Luís do Coito Ribeiro não fez promessas eleitorais, mas tem-se debatido por uma obra que foi uma das condições do acordo de trabalho entre o movimento de independentes Gaeiras Primeiro e a candidatura do PPD/PSD à Câmara de Óbidos: a requalificação do emblemático Largo de São Marcos, que deverá avançar em 2016.
O autarca fala das dificuldades que é gerir uma Junta com um orçamento reduzido, do qual a maior fatia diz respeito ao protocolo de delegação de competências. Mesmo assim há desejo de ver concretizadas duas obras: a ecopista que vai ligar o centro da vila ao complexo escolar; e uma via pedonal entre a Estrada da Califórnia e o Intermarché (à entrada das Caldas da Rainha). Com uma área de 1020 hectares e 2.331 habitantes (Censos 2011), Gaeiras é porventura a mais urbana das freguesias de Óbidos e mantém uma relação de proximidade com Caldas, onde a maior parte da população continua a ter o seu emprego.
Luís José do Coito Ribeiro
Eleito pelo Grupo de Independentes Gaeiras Primeiro
Primeiro mandato
Idade: 56 anos
Profissão: Desempregado
Estado Civil: Casado, um filho
GAZETA DAS CALDAS: Das promessas que fez na campanha eleitoral, o que é que já cumpriu?
LUÍS DO COITO RIBEIRO: Nós não fizemos promessas eleitorais. A nossa maneira de estar não é prometer, é lutar pelo que queremos, agarrar as ideias que existem e que são possíveis.
GC: E quais são essas ideias?
LCR: A requalificação do Largo de São Marcos, que nos debatemos junto da Câmara Municipal. É uma obra prometida há quase de 16 anos e tudo indica que vai avançar no próximo ano. Temos o compromisso do presidente da Câmara de Óbidos e, em breve, o projecto vai ser apresentado em Assembleia de Freguesia. Era uma das exigências do acordo de trabalho pré-eleitoral entre o Gaeiras Primeiro e a candidatura de Humberto Marques e terá que ser cumprido.
Um problema que existia há mais de 30 anos, desde a fundação da freguesia, é que 80% dos prédios urbanos e 100% dos rústicos não estavam inscritos na freguesia. Era verba de impostos que ia directamente para as juntas de São Pedro e Santa Maria, onde estavam inscritos esses prédios. Tivemos uma funcionária entre a Junta e as Finanças de Óbidos durante seis meses a actualizar esses dados. Em termos de rústicos nem sequer estávamos considerados, tivemos que criar e tive reuniões em Castelo Branco para o fazer. Hoje todos os prédios estão matriculados na freguesia e a junta recebe a sua parte da receita do IMI. Não é muito, estamos a falar de 0,5%, mas é alguma coisa.
Aderimos a um projecto da Anafre, de modernização administrativa, para que no futuro tenhamos um serviço on-line para os cidadãos na lógica do balcão único. Vamos iniciar agora a formação.
E já foi aprovada pelas assembleias de Freguesia e Municipal a construção de uma ecopista entre as Gaeiras e o Complexo Escolar do Alvito, que tem orçamento de 100 mil euros. Já está constituída a comissão que vai fazer o acompanhamento da obra e a análise das propostas. Este ano já vai ser feita uma primeira fase e a segunda fase será no próximo ano. É uma obra que a Junta vai gerir, mas os fundos são da Câmara Municipal.
GC: Aproveitando o cenário da barragem?
LCR: Nesta fase não. É a ligação da malha urbana da vila, ao parque desportivo Luís Filipe da Gama e ao Complexo Escolar do Alvito. Estava no nosso plano um passeio a ligar a Estrada da Califórnia ao Intermarché. Temos o projecto mas não temos capacidade financeira para o executar. Esperamos tê-la até ao final do mandato.
GC: Voltando à requalificação do Largo de São Marcos, é um projecto diferente do primeiro. Este é uma solução melhor?
LCR: Serve melhor a população. É um edifício de trabalho colaborativo. Não vai ter o museu, mas vai ter um espaço de exposições que vai receber exposições das Guerras Penínsulares por altura dos aniversários e outras exposições ao longo do ano. Em primeiro lugar não há apoios comunitários para a construção do museu e, analisando o custo/ rendimento, não havia justificação de se manter um museu permanente numa vila que não tem as visitas que tem Óbidos. Também faz parte do projecto um novo edifício para a Junta de Freguesia.
GC: Quais os principais problemas da sua freguesia?
LCR: A limpeza de terrenos nesta fase do Verão, porque são particulares e nem sempre é fácil convencer as pessoas a proceder à limpeza. Contactamos directamente as pessoas e felizmente a maioria limpa. Depois são os buracos nas estradas. Ainda recentemente tapámos todos os buracos que existiam. E repor as calçadas. São essencialmente esses os pedidos das pessoas.
GC: Qual o orçamento da Junta de Freguesia?
LCR: São cerca de 138 mil euros. Sendo que 84 mil são do protocolo de delegação de competências com a Câmara. Por aí se vê que as receitas são muito pequenas. Achamos que uma freguesia com esta dimensão tem um orçamento tão baixo. O dinheiro desse protocolo é para fazer as coisas. As verbas do FEF não chegam a 60 mil euros. Temos que fazer muito esforço para fazer algumas coisas. A nossa ideia, em relação à ligação da Estrada da Califórnia ao Intermarché, é utilizar fundos próprios e dá para ver que o esforço necessário é muito grande.
GC: Quais são os principais gastos?
LCR: Tirando o protocolo de delegações, a principal despesa é com o pessoal.
GC: Essa verba para a delegação de competências é suficiente?
LCR: Nós queremos fazer sempre mais. Temos feito um intercâmbio com a Câmara, que facilita a vinda de maquinaria que nos ajuda em algumas situações. Esta lei não veio trazer nada de novo, grande parte desses trabalhos já era a Junta que fazia, embora o valor das verbas tenha aumentado ligeiramente. Mas, claro, queríamos ter mais dinheiro para trabalhar.
“Vamo-nos bater por um balneário social”
GC: A Câmara já tem a concessão das águas termais. Tendo em conta que o furo é na freguesia e que já no passado o termalismo trouxe pessoas e foi uma fonte de rendimento, o que é que esta concessão pode trazer às Gaeiras?
LCR: Pode trazer emprego para o concelho e para a freguesia. O que temos falado com a Câmara é que possa existir nas Termas das Gaeiras um balneário social, que possa ser utilizado pelas pessoas com maior dificuldade, mantendo o que fazia o senhor Faustino da Gama, antigo proprietário. Todos nos lembramos que eram alugadas casas na Gaeiras pelas pessoas que iam aos banhos. Isto ainda está em fase de embrião e tem muito a ver com o que se quiser fazer. Mas vamos bater-nos por esse balneário social.
GC: A Zona Industrial está praticamente lotada. Há mais pedidos para instalação de unidades naquela zona e alguns planos de expansão?
LCR: Que eu tenha conhecimento não têm existido pedidos. Ainda há um ou dois lotes disponíveis. Planos de expansão, que eu tenha conhecimento não existem. Mas é importante para a freguesia ter aquela infra-estrutura. Parte da população da freguesia tem ali o seu emprego e é um polo industrial de referência no concelho.
GC: Em tempos Gaeiras era um ‘dormitório’ das Caldas. Hoje continua?
LCR: Ainda é um pouco, mas menos. Há uma proximidade grande com Caldas da Rainha e a maioria das pessoas trabalha lá, mas tem-se criado emprego na freguesia.
GC: A freguesia apostou em alguns eventos de dimensão, como os presépios e antes os Santo Antónios. Têm correspondido às expectativas e são para para continuar?
LCR: Os Santo Antónios já não se fazem há alguns anos, mas os presépios têm crescido de ano para ano. E com o novo local, o convento de São Miguel, passa a ter o local ideal para fazer essa exposição. Todas as semanas recebemos contactos de artesãos que querem participar na exposição. Pessoas de todo o país. A nossa exposição é uma referência a nível nacional, basta ver que passa em todos os canais de televisão nacionais.
GC: Com o Centro Escolar do Alvito a freguesia ficou com escola até ao 9º ano. Está bem servida?
