António José Almeida, negociante de madeiras, está a meio do segundo mandato como presidente da Junta de Freguesia do Landal. Foi um dos responsáveis pela criação do Festival Nacional da Codorniz, que tem sido um importante contributo para a promoção do Landal e daquele que é um dos seus produtos mais característicos: a codorniz. Para além desta ave, a Pêra Rocha e a floresta são as principais actividades económicas desta freguesia, que tem 1050 habitantes e 1021 hectares de área. Ter conseguido travar o encerramento previsto da única extensão de saúde que serve a população foi um dos seus principais triunfos enquanto autarca.
António José Carvalho Almeida
55 anos
Eleito PSD
Segundo mandato
Profissão: Empresário
Estado civil: Casado, dois filhos
Joel Ribeiro
GAZETA DAS CALDAS: Quais os principais problemas da sua freguesia?
ANTÓNIO ALMEIDA: É uma freguesia essencialmente agrícola. Já teve muita suinicultura, mas com as exigências legais e os preços baixos do mercado, as pessoas foram abandonando essa actividade. Mas têm os seus empregos, continuam dedicados à pêra rocha e às codornizes.
GC: A falta de emprego é um problema?
AA: Esta zona tem muito que fazer, desde que as pessoas queiram trabalhar. Para além das actividades de que falei, eu sou negociante de madeira e dou que fazer a várias pessoas ao longo do ano e há outros como eu.
GC: Do seu programa eleitoral o que é que já conseguiu fazer?
AA: Inaugurámos no ano passado um refeitório para servir a escola e o jardim de infância. Nós fazemos o transporte das crianças com duas carrinhas, está a trabalhar bem. Fizemos, e continuamos a fazer, o Festival Nacional da Codorniz que tem crescido de ano para ano. No ano passado foram consumidas mais de 7 mil codornizes. É uma aposta grande. Temos adquirido mais algum espaço na zona envolvente do largo e estamos a construir mais tasquinhas para ficarmos com pelo menos quatro espaços a funcionar bem, com cerca de 400 lugares sentados.
GC: O que lhe falta ainda fazer?
AA: Pretendemos fazer ainda neste mandato uma ermida na Serra de Todo o Mundo, na Capela de Nossa Senhora do Arco.
GC: Qual o orçamento da junta?
AA: O orçamento é à volta de 100 mil euros. Não é muito, mas temos que trabalhar com o que temos.
GC: Quais são as principais despesas?
AA: Não estava no programa do mandato a tal aquisição de património para alargar as tasquinhas, mas temos feito essa aquisição com a ajuda da Câmara das Caldas. Boa parte do orçamento está a ir para as obras de recuperação dos edifícios das tasquinhas. Temos mais de 7.000 m2 de zonas verdes, nomeadamente em Santa Suzana onde temos um parque de merendas com 1.000 m2 onde vão muitas pessoas do concelho, mas sobretudo de Rio Maior, fazer piqueniques.
GC: Tem algumas receitas extra para além das dotações orçamentais?
AA: Temos poucas. Recebemos 300 euros mensais de um espaço onde funciona a farmácia e 50 euros mensais de um serviço de análises. São as únicas, para além das verbas da câmara e do Estado.
GC: O financiamento é um dos grandes problemas das juntas de freguesia?
AA: Sim, queríamos fazer mais, sobretudo obras, mas estamos muito limitados. Temos vários fontanários antigos que estão um pouco degradados, temos que pensar em recuperá-los no curto prazo. Também temos estradas que vamos pavimentar e outras repavimentar.
GC: Quais os principais pedidos dos seus fregueses? Continua a ser o alcatrão?
AA: Todos os anos colocamos cerca de dois quilómetros de asfalto. Já o fizemos no ano passado e este ano penso que também vamos arranjar mais algumas ruas. Pelo menos é o que está falado com a Câmara Municipal.
“BATEMO-NOS BASTANTE PARA MANTER A EXTENSÃO DE SAÚDE”
GC: Como estão os cuidados de saúde na freguesia?
AA: É uma situação que me preocupa muito porque estamos a 25 quilómetros das Caldas da Rainha, a população é envelhecida, muitas pessoas não têm carro e se tiverem que se deslocar às Caldas para ir ao Centro de Saúde seria muito complicado para os utentes.
