Mário Soares e o 16 de Março de 1974

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Por ocasião do 16 de Março de 1993, vão passadas mais de três décadas, Gazeta das Caldas publicou a Página de História nº 14 dedicada a esta data histórica para as Caldas da Rainha e para o então RI5 e hoje ESE.

Na mesma edição, entre uma variada colaboração de vários protagonistas do 16 de março, foi publicado na Gazeta das Caldas em exclusivo, um testemunho de Mário Soares, então Presidente da República, que também foi primeiro ministro e líder do PS, entre um conjunto muito variado de papeis políticos e como advogado, no antes e depois do 25 de abril de 1974.

Nesse depoimento pode ler-se que Mário Soares havia sabido do “movimento do 16 de Março – onde os meus amigos Manuel Monge e Casanova Ferreira, entre outros, tiveram um papel destacado – pelas notícias chegadas a Paris, difundidas pelas agências e também pelas informações mais concretas que me foram transmitidas pelos camaradas do Partido Socialista que, então, tinham o seu quartel general no jornal República, dirigido pelo intemerato e fraterno amigo Raul Rego.”

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“Obviamente que fiquei triste pelo movimento – uma vez mais – não ter sucesso” confessa Mário Soares e acrescenta “mas convenci-me que a aparente vitória do Governo seria sol de pouca dura. Não duvidei um momento que a conspiração militar continuaria e que a Ditadura estava à beira do fim.”

Recorda que “no dia 8 de março de 1974 publiquei no jornal Le Monde uma “tribuna livre” onde escrevi: “Qualquer coisa mexe finalmente em Portugal. Desde há alguns meses que a agitação social e o mal-estar político aumentaram em todos os setores da sociedade portuguesa. O sistema está gripado e nada já funciona. Há diversos indícios duma próxima alteração do cenário político…”

Referindo-se ao golpe do RI5 referia: “Quando tomei conhecimento da rendição do regimento das Caldas da Rainha, supus que representaria um compasso de espera de alguns meses. Mas logo me chegaram informações de que não seria assim. Toda a organização revolucionária permaneceu intacta e atuante. O dia da liberdade seria um mês e pouco após: o 25 de Abril!”

E continua: “Disso dei conta também ao jornal Le Monde e a outros órgãos prestigiados da imprensa internacional multiplicando-me em declarações durante esse período. Concretamente fiz uma conferência em Genève, onde estiveram muitos portugueses e africanos lusófonos – lembro-me de António Barreto, Medeiros Ferreira, Eurico de Figueiredo, entre os primeiros, e do moçambicano Oscar Monteiro, entre os segundos – onde me fiz eco desse ponto de vista de que o regime ditatorial chegara ao fim. Multipliquei aliás os avisos nesse sentido aos partidos socialistas amigos, muitos deles então com responsabilidades de poder: aos sociais democratas suecos e alemães; aos socialistas franceses, belgas e austríacos; e aos trabalhistas ingleses e holandeses. Curiosamente, nenhum acreditou em mim. Julgavam-me excessivamente otimista. E tinham informações dos serviços secretos e dos seus agentes diplomáticos de que Marcelo Caetano “estava de pedra e cal”. Felizmente que os serviços secretos, em tais matérias, são sempre os últimos a saber… o 25 de Abril, na linha lógica do 16 de Março, foi uma surpresa total para o Mundo Ocidental… Mas não, para os anti-fascistas portugueses.”

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