Já há uma petição contra a concessão da Fortaleza de Peniche a privados

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Forte de Peniche
O destino a dar à antiga prisão política é polémico e divide o próprio PCP |Solange Filipe

Foi polémica a decisão do governo de inserir a Fortaleza de Peniche na lista dos imóveis do Estado a concessionar a privados. A primeira polémica surge no próprio PCP – um partido tradicionalmente pouco atreito a divisões internas – com a estrutura local de Peniche a concordar com esta solução, ao contrário da direcção nacional que entende que se deve preservar a memória da antiga prisão política.
Em Peniche, o PS e o PSD são também a favor da concessão, mas os opositores a essa ideia já se organizaram num abaixo assinado que, na passada segunda-feira, já tinha reunido 3500 assinaturas.

A Direcção de Organização Regional de Leiria (DORLEI) do PCP repudiou a concessão de “um conjunto de edifícios que pelas suas características históricas e simbólicas são parte integrante do património histórico e cultural português, constituindo elementos centrais da memória do povo e do país”.
Em particular o PCP aponta a Fortaleza de Peniche, enquanto “testemunho edificado da violenta repressão do regime fascista, e simultaneamente símbolo maior da heróica resistência de milhares de democratas, patriotas e resistentes antifascistas”.
Num comunicado, este partido afirma que esta decisão “constitui uma opção de desinvestimento público na cada vez mais necessária  preservação da memória histórica e da defesa da democracia”. Considera também que esta é “uma lamentável atitude de desprezo para com a memória e honra de todos aqueles que, muitas vezes com a própria vida, lutaram durante quase meio século pela liberdade”.
Sublinham que aquela fortaleza “é um dos mais importantes edifícios históricos do distrito e do país que reportam à luta contra o fascismo” e que é também “o mais importante monumento de Peniche”.
Por isso, consideram que “entregar o forte à gestão privada para fins hoteleiros é separar o que não pode ser separado: o povo de Peniche da sua memória histórica”.
A DORLEI reitera a exigência do PCP “de suspensão dos concursos já lançados ou a lançar”. Além disso, sublinham que o governo tem de assumir as suas responsabilidades na valorização do espaço e de divulgação da sua função repressiva.

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PSD APLAUDE A DECISÃO

Se o PCP repudia, o PSD aplaude a decisão. Filipe Sales, presidente do PSD local, diz que o acto de concessão “será inequivocamente bom para Peniche”.
Recordando que esta é uma ideia antiga, já com 15 anos (quando o grupo Pestana pretendia avançar com uma pousada), disse que espera que “surjam investidores disponíveis para dar à Fortaleza a dignidade que o município não conseguiu”.
E tendo em conta a reacção do PCP, o PSD entende que “fica cada vez mais claro porque é que até hoje não se instalou uma pousada ou um hotel na Fortaleza” acusando os comunistