O Moche Rip Curl Pro Peniche 2015, a etapa do circuito mundial de surf, deixou mais de 10 milhões de euros na economia de Peniche, segundo um estudo revelado no passado dia 21 de Março. Já a exposição do evento nos media pode ter rendido 30 milhões de euros.
Estima-se que tenham assistido ao vivo ao Moche Rip Curl Pro Peniche 2015 cerca de 100 mil pessoas. Destas, 65% são portugueses e gastaram em média 38,48 euros por dia durante a estadia na região. Os estrangeiros (que representam 35% dos espectadores) terão gasto em média 148,78 euros por dia, excluindo a deslocação para Portugal. No total, as pessoas que assistiram ao vivo ao evento terão gasto na região 7,7 milhões de euros (em transporte interno, alojamento, alimentação, compras e outros).
O impacto total em volume de negócios na economia local foi de 10,6 milhões de euros: 9,3 milhões de impacto directo mais 1,3 milhões indirectos. Este consumo gerou impostos no valor 1,3 milhões de euros, a maioria em IVA.
João Paulo Jorge, professor da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar (ESTM), que coordenou o estudo, salienta que a percentagem de estrangeiros tem vindo a crescer – começou nos 25% e já vai em 35%. Vêm principalmente da França, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Brasil.
O estudo revelou ainda que cerca de 57% dos visitantes já tinham assistido ao vivo à prova em edições anteriores. A maior incidência de novas visitas recai sobre os estrangeiros pois quase 60% responderam estar a assistir pela primeira vez. No entanto, entre os estrangeiros repetentes, quase metade já tinha estado na etapa de Peniche em mais duas ou três ocasiões.
A ESTM seguiu nesta análise a metodologia utilizada para medir o impacto deste tipo de eventos a nível internacional. É baseado em 983 inquéritos realizados ao público que assistiu ao evento, excluindo-se os próprios penichenses por não serem visitantes. O nível de confiança é de 95% e o erro da amostra é de 3,05%.
A apresentação decorreu na Capela de Santa Bárbara, no forte de Peniche, e contou, entre outros, com a presença da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, e com o presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado.
Uma oportunidade para o turismo da região
Ana Mendes Godinho acredita que o surf tem “capacidade de alavancar o nosso mar, que é único no mundo”, como produto turístico e potenciar o território que lhe está subjacente. O surf tem a vantagem de ter bons spots um pouco por todo o país e de poder ser praticado “ao longo de todo o ano”, acrescentou.
A secretária de Estado revelou que a maior parte das pesquisas sobre surf na Europa estão relacionadas com Portugal (38%). E de todas as pesquisas sobre o nosso país, o surf é o terceiro tema mais procurado.
É, por isso, um “exemplo paradigmático que acrescenta valor ao turismo”, defende Ana Mendes Godinho, que deu os parabéns ao Oeste por se ter agregado para criar escala na sua divulgação. Em relação ao estudo, disse que é preciso apostar no aumento da quota de espectadores estrangeiros.
Em relação à agregação dos concelhos do Oeste neste evento, Tinta Ferreira, que falou como vice-presidente da OesteCIM, disse que foi preciso “coragem” por parte dos presidentes de Câmara, que prescindiram de fundos para o seu território para apoiar um evento. “Foi uma prova de força e união e a médio prazo verificamos que tínhamos razão”, acrescentou.
Tinta Ferreira salientou o relevo que a modalidade tem na região ao citar um estudo que revela que Peniche e Nazaré são o terceiro e o quinto concelhos do Centro mais vistos na internet, um dado ao qual “o surf não será alheio”, sustentou.
Também Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, destacou a importância da ligação a um evento de escala global na activação das marcas Centro e Oeste, no potencial económico do evento em si e na consolidação do produto mar enquanto “alavanca dos produtos regionais e na criação de roteiros turísticos”. Salientou ainda a capacidade que o evento tem tido para captar investimento.
Vender o surf como os Alpes vendem a neve
Os resultados das audiências que o evento teve nos media também mostram um crescimento exponencial. Calcula-se que as transmissões e as publicações nos meios de comunicação tenham gerado um retorno de investimento (a diferença entre o valor investido e as receitas geradas) de 30 milhões de euros, mais um milhão que no ano anterior. A televisão representa a fatia maior deste retorno, 25,2 milhões de euros, seguido do online, com 2,6 milhões de euros.
A internet é um meio muito apetecível para este tipo de evento, que não tem hora marcada para acontecer porque nunca se sabe quando é que o mar o permite, o que torna mais difícil as transmissões televisivas. Ao todo foram quase 43 milhões de visualizações na página oficial do evento, mais do dobro das registadas no ano passado. Os dados do Google Analitics mostram ainda que o tempo médio de permanência na página é de 40 minutos.
Este incremento explica-se pela centralização de todos os eventos que compõem a World Surf League (WSL) na página oficial da ASP e também pelos avisos que os internautas recebem através das aplicações móveis quando o evento vai para a água, explicou Francisco Spínola, representante da WSL em Portugal.
O evento de Peniche foi visto sobretudo nos Estados Unidos, no Brasil, na França, em Portugal e na Austrália. Dados que Spínola considera importantes, porque podem ajudar a atrair turistas de destinos que, por norma, não procuram Portugal.
Francisco Spínola observou que a etapa de Peniche foi o “catalisador” de outros eventos no país, como Azores Pro, o Cascais Pro e o Cascais Women’s Pro. “Só a Austrália e o Havai têm esta consistência de eventos de surf”, sublinhou. É por isso que acredita que Portugal deve vender o surf como os Alpes vendem a neve, sobretudo no mercado europeu. “Devemos fazer com que cada europeu que queira experimentar surf se lembre de Portugal”, concluiu.
Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt






























