A recuperação da Casa do Seixo, que irá albergar a sede da Junta e um espaço de trabalho colaborativo, é a prioridade do presidente da Junta de Freguesia da Amoreira, José Simões, para os próximos dois anos.
Entre as suas preocupações estão o envelhecimento da população e a falta de novos habitantes que possam combater esta desertificação da terra e trazer-lhe um maior dinamismo e desenvolvimento.
A freguesia de Amoreira tem cerca de 20 quilómetros quadrados e um milhar de habitantes. Com uma economia assente sobretudo na agricultura e alguma indústria, possui também no seu território o empreendimento turístico Praia d’el Rey com o hotel de cinco estrelas Marriott.
José Manuel Ferreira Simões
61 anos
Eleito pelo PSD
Terceiro mandato
Profissão: Empresário avícola
Estado Civil: Casado , um filho
GAZETA DAS CALDAS – Estamos praticamente a meio do mandato como presidente de Junta de Freguesia da Amoreira. Quais as promessas eleitorais que já cumpriu desde que tomou posse?
JOSÉ SIMÕES – Foram poucas as promessas e, apesar de ainda só terem passado dois anos, já muita coisa foi feita, na sua maioria com a ajuda da Câmara [de Óbidos] pois sozinhos não temos condições para o fazer.
Temos disponível uma bolsa de emprego à qual recorre o Marriott quando precisa de alguém. E melhorámos a comunicação da Junta de Freguesia tanto a nível do site, como da criação do jornal trimestral “A praça”.
Também estamos a fazer a promoção de actividades e produtos locais através do Festival da Ginja. Já realizámos duas edições e durante esses dias alavanca bastante a economia local. Neste caso em concreto, a Câmara não nos tem ajudado como eu pensava que o fizesse, nem na produção nem na promoção do evento.
Também temos um mercado mensal no último sábado de cada mês. Inicialmente funcionava no campo de futebol e agora trouxémo-lo para a Rua da Mina, na localidade, para que as pessoas ali se possam deslocar com mais facilidade.
Estamos também a elaborar um plano estratégico para a freguesia. Fizemos um protocolo com Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa para promover uma estratégia de desenvolvimento para este território. Os estudantes universitários avaliaram a freguesia nos domínios da Agricultura e Floresta, Indústria, Turismo, Equipamentos Colectivos e Infra-estruturas. Tudo isso foi feito porque achamos que a freguesia está a ficar desertificada. Os seus habitantes são sobretudo idosos.
Também fizemos coisas que não tínhamos no programa como as obras no cemitério e damos um incentivo à fixação das famílias, com um apoio de 250 euros a cada recém-nascido.
G.C. – E o que lhe falta ainda fazer?
J.S. – Não estava no programa, mas será feita uma ciclovia até ao complexo do Furadouro, numa distância de 650 metros, em que a Junta executa a obra e a Câmara contribui com o financiamento.
Há também uma casa senhorial, denominada Casa do Seixo, que foi comprada pela Câmara para fazer a nova sede da Junta de Freguesia. Foi recuperado o telhado e agora estamos à espera que haja uma janela de investimento para continuar a obra que será a sede da Junta e também um prolongamento do Espaço Ó, um espaço colaborativo.
Mas essa não era uma promessa eleitoral da Junta e também não deverá ser concluída no meu tempo!
Plano estratégico para a freguesia
G.C. – Quais os principais problemas desta freguesia?
J.S. – O envelhecimento da população. Não se tem renovado. Precisamos de atrair mais pessoas novas.
Uma das razões para as pessoas não se fixarem na Amoreira poderá ser o facto dos preços das casas serem mais alto que noutras localidades, o que já acontece há algum tempo devido ao desenvolvimento que chegou a ter, por ser uma terra de passagem e com bons acessos.
G.C. – Como o pensa fazer?
J.S. – Estamos a fazer o plano estratégico para tentar encontrar soluções.
Também tentamos incentivar com o apoio ao recém-nascido. É pouco, mas se juntarmos com os 750 euros que a Câmara oferece já é uma boa ajuda.
Também atribuímos um prémio de mérito, de 250 euros, aos melhores alunos do Complexo do Furadouro.
G.C. – O financiamento continua a ser o principal problema?
J.S. – Temos que trabalhar com o que temos. Se tivéssemos mais dinheiro poderíamos fazer mais coisas. Assim temos que usar mais a criatividade e fazer coisas em que não tenhamos que gastar muito dinheiro, como por exemplo o Festival da Ginja, em que gastamos à volta de cinco mil euros para promover a freguesia.
G.C. – Qual é o vosso orçamento?
J.S. – O nosso orçamento é de cerca de 120 mil euros. Recebemos 31 mil euros do FEF e cerca de 70 mil da Câmara de Óbidos. O resto resulta da venda de covais, do IMI, do aluguer de um imóvel da Junta e do terrado do mercado mensal.
Deste valor 35% é para ordenados. Temos duas funcionárias na Junta e outros dois a trabalhar na rua. Depois temos as despesas de investimento que nos leva mais 40%. Ficamos com pouco mais de 20% para investir, ou seja, 15 a 20 mil euros, e não se consegue fazer obras com esse montante. Temos que ter a ajuda da Câmara. E temos tido essa ajuda. Por exemplo, na semana passada gastámos cerca de 500 toneladas de alcatrão na freguesia, que era já uma promessa antiga.
Falta-nos alcatroar duas ruas, que espero que seja feito ainda durante o meu mandato. Mas temos que esperar, porque há mais “filhos” e temos que olhar para todos.
G.C. – Trabalhou oito anos com o anterior presidente de Câmara e está há dois anos com o actual. O que mudou?
J.S. – Pouca coisa. O modo de trabalhar é muito idêntico. Talvez o Humberto Marques não saia tanto da Câmara como o Telmo Faria fazia, mas o trato e o apoio é igual.
G.C. – Situa-se nesta freguesia o Complexo do Furadouro, que agrega alunos da Amoreira, Vau e Olho Marinho. Considera que foi benéfico?
J.S. – Sim, porque temos poucos alunos. Acho que é bom para as crianças estarem juntas e habituarem-se a colegas de locais diferentes.
G.C. – E a antiga escola primária ganhou uma nova valência.
J.S. – Sim, foi transformada em pólo cultural o ano passado. Fazemos lá exposições, feira do livro, palestras, cursos.
É um espaço que está aberto todos os dias e as pessoas podem lá estar e conviver.
G.C. – Nesta freguesia fica situado o empreendimento Praia d’El Rey que, à semelhança de outros, tem passado por dificuldades. Preocupa-o esta situação?
J.S. – Passou por dificuldades mas passou por uma reestruturação e agora está a recuperar e estou optimista quanto ao seu futuro. É importante para nós porque tem várias pessoas da terra, e das localidades vizinhas, lá a trabalhar.
G.C. – Amoreira tem extensão do centro de saúde a funcionar?
J.S. – Sim. O ano passado tivemos sem médico dois ou três meses, mas depois a autarquia arranjou uma médica cubana, deu-lhe casa e a Junta assegura a sua deslocação entre Óbidos e a Amoreira. Asseguramos também uma administrativa na extensão de saúde.
G.C. – Tem estação dos CTT?
J.S. – Os correios funcionam na Junta de Freguesia há mais de 20 anos. Antes havia um posto de correios numa mercearia da localidade.
A semana passada veio a público uma notícia que havia juntas de freguesia a receber 200 euros por mês pelos serviços dos correios e eu fiquei pasmado porque nós só recebemos 50 euros. Tem sido uma luta que tenho desde 2007, com cartas para o provedor, presidente do Conselho de Administração dos CTT, mas sem respostas.
Também não percebo como é que, por exemplo, freguesias como o Olho Marinho ou a Usseira, com bancos à porta, recebem 400 ou 500 euros por terem o serviço dos CTT, só porque estão abrangidas por um protocolo com a ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias).
O posto de Correios está informatizado e o cidadão pode pagar o que quiser, ou até receber as reformas. Já pagar a Segurança Social é que agora não é permitido.
G.C. – Que colectividades se destacam na dinamização da vida social e cultural da freguesia?
J.S. – Temos o Centro Social, Cultural e Recreativo da Amoreira que é a maior colectividade da terra e que presta todos os serviços de apoio a idosos, menos a valência de lar. Também ali funcionam aulas de ginástica e tem um gabinete de fisioterapia.
Existe também o grupo desportivo Amoreirense.
“Ainda devíamos ter mais competências delegadas”
G.C. – A delegação de competências é uma boa medida, ou é um presente envenenado?
J.S. – Acho que é uma boa medida. O apoio nunca falhou e todos os meses temos a nossa verba.
Nós agilizamos mais o serviço. A Câmara não tem pessoal para andar de freguesia em freguesia para fazer a limpeza, manutenção dos jardins, por exemplo.
Acho que ainda devíamos de ter mais competências delegadas porque julgo que em alguns trabalhos poderíamos ser tão ou mais eficazes do que a Câmara. Pelo menos deveríamos ter conhecimento, ou ser ouvidos, quando são feitas novas construções porque conhecemos melhor a realidade da nossa terra.
G.C. – Como é o dia-a-dia de um presidente de Junta?
J.S. – É longo! Levanto-me cedo e trato dos meus assuntos profissionais até perto das 11h00. A partir daí dedico-me à Junta de Freguesia o resto do dia.
Um presidente tem que ter disponibilidade de tempo se quer ajudar a freguesia porque a qualquer hora pode surgir uma reunião ou um assunto para tratar. Além disso, tenho o telemóvel sempre ligado.
G.C. – Quais são as maiores dificuldades com que se depara?
J.S. – A falta de participação da população nas Assembleias de Freguesia.
G.C. – Como é que se meteu na política?
J.S. – Já tinha integrado a Assembleia de Freguesia e o sentido de cidadania levou-me a aceitar o convite de Telmo Faria. Acho que tem que haver alguém a tentar ajudar a alavancar a terra e na altura pensei que poderia ajudar a fazê-lo.
E não é o alcatrão que me move ser presidente de Junta, mas sim conseguir resolver os problemas sociais.
G.C. – Como tem sido o comportamento da oposição na Assembleia de Freguesia?
J.S. – Não tenho qualquer razão de queixa. Fazem as perguntas que têm a fazer, por vezes há discussões mais acaloradas, como é normal em política.
Fazem o papel deles num ambiente saudável.
G.C. – Nasceu nesta freguesia?
J.S. – Sim.
G.C. – Tenciona recandidatar-se?
J.S. – É o meu terceiro e último mandato, mas mesmo que ainda pudesse não me recandidataria.
G.C. – Como lida com as pessoas descontentes com a sua prestação?
J.S. – Mal, porque acho que fazemos um esforço tremendo para resolver as situações. Quando se faz algo de bom ninguém liga porque era nossa obrigação fazê-lo, mas quando não se consegue fazer criticam-nos logo, e isso é injusto.
G.C. – Das suas funções neste cargo, de que é que gosta mais?
J.S. – É da parte social. Tento acompanhar sempre alguma situação anómala e solucioná-la com discrição. Há pessoas que passam mal e precisamos ajudá-las sem as expor.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt






