Há alguns anos existiam duas unidades de saúde na freguesia, uma no Landal e outra nos Rostos. A do Landal fechou e quando entrámos para o primeiro mandato, a informação que tivemos foi que a dos Rostos também ia fechar. Batemo-nos bastante para manter essa extensão a trabalhar e até hoje continua. Temos tido dificuldades a nível de médicos, mas nunca fechou. Agora, há cerca de um mês, surgiu uma médica que vai estar a tempo inteiro nas freguesias do Landal e de A-dos-Francos. O que está conversado com a directora do Centro de Saúde é termos médico três meios dias por semana, o que já não é nada mau. Para além disso temos uma farmácia e serviço de recolha de análises.
GC: A freguesia tem uma escola de ensino básico. Está segura?
AA: A escola é nos Casais da Serra. Tem duas turmas de primeiro ciclo a trabalhar: primeiro e segundo ano numa, terceiro e quarto noutra. Para além disso temos jardim infantil e fazemos o transporte para almoçarem todos no refeitório. Penso que a escola está segura, temos um pouco mais de 40 alunos no primeiro ciclo. Temos feito obras de melhoramento e está com boas condições.
GC: Estação dos CTT existe?
AA: Sim, no Centro Comunitário do Landal.
GC: E os transportes, está satisfeito com o que existe?
AA: Sim, não temos problemas nesse sentido. O transporte escolar é a Junta que o faz com duas carrinhas. Um funcionário da Junta conduz uma e vem outra pessoa ajudar. Está a correr bem.
GC: A freguesia tem várias colectividades com trabalho em diversas áreas. Que importância têm na dinamização da vida social, cultural e desportiva da freguesia?
AA: Temos a Associação dos Casais da Serra, que tem o pavilhão gimnodesportivo. O Centro Comunitário do Landal, que tem sede nos Rostos, faz apoio domiciliário na freguesia e não só. Existe nos Amiais a Associação de Nossa Senhora do Rosário, que tem trabalhado em conjunto com a dos Rostos. Ainda temos o Grupo Desportivo de Santa Suzana e o Grupo Desportivo do Landal, que tem a equipa de futsal federada e o Cicloclandal, do cicloturismo. Há ainda a Comissão da Igreja do Landal, que fez obras de recuperação na Igreja Matriz que inaugurou há pouco tempo e importaram cerca de 80 mil euros.
O Landal, que é a sede, tem poucos moradores, mas apostámos bastante em fazer aqui as tasquinhas e o Festival da Codorniz. A Junta paga boa parte dos eventos e as associações exploram as tasquinhas. É uma maneira de tirarem fundos para se conseguirem manter durante o ano. É muito importante para as pessoas terem as associações nos lugares. Não é fácil ter pessoas nas direcções de todas as associações, vamos ver até que ponto conseguimos manter todas a funcionar.
GC: A delegação de competências é uma boa medida ou veio criar mais dificuldades em termos orçamentais?
AA: É mais difícil receber os dinheiros, mas é a lei e temos que trabalhar com ela.
GC: Como é que ultrapassa essas dificuldades?
AA: Sabemos até onde podemos ir e também existe a colaboração da Câmara Municipal. Exige formas diferentes de receber o dinheiro, mas temos trabalhado para tudo correr bem.
A IMPORTÂNCIA DO FESTIVAL DA CODORNIZ
GC: A produção de Pêra Rocha e de codorniz são as principais actividades económicas. Tem havido investimento nestas áreas?
AA: A produção de pêra tem estado a aumentar bastante, talvez se esteja já a produzir na freguesia mais de 4 mil toneladas. Tem havido pessoas, sobretudo jovens, a apresentar candidaturas a financiamentos com pomares novos. Estão associados às fruteiras, o que garante o escoamento, mas o preço não está famoso e isso causa dificuldades. Produzir um quilo de pêra fica à volta de 20 cêntimos e o que estão a receber não chega para a produção. Isso preocupa-nos porque no ano passado fizeram pouco dinheiro e se este ano continua assim começa a haver dificuldade para manter os pomares.
Nas codornizes há cerca de 100 pessoas envolvidas na produção. Chegámos a ter três matadouros na freguesia, mas neste momento temos um, a Aves Susano. Tem aumentado a produção e dá trabalho a muitas pessoas. É uma empresa que tem futuro e apoia-nos bastante no festival.
Também temos a fábrica do Pão de Ló do Landal há muitos anos. O dono fez obras há cerca de um ano, criou mais postos de trabalho e tem aumentado a produção.
GC: O Festival Nacional da Codorniz tem sido o veículo de promoção que desejam?
AA: Sim. Vamos para a quarta edição em Outubro. No primeiro foram consumidas 3 mil codornizes, no segundo aumentou para 5 mil e no ano passado, apesar do mau tempo, aumentou para 7 mil. As pessoas que têm o matadouro notam um aumento de vendas. Acho que valeu a pena esta aposta, porque para além de divulgar o produto, dá a conhecer a freguesia. Temos pessoas a fazer mais de 200 quilómetros para vir cá experimentar as saborosas codornizes do Landal.
GC: Segundo o Censos 2011 houve uma redução, ainda que ligeira, do número de residentes. A freguesia tem conseguido fixar os jovens?
AA: Há dificuldades para os jovens conseguirem terrenos e projectos para poderem construir, mas temos conseguido manter muitas pessoas cá a trabalhar nas florestas, na pêra e nas codornizes. Tentamos incentivar as pessoas a rentabilizar os terrenos. E em relação às codornizes pode ser que, mantendo-se o aumento da procura, se criem condições para fazer novos aviários, o que será mais um incentivo para os jovens ficarem.
GC: Esta é a freguesia mais distante da sede do concelho. Isso cria dificuldades?
AA: Algumas. Quando precisamos de máquinas da Câmara demoram mais tempo a chegar. Acontece o mesmo com os bombeiros, quando precisamos de ambulância ou para incêndios. Vêm o mais depressa que conseguem, mas sempre são 25 quilómetros.
GC: Rio Maior acaba por estar mais perto. Existe uma relação forte com esse concelho?
AA: Sim. Rio Maior está a 8 quilómetros, há várias pessoas que moram aqui e trabalham em Rio Maior e também usufruem dos serviços que lá existem, como supermercados e serviços bancários porque a deslocação é menor. Há um bom relacionamento. Quando é preciso os bombeiros de Rio Maior também vêm cá.
GC: Como tem sido o comportamento da oposição na Assembleia de Freguesia?
AA: Reunimos quatro vezes por ano. Neste mandato temos cinco elementos do PSD, dois do CDS e dois do PS. Esses elementos apresentam as suas ideias e problemas, mas os planos e orçamentos têm sido sempre aprovados por unanimidade. Há uma relação de cooperação, é uma equipa a trabalhar para o desenvolvimento da freguesia.
GC: Fez o seu primeiro madato com Fernando Costa na presidência da Câmara. Neste segundo mandato é Tinta Ferreira o presidente que está à frente do município. Sente diferença no relacionamento da Câmara com as juntas?
AA: Se estávamos bem, penso que não ficámos pior, pelo contrário. A Câmara das Caldas é das que faz e faz bem. Reúne todas as primeiras segundas-feiras do mês com todos os presidentes de Junta e é muito importante haver esse diálogo porque estamos mais próximos da população e sabemos o que se passa no terreno. O Dr. Tinta Ferreira já era vereador, é uma pessoa que nós já conhecíamos, não foi uma pessoa que apareceu agora e isso é uma mais-valia. As coisas estão a correr muito bem.
GC: É natural desta freguesia?
AA: Sou natural. Moro nos Casais da Serra. Quando tinha 20 anos fui presidente da associação dos Casais da Serra, fui presidente outras vezes e fiz parte de direcções.
GC: Foi um passo natural passar do associativismo para a Junta de Freguesia?
AA:Sim, era uma ambição que tinha. Aos 50 anos decidi que tinha que ser naquela altura, ou já não valia a pena.
GC: Como é o dia a dia de um presidente de Junta?
AA: Requer algum trabalho e tem que se ter algum tempo porque estão sempre coisas a acontecer. Comprometemo-nos a servir a população, por isso temos que estar disponíveis. Atendemos todas as quartas-feiras à noite, mas sempre que solicitam venho cá. Também existem as assembleias municipais e as reuniões de câmara.
GC: Do que é que mais gosta nas suas funções?
AA: O que gosto é o que me levou a candidatar-me: servir a freguesia e dar melhor qualidade de vida a quem cá vive.
GC: Quais são as maiores dificuldades?
AA: Dificuldades há sempre e mais agora… todos sabemos a situação económica do país. Mas temos a ajuda da Câmara das Caldas da Rainha, que tem estado bem financeiramente. A nossa ambição era fazer mais, mas temos que nos limitar ao orçamento que temos.
GC: Tenciona recandidatar-se?
AA: Estamos a meio do mandato. O que me preocupa é trabalhar bem e fazer o que for possível para o bem da freguesia.






























