, os eleitos locais não podem ser cúmplices do imobilismo: devem promover e exigir condições que atraiam profissionais para o território e que retenham talento, como por exemplo incentivos fiscais, habitação acessível e menos entraves administrativos e, em alguns dos nossos municípios, o fim da trajetória de desinvestimento que tem caracterizado os últimos anos. O Oeste merece mais do que desculpas: merece resultados.

Sofia Cardoso
Presidente da concelhia CDS-PP Caldas
- Os dados divulgados revelam uma situação preocupante e confirmam aquilo que há muito se sente no quotidiano: uma região sistematicamente esquecida nas políticas de reforço do SNS. Para o CDS-PP, estes números evidenciam anos de negligência de Governos Socialistas e a sua falta de coragem em adotar medidas reformistas, que falharam na fixação de profissionais e na garantia de condições adequadas para o funcionamento dos Cuidados de Saúde Primários. Tal como o CDS-PP defende a nível nacional, é urgente um modelo de gestão mais eficiente, incentivos reais para atrair profissionais e valorização das respostas locais, sociais e privadas sempre que o Estado não consegue assegurar serviço.
- Quanto ao que pode ser feito localmente, os eleitos devem assumir um papel ativo: exigir à tutela o reforço urgente de recursos humanos, criar incentivos municipais para atrair médicos e enfermeiros, acelerar projetos de modernização das unidades de saúde, celebrar protocolos de colaboração com o setor social e privado local, e promover parcerias com instituições de ensino que contribuam para fixar profissionais. Para o CDS-PP, garantir cuidados de saúde dignos no Oeste é uma prioridade absoluta que exige ação imediata. Os caldenses merecem um acesso digno aos cuidados de saúde.

Daniel Rebelo
Presidente concelhia PSD Caldas
- São dados preocupantes que nos devem obrigar a refletir sobre a capacidade do Oeste em fixar profissionais de saúde o que por si só é razão para alarme. O problema da falta de médicos de família em todo o país arrasta-se há demasiados anos e tem sido identificado como um dos sintomas reveladores da necessidade de reformar o próprio SNS, tem sido afirmado pelo ministério da saúde que tem crescido nos últimos meses o número de médicos de família ao serviço do SNS apesar disso tem-se verificado um crescimento dos utentes o que pressiona os serviços e não contribui para uma solução minimamente satisfatória. Esta realidade é demonstrativa de um cenário nacional já complexo, o facto do Oeste apresentar rácios inferiores à média nacional deve deixar-nos ainda mais expectantes, ainda que, e de acordo com os dados que conheço esta realidade não seja uniforme em todo o Oeste e por exemplo Caldas da Rainha demonstre maior resiliência na capacidade de fixação destes profissionais.
- Existem instrumentos que tem permitido a órgãos autárquicos intervir e contribuir para soluções, desde o apoio direto à fixação de médicos, à participação através de um representante dos diversos municípios na administração das ULS, ou mesmo intervindo com o objetivo de colaborar na constituição de USF do tipo C, que possam contribuir, através de um modelo de gestão mais focado nas necessidades específicas do território, para a fixação destes profissionais.

Vítor Marques
Presidente Vamos Mudar
- O Vamos Mudar, acompanha com particular preocupação o desinvestimento a que se tem assistido em matéria de Saúde, na nossa região em particular na dimensão do Acesso a Cuidados.
É nosso desígnio continuar a encetar medidas que possam influenciar o Ministério da Saúde para o desbloqueio de contratos de trabalho para médicos e enfermeiros, particularmente para o mapa de pessoal.
Sublinhe-se que o Executivo VM, tem ao longo destes últimos anos acompanhado esta tendência. Por essa via, conseguiu-se a contratação de clínicos que, apesar de não garantirem a resposta suficiente, asseguravam o acesso a cuidados mínimos de saúde. Contudo, assiste-se a uma mudança de paradigma em que já não serão somente as condições salariais que garantem a fixação de profissionais.
Um dos grandes desafios no futuro imediato é garantir que o acesso a cuidados de saúde de qualidade seja a base para um crescimento saudável e sustendo da nossa comunidade. - Consciente da gravidade desta situação, compete a este movimento e a todos os partidos políticos com responsabilidade nestas matérias, reforçar o poder de influência junto dos decisores políticos no Ministério da Saúde, para a adoção de medidas que promovam a atração e a fixação destes profissionais. É por todos reconhecido o empenho que o Executivo tem dedicado, nomeadamente na comparticipação de projetos e obras de requalificação do Centro de Saúde, Obstetrícia e abertura das novas instalações do CRI, entre outros. O VM está atento e ativo na defesa dos superiores e legítimos interesses dos caldenses.

