
Maria dos Anjos Silva Sequeira, funcionária da Junta da Foz do Arelho e também membro do executivo no anterior mandato, é a primeira arguida no processo das contas daquela freguesia, estando sujeita a termo de identidade e residência. A anterior vogal da Junta admitiu ter ficado na posse de valores de cheques passados a ela própria que totalizam 7254,84 euros, bem como ter retirado do cofre cerca de 14 mil euros. No entanto, alega que o fez com o consentimento do presidente da Junta, Fernando Sousa, que desta forma comprava o seu silêncio para que esta não denunciasse “as inúmeras falcatruas que naquela junta ocorriam”.
Este processo, que resultou de uma denúncia da Junta de Freguesia no anterior mandato contra Maria dos Anjos, foi apenso ao processo aberto pelo Ministério Público na sequência da entrega do relatório às contas daquela autarquia de base que revelava “um desvio potencial apurado de 192.841,07 euros”. A PJ continua a investigar.
Entre Dezembro de 2014 e Outubro de 2015, enquanto secretária da Junta com funções administrativas e enquanto membro eleito do executivo com funções políticas, Maria dos Anjos Silva Sequeira ter-se-á apropriado de 14 mil euros em dinheiro e levantado ilegitimamente cheques da Junta no valor de 7254,84 euros.
É a própria que o admite, de acordo com dados do processo a que Gazeta das Caldas teve acesso de forma legal. A ex-vogal do executivo “assume como tendo sido a própria a apoderar-se das quantias monetárias aí expostas, e em momentos diferentes, mas com o consentimento de Fernando Sousa por forma a ser ‘comprado’ o seu silêncio perante as inúmeras ‘falcatruas’ que naquela Junta ocorriam”.
Maria dos Anjos admite ainda que tanto ela como Fernando Sousa retiravam dinheiro do cofre e que o faziam no âmbito de um “pacto de silêncio” entre ambos. Ela não denunciaria o presidente da Junta porque ele sabia do dinheiro que ela levantara (e possuía os comprovativos dos 11 cheques que totalizavam 7254,84 euros) e este último também não a denunciaria porque ela tinha conhecimento das irregularidades daquela autarquia, nomeadamente do destino privado que este dava às receitas do Parque de Auto-caravanas. O pacto de silêncio era ainda reforçado pelo conhecimento comum de situações relacionadas com a vida privada de ambos.
O pacto, se existiu, começou porém a desmoronar-se quando surgiram os primeiros alertas e notícias sobre o “buraco” das contas da Foz do Arelho. Uma funcionária daquela freguesia contou que, num telefonema feito nas instalações da Junta e com o telefone em alta voz, na presença de Fernando Sousa e de mais quatro pessoas, “Maria dos Anjos admitiu entre lágrimas que se tinha apoderado dos valores monetários pertencentes à Junta por forma a fazer face a dívidas pessoais que tinha contraído”.
Apesar de ter metido baixa médica quando, a dado momento, se incompatibilizou com Fernando Sousa, Maria dos Anjos não deixou de comparecer nas reuniões da Assembleia de Freguesia nas quais se discutiam as irregularidades das contas, tendo-se sentado sempre na mesa do executivo e optado por um prudente silêncio.
Mas já no processo em curso, a secretária da Junta aponta o dedo a Fernando Sousa que “se apoderava de forma ilícita do dinheiro do cofre da Junta para fazer seu o dinheiro em numerário das receitas da Junta e do parque de auto-caravanas”.
Já no relatório entregue aos membros da Assembleia de Freguesia em 3 de Junho de 2017 , é referido pela funcionária Maria Caldeira, secundada por Maria dos Anjos, que “a Junta de Freguesia não podia ter dinheiro no cofre porque Fernando Sousa tirava o dinheiro para pagamento de gasóleo e refeições para seu usufruto, mas as facturas comprovativas das despesas não apareciam”.
INVESTIGAÇÃO LENTA
O relatório da auditoria às contas da Junta da Foz do Arelho é a peça principal do processo aberto pela PJ de Leiria a mando do Ministério Público, que incorpora ainda 70 pastas com documentação. A este processo juntou-se agora o outro, bem mais pequeno, da denúncia da Junta de Freguesia contra Maria dos Anjos. Os magistrados entenderam que as acusações recíprocas entre Maria dos Anjos e Fernando Sousa se enquadravam num esquema mais vasto relacionado com as suspeitas que pendem sobre o funcionamento da Junta da Foz do Arelho.
A investigação ao processo dos cheques de Maria dos Anjos, que já estava razoavelmente adiantada, acabou por bloquear perante a imensidão do processo da auditoria às contas, o qual vai demorar muitos meses a ser investigado.
Em Outubro passado, nas últimas autárquicas, Fernando Sousa, que concorreu pela segunda vez com uma lista independente, foi reeleito presidente da Junta de Freguesia da Foz do Arelho.
Gazeta das Caldas não conseguiu contactar Maria dos Anjos que, segundo Fernando Sousa, continua de baixa médica. O autarca não quis comentar ao nosso jornal o processo em curso, tendo-se limitado a declarar que “ela [Maria dos Anjos], para se defender, vai dizer as coisas que quiser”.






