LCR: Nesse aspecto está muito bem servida. Os resultados foram bons este ano. A construção do complexo foi importante também porque deixou vagos espaços que aproveitámos para centro de dia, para a sede da JVG. As associações recuperaram esses espaços. E uma escola construída de novo tem sempre uma dinâmica diferente. Existe uma ligação entre a Junta e directora do complexo, ajudamo-nos mutuamente no que é possível, assim como com a Junta de Freguesia de A-dos-Negros.
GC: Como é o dia a dia de um presidente de Junta?
LCR: É sempre ligado à Junta, porque as pessoas põem questões no café, na rua. Até na piscina já me colocaram questões. Eu nasci aqui, toda a gente me conhece e eu não me importo nada, porque a minha forma de estar nas coisas é com simplicidade. E até digo às pessoas que fazem bem em pôr as questões. Nem todas se conseguem resolver, mas tudo o que podemos resolvemos com a maior brevidade possível.
“Tem que haver muita perseverança, não podemos esperar que as coisas caiam do céu”
GC: Tem sido mais fácil ou mais difícil do que estava à espera?
LCR: Antes de presidente fui tesoureiro da Junta, tinha alguma noção e tem sido dentro da noção que tinha. Os meios não são muitos, vamos lutando, arregaçando as mangas. Tem que haver muita perseverança, temos que lutar para que as obras sejam feitas, não podemos esperar que elas caiam do céu, porque todos os presidentes querem obras nas suas freguesias.
GC: Quais são as maiores dificuldades com que se depara?
LCR: A maior dificuldade é a falta de equipamento, máquinas, para resolvermos mais rapidamente os problemas que surgem.
GC: A extensão de saúde presta os cuidados necessários à população?
LCR: A extensão de saúde está a funcionar bem, não têm existido problemas como noutras freguesias. Também nos facilita fazermos parte de uma Unidade de Saúde Familiar. Até há cinco meses atrás tínhamos uma funcionária que fazia serviço de secretaria na extensão de saúde, mas a USF repôs a funcionária, o que liberta a nossa para outras coisas.
GC: Gaeiras tem já vários serviços, como banco, farmácia, correios. Há algum que ainda faça falta?
LCR: A esse nível não temos carências. Temos os CTT na Junta que é um dos que tem mais movimento no concelho. A farmácia funciona em pleno e tivemos sorte com a pessoa que ganhou o concurso, já está integrada com a população, ajuda nalguns eventos e as colectividades, foi a pessoa ideal.
GC: As colectividades têm muita importância nas Gaeiras?
LCR: Importantíssimo. São muito activas, todas elas. Organizam eventos todo o ano e cobrem desde a área social ao desporto e lazer. É uma das riquezas da freguesia.
GC: A JVG é um exemplo para a juventude, até de outras localidades. São um bom apoio para a Junta na dinamização da freguesia?
LCR: São, aliás, eles já estão a trazer jovens de outras localidades e têm organizado eventos fora das Gaeiras.
GC: Como chegou à política?
LCR: Cheguei a convite até do Partido Socialista, penso que há 14 anos. Estive na Assembleia e depois fui eleito como tesoureiro da Junta de Freguesia. Somos arrastados porque nos envolvemos com estas coisas. Não consigo explicar como cheguei à presidência, aconteceu.
GC: Foi eleito por um movimento de independentes que agrega pessoas da terra que chegaram a ter diferentes cores partidárias. É mais fácil trabalhar quando os partidos são postos de lado?
LCR: Sim. Mas a ideia que tenho da experiência que fui acumulando é que não existe Gaeiras Primeiro, nem nenhum partido. Quando acabam as eleições as pessoas deixam as politiquices de fora e trabalham em prol da terra. A maioria das coisas que levamos à assembleia é aprovado por unanimidade.
GC: Das suas funções neste cargo, de que é que gosta mais?
LCR: Do trabalho de rua, do contacto com as pessoas e de poder resolver os problemas que as afectam.
GC: E conflitos, tem havido?
LCR: Não, penso que a população está satisfeita. Embora não seja possível agradar a 100%, porque não podemos ir a todo o lado e resolver tudo.
GC: Tenciona recandidatar-se?
LCR: Não estou a pensar nisso ainda..
Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt






