João Paulo Bento
Presidente concelhia PS Caldas
- Desde logo demonstra o desinvestimento na Saúde do Oeste nos últimos anos, o que muito nos entristece. A região Oeste é muito diversificada e justifica, por si só, manter um hospital novo, com condições técnicas e profissionais para atrair médicos e enfermeiros. Consideramos três medidas cruciais: rever as tabelas remuneratórias da função pública, para acolher e manter mais médicos no SNS; prever a contratação de mais especialistas nas áreas da saúde; e o mais importante, investir na saúde como estrutura fundamental do país, colocando como prioridade número um de qualquer programa político. A saúde não pode ser um negócio, não pode dar lucro nem prejuízo, é um direito universal e inalienável, tal como previsto na constituição.
- A nível local, devemos continuar a investir na capacidade de atração de Caldas da Rainha, para acolher estes especialistas. Os eleitos devem procurar, sempre, que a cidade e o concelho sejam interessantes para criar raízes, apostando por isso na qualidade de vida, permitindo que mais pessoas se sintam aqui em casa e não sintam necessidade de procurar melhores locais para viver.
Todos os eleitos locais, independente da sua cor política, devem unir-se em torno do desígnio comum de manter Caldas da Rainha como a cidade da Saúde, com novo hospital do Oeste e todas as infraestruturas adequadas para a sua manutenção.

Inês Pires
LIVRE Caldas da Rainha
- O Oeste tornou-se uma zona altamente atrativa, desde comunidades de estrangeiros, até quem venda a casa em Lisboa para se fixar aqui. Essa pressão demográfica expõe ainda mais o subinvestimento crónico no SNS e um modelo demasiado centrado na urgência, dependente de médicos tarefeiros, que consome recursos enquanto os cuidados primários e as especialidades, que deveriam ser a porta de entrada no sistema de saúde, se tornam cada vez menos acessíveis. O caso do Centro de Saúde de Óbidos, inaugurado há quase dois anos e sem um único médico residente, ilustra bem esta falha: há famílias inteiras, com crianças, vários anos à espera de médico de família.
Apesar das promessas de resolução rápida dos problemas do SNS pelo atual Governo, o que já era mau tornou-se pior. - Localmente, é essencial exigir soluções estruturais e investimento público que acompanhe o crescimento da região. A reavaliação anunciada do novo Hospital do Oeste arrisca prolongar indefinidamente a sua construção, abrindo espaço para que grupos privados se apresentem como única alternativa. É revelador que, em Óbidos, se recorra a planos de saúde privados enquanto o centro de saúde público permanece subutilizado. Os privados têm o seu papel, mas o dinheiro público deve reforçar o SNS, única resposta capaz de garantir cuidados universais, desde as situações de risco de vida ao acompanhamento regular que a população do Oeste precisa e merece.

Filipe Rodrigues
PCP Caldas da Rainha
- É uma situação que, infelizmente não me surpreende. Considero que este é um resultado da degradação do Serviço Nacional de Saúde pelos governos do PS, PSD e CDS, agora com a ajuda do CHEGA e IL. No país há condições para responder com qualidade no SNS, o que tem de haver é a opção política de investir nos meios materiais e humanos e não na transferência do dinheiro dos nossos impostos para os lucros do negócio da doença, nomeadamente com a transferência de milhões de euros do orçamentos do Estado para o sector privado da saúde.
- No concelho de Caldas da Rainha, os eleitos autárquicos e o executivo da câmara têm pautado a sua acção no alimentar de ilusões na população, no entanto o seu dever é defender o SNS, têm a obrigação de fazer tudo no sentido de exigir a melhoria das condições dos cuidados de saúde primários e do SNS em geral, a fixação de médicos e enfermeiros de família nos centros de saúde e o investimento no actual Hospital das Caldas da Rainha, independentemente de prosseguir a luta pelo novo hospital do Oeste que, na melhor das hipóteses, demorará anos a até entrar em funcionamento. Têm também a obrigação de mobilizar as populações na luta na defesa do SNS na região.






























