A Assembleia Municipal Jovem que se realizou no passado dia 20, inserida nas comemorações do 25 de Abril da Assembleia Municipal caldense, ficou marcada pela pouca participação das juventudes partidárias.Convidadas a inscrever sete elementos, apenas a JP correspondeu com esse número de jotas. A JSD apresentou-se com quatro e o BE com dois. A grande ausência foram a JS e a JCP, que faltaram à chamada. Numa sessão que decorreu de forma muito tranquila, os 13 jovens deputados aprovaram a criação de um Banco de Artes nas Caldas da Rainha, um projecto para elevar a Foz do Arelho a capital do vento (ancorada no windsurf e kitesurf) e uma rota de Street Art na cidade.
Tudo a postos para a Assembleia Municipal Jovem que comemora o 25 de Abril e os 40 anos de Poder Local. A presidir à mesa estava Luís Sá Lopes, professor, director pedagógico da ETEO e ex-autarca das Câmara das Caldas, ladeado pelos dois presidentes de Junta mais jovens do concelho: Rui Rocha, 38 anos, eleito pelo CDS em Santa Catarina, e Rui Jacinto, 39 anos, eleito pelo PSD em Salir de Matos. Em frente, na sala, apenas três forças partidárias: sete jotas da JP e quatro da JSD, que naturalmente se agregaram numa zona da sala, e duas jovens do BE que se sentaram à parte. Um total de 17 deputados, “vigiados” por uma assistência de duas dezenas de pessoas, onde pontuavam alguns “treinadores de bancada”, veteranos do CDS e do PSD, que iam dando algumas instruções aos jovens. Luís Sá Lopes quis começar a sessão com uma surpresa, tendo convidado o actor José Ramalho para representar um texto de Shakespeare sobre o discurso de Marco António perante o féretro de Júlio César (assassinado por 60 membros do Senado). Um texto denso e muito político que contradizia os argumentos de Brutus acerca de Júlio César. Esta surpresa, de cariz pedagógico, haveria de merecer o reparo da jovem Joana Filipe (BE) por entender que não é compatível aludir ao Império Romano nas comemorações do 25 de Abril. Uma crítica à qual Luís Sá Lopes respondeu que, para os parâmetros de há 2060 anos, Roma era, apesar de tudo, uma República e uma sociedade onde se discutia política.
COMO FIXAR JOVENS NAS CALDAS
Como fixar população jovem no concelho das Caldas? Esta a pergunta para a qual os jovens deputados deveriam apresentar propostas. O primeiro grupo de propostas veio da JP – visivelmente a mais preparada das jotas – que quer fazer das Caldas da Rainha um festival de arte que dure o ano inteiro. Para isso sugeriu a criação de um Banco de Arte e de uma galeria de arte ambulante que pudesse deslocar-se às freguesias do concelho. Pela voz de Guilherme Monteiro, esta juventude propôs ainda que o município criasse estúdios na cidade (nos quais pudessem trabalhar artistas que depois fariam espectáculos de rua), a criação de um “hostel de arte” para albergar artistas nómadas que teriam também de actuar na cidade, e uma aposta forte das Caldas no vídeo mapping por ser uma área de sucesso e com procura crescente. Rui Constantino, presidente da JSD caldense, veio a palco para dizer que estas propostas eram muito interessantes, mas que passavam ao lado da ordem de trabalhos, cujo primeiro ponto era a fixação de jovens no concelho. Falou em seguida, Joana Filipe, do BE, que propôs a compra conjunta de uma draga por parte dos municípios das Caldas da Rainha, Óbidos e S. Martinho do Porto (em rigor deveria ter dito Alcobaça) para actuar em permanência na lagoa de Óbidos e na baía de S. Martinho, em vez de se adjudicar essas obras a empresas privadas. A proposta incluía ainda uma estação de tratamento dos dragados para se venderem as areias para a construção civil. Diogo Carvalho (JP) criticou a falta de eficácia dessa medida na fixação de jovens e anunciou que tal objectivo só se conseguirá com criação de empregos, qualidade de vida e cultura. Rui Constantino (JSD) também disse que a proposta do BE não fixava jovens nem criava empregos. E defendeu uma política de habitação jovem no concelho e incentivos à natalidade por parte da Câmara.
FOZ DO ARELHO CAPITAL DO VENTO
Seguiram-se mais propostas. Rodrigo Amaro (JSD) propôs a criação de um gabinete para ajudar os finalistas da ESAD a desenvolver os seus projectos nas Caldas e ficarem a viver na cidade. E Miguel Horta (JP) veio dizer que, tal como Peniche e Nazaré têm a onda, a Foz do Arelho poderia ter o vento. “Porque não fazer de um problema uma solução?”, questionou, apresentando a Foz e a Lagoa de Óbidos como locais ideais para a prática de windsurf e kitesurf. Pelas 22h30 Luis Sá Lopes interrompeu os trabalhos por dez minutos para que, em conferência de líderes, as três forças políticas discutissem as suas propostas e as reformulassem por consenso. Do resultado da reunião saíram três propostas: a criação de uma Escola Profissional de Teatro, que foi rejeitada (2 votos a favor do BE, 4 contra da JSD e 7 abstenções da JP), criação de um gabinete técnico de apoio aos estudantes da ESAD (aprovada por 11 votos da JSD e JP e 2 contra do BE) e medidas de arrendamento jovem na Rua Francisco Sá Carneiro, onde pontuam muitas lojas vazias. Esta última foi aprovada com 4 votos da JSD e a abstenção do BE e JP. O segundo e último ponto da ordem de trabalhos previa a aprovação das três melhores propostas, inovadoras e criativas, para o desenvolvimento
do concelho. A criação de um Banco de Artes foi a única proposta da noite aprovada por unanimidade, seguindo-se a Foz do Arelho Capital do Vento, que teve 12 votos favoráveis e uma abstenção do BE, e o roteiro de Street Art que teve os 4 votos da JSD, um voto contra do BE e a abstenção da JP e de uma deputada do BE. A proposta da compra conjunta de uma draga só teve os 2 votos favoráveis do BE, três abstenções e oito votos contra. Questionado pelo representante da JSD sobre qual o vínculo da Câmara a estas propostas dos jovens, o vereador Alberto Pereira, respondeu que estava sozinho e que o executivo era um órgão colegial, tendo, contudo, considerado que as mesmas eram “muito interessantes”. Já Luís Ribeiro, presidente da Assembleia Municipal das Caldas, desafiou os jovens a apresentarem estas mesmas propostas através dos seus representantes na Assembleia a sério ou enquanto munícipes no período de antes da ordem do dia. Terminou recordando que estavam todos ali porque existiu há 42 anos o 25 de Abril, que permitiu que as pessoas passassem a exprimir livremente as suas opiniões.
Carlos Cipriano
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