“Neste distrito disputamos um deputado com a extrema-direita”

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O bloquista Ricardo Vicente defende que são necessárias políticas muito mais próximas das especificidades do território

O Bloco de Esquerda quer manter o deputado eleito por Leiria e considera que a disputa direta será com o Chega

Colocar o apoio à agricultura na agenda política, aumentar o investimento na saúde e modernizar a Linha do Oeste são apostas da candidatura do BE pelo círculo eleitoral de Leiria, encabeçada por Ricardo Vicente.

Recandidata-se por Leiria. Que trabalho tem para mostrar ao eleitorado?
Desenvolvemos muita atividade no Parlamento relacionado com o distrito. Lembro a questão da Política Agrícola Comum (PAC), cuja proposta do Governo foi agora entregue à Assembleia da República e onde há 10 mil milhões de euros para aplicar em territórios rurais. A situação histórica da aplicação deste dinheiro deixa 40% dos agricultores, a nível nacional, fora dos subsídios e a região Oeste tem 83% dos agricultores excluídos destes subsídios. É relevante que nesta região esta política pública seja aberta à totalidade dos agricultores e que seja considerado o trabalho, mas também o reconhecimento da agricultura como forma de proteção das pessoas contra incêndios e que permite o ordenamento do território, a regeneração de solos, a preservação da biodiversidade.

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Acredita que será eleito?
Sim. Neste distrito sabemos que disputamos um deputado com a extrema-direita. Todos aqueles que não queiram eleger um deputado de extrema direita para a Assembleia da República encontram no BE a melhor trincheira para que ele não seja eleito.

Vem de uma reunião na ESAD. Que papel assume a cultura no vosso programa, a nível distrital?
Viemos à ESAD porque sabemos que é um excelente exemplo de formação cultural e que o faz da melhor forma, numa grande proximidade e de maneira integrada com a vida da cidade das Caldas. Precisamos que a sociedade tenha acesso fácil à cultura e de valorizar a produção cultural em cada lugar. No nosso programa incluímos a regionalização dos apoios para a cultura, para que a sua produção e oferta não se limitem ao Porto e a Lisboa, deixando o resto do território a descoberto.

Qual a posição do BE sobre a modernização da Linha do Oeste?
A eletrificação total da linha e competitividade com a rodovia é fundamental para responder às alterações climáticas e ao desenvolvimento socio-económico do território. Mas a Sul das Caldas, e até Meleças, está a haver uma recuperação da linha que é uma obra para o século passado, que não permite que o comboio seja competitivo com a rodovia, pois não traz ganhos em termos de tempo. A solução que existe no imediato é que os ganhos com a rodovia neste troço sejam feitos através da qualidade das carruagens que aqui venham a funcionar, da sua multifuncionalidade. A Norte das Caldas há a oportunidade de fazer diferente e garantir que a correção do traçado permita velocidades acima dos 150/160 quilómetros hora, tornando a ferrovia uma alternativa viável e competitiva. Deverá também garantir duplicações onde elas possam existir, que o trânsito não seja condicionado e facilitar também o transporte de mercadorias, que nunca acontece à mesma velocidade que o de passageiros. Uma ligação à linha de Sintra e a construção de um percurso alternativo à Linha do Norte trará coesão ao território e, desta forma, pode mudar o perfil de mobilidade do distrito.

A saúde é outro dos grandes problemas no distrito. O que pode ser feito para colmatar a situação?
Essa é uma das principais divergências que temos com o Governo e uma das respostas essenciais a dar no futuro. A nossa prioridade é canalizar o investimento público para o SNS. O BE apresentou uma proposta de exclusividade facultativa para os profissionais de saúde. Queremos que os que decidam trabalhar a tempo inteiro no SNS tenham melhores condições de trabalho do que têm agora e foi essa exclusividade que o governo recusou no Orçamento de Estado. O BE não abandona a construção de um novo Hospital para a região Oeste, não é aceitável que esta resposta continue a ser protelada. Também os centros de saúde estão subdimensionados. É preciso um investimento grande ao nível dos recursos humanos e infraestruturas e é um problema estrutural em todo o distrito.

Concorda com a criação de uma nova NUT, que junta o Oeste, a Lezíria e o Médio Tejo?
Creio que esse tipo de soluções necessita de estudos de suporte à sua concretização, não me sinto suficientemente informado para dizer que esta solução é mais vantajosa do que a situação atual. No entanto, não tenho dúvidas de que precisamos de ter políticas muito mais próximas das especificidades do nosso território. O BE considera que para promover essa política é preciso um processo de regionalização e que o que tem vindo a ser feito, que é uma municipalização das competências, vai gerar uma maior desigualdade entre concelhos e comunidades intermunicipais.

*Entrevista conjunta REGIÃO DE LEIRIA/GAZETA DAS CALDAS

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