Menos médicos nas urgências dos hospitais das Caldas da Rainha e de Torres Vedras

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O Centro Hospitalar do Oeste vai reduzir os médico

s em três das suas especialidades nas urgências das Caldas da Rainha e de Torres Vedras a partir de hoje, 1 de Novembro. Gazeta das Caldas teve acesso a uma circular interna – que data de 23 de Outubro – e dá  a conhecer o número de profissionais nas novas escalas onde não são cumpridos os números mínimos de profissionais para cada especialidade, tal como é estabelecido pela Ordem do Médicos.
As reduções ocorrem sobretudo no período nocturno, entre a meia-noite e as oito da manhã nas duas urgências médico-cirúrgicas. Assim, tanto nas Caldas como em Torres Vedras, passa a haver menos um cirurgião e menos um médico de medicina interna.
Caldas fica ainda com menos outro profissional da área de ginecologia.  Nas duas urgências, no período da noite passam a 14 (11 especialistas) de médicos ao passo que de dia são 17 os profissionais a laborar nas várias especialidades.
A nova circular faz com que a equipa de pediatras em Torres seja também reduzida para metade da que existe na unidade das Caldas (dois) que, por seu turno, perde um pediatra entre as 8h00 e as 13h00 (já que o segundo médico inicia turno às 13h00).
Pedro Coito, cirurgião do CHO e presidente da delegação Oeste da Ordem dos Médicos, disse à Gazeta das Caldas que esta reorganização “põe em risco a qualidade do serviço prestado, viola o que está regulamentado e é uma questão economicista que não tem em conta as necessidades dos doentes e dos profissionais”.
Vários profissionais destes sectores clínicos, agora sujeitos a redução, manifestaram o seu descontentamento aos directores de serviço e à administração do CHO, por não considerarem que seja suficiente o número de clínicos, tendo em conta o alargamento de zona e ainda a reorganização dos serviços, agora concentrados nas Caldas e em Torres Vedras.

CIRCURGIÕES, PEDIATRAS E OBSTRETAS CONTRA

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Os clínicos dizem que não vão baixar os braços, prometendo continuar a contestar estas medidas e afirmam que se recusarão a trabalhar quando as equipas estiverem reduzidas.
Numa carta dirigida ao CHO, à qual Gazeta das Caldas teve acesso, os cirurgiões das Caldas da Rainha não concordam com a redução e ameaçaram deixar de assegurar a urgência durante a noite, uma vez que sete dos nove médicos ao serviço têm mais de 50 anos. A lei permite que estes profissionais deixem de fazer urgências a partir daquela idade e fiquem isentos de serviço nocturno a partir dos 55.
Os médicos lamentam que estas decisões sejam comunicadas por circular e sem que tenha havido discussão prévia. Pedro Coito, que é também o presidente do colégio de cirurgiões da Ordem, sublinhou que a redução destes profissionais “vai deixar a urgência mal”, uma vez que, se os dois especialistas estiverem operar, já não há o terceiro elemento que, em caso de necessidade de urgência dê resposta.
Uma outra missiva dos pediatras das Caldas dá conta que estes também “não aceitam o novo modelo por entenderem que não ficam reunidas as condições mínimas para garantir a qualidade do serviço prestado e a segurança dos doentes”. Por causa desta situação, a Ordem dos Médicos fez chegar as queixas de falta de diálogo e desacordo com a administração do CHO, também por carta, ao Ministério da Saúde.
Nesse documento referem que a “deliberada ausência de diálogo e tomada de decisões sem ouvir os seus pares, criaram um clima insustentável que pode conduzir à degradação e desagregação dos cuidados de saúde”.
Por seu lado, os obstretas em carta à administração  salientam que “temos o dobro da área de influencia e não duplicámos os recursos”. Como tal afirmam que as recomendações da Ordem dos Médicos apontam para equipas de três elementos no mínimo. Dizem ainda que “deixaremos de funcionar quando houver apenas dois elementos”.

Administração diz que se justifica a redução de médicos

Carlos Sá, do Conselho de Administração, disse à Gazeta das Caldas que informou atempadamente da reorganização das equipas médicas do serviço de urgência  e que esta tem por finalidade adaptar a constituição das equipas à afluência de utentes e ao trabalho desenvolvido naquele serviço.
O administrador diz que “pretendeu-se utilizar os mesmos critérios nas duas unidades de Urgência Médico-Cirúrgica do CHO: Caldas da Rainha e Torres Vedras, constituindo equipas idênticas e adequadas às reais necessidades do Serviço”. Esta medida é tomada em função da afluência de utentes e do número de cirurgias realizadas no período nocturno/madrugada, entre a meia-noite e as 8h00.
“Irá haver uma redução de três para dois médicos nas especialidades de Cirurgia Geral e de Ginecologia e Obstetrícia, à semelhança do que acontecia entre Janeiro de 2011 e Março de 2013 na Unidade de Caldas da Rainha”, diz Carlos Sá.
Um número que o administrador considera adequado e que “cumpre as recomendações de boas-práticas e assegura uma adequada resposta, em cada uma das especialidades, à procura que existe na prática e que é demonstrada pela estatística/casuística do Serviço”.
Segundo a administração do CHO, entre Janeiro e Setembro de 2013 realizaram-se no período nocturno 34 cirurgias – uma cirurgia por cada nove noites neste período  – e por isso justifica-se esta redução nas equipas médicas.
O mesmo responsável informou ainda que “as equipas de serviço nas urgências continuam a ser constituídas por um número de profissionais médicos que não se resume aos dois de cada uma das especialidades referidas, sendo a equipa de urgência, em cada unidade, constituída por 14 (das 00h00 às 8h00) a 17 médicos em presença física, ao longo do dia”. Contrariando as críticas dos médicos sobre uma alegada falta de diálogo, o administrador ainda afirmou que esta reorganização “envolveu os directores de todos os Serviços com actividade no Serviço de Urgência e tem vindo a ser discutida desde o primeiro trimestre do corrente ano, com especial ênfase nos últimos dois meses”.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

Utentes contra “reorganização inapropriada”

A Comissão de Utentes Juntos pelo Nosso Hospital reagiu às reduções de médicos através de um comunicado no qual se manifesta “contra uma reorganização inapropriada dos Cuidados de Saúde hospitalares no Oeste que faça diminuir a qualidade do serviço prestado”.
O documento diz que todos os utentes e profissionais de saúde “reconhecem que o serviço de urgência do CHO é dos serviços com maiores lacunas na qualidade global do serviço prestado, não por responsabilidade dos profissionais que lá trabalham, mas por inadequação dos reduzidos espaços e da organização dos fluxos do trabalho de atendimento dos utentes que chegam às urgências”.
A comissão considera ainda que “as medidas de redução da despesa não podem ser feitas exclusivamente à custa da redução dos recursos humanos” e que “não existe, da parte da Administração do CHO, nenhuma intenção anunciada de quaisquer outras medidas que promovam uma optimização dos processos de trabalho e organização das respectivas equipas no sentido da manutenção e optimização da qualidade do serviço prestado aos mais de 300.000 utentes do Oeste”.

Um passeio pelo património do Termal

A comissão de utentes vai realizar um passeio guiado ao património do Hospital Termal no próximo dia 9 de Novembro, que contará com as orientações de Jorge Mangorrinha e Helena Gonçalves Pinto. Este evento tem o apoio da ACCCRO (Associação Comercial dos Concelhos das Caldas da Rainha e Óbidos).

N.N.

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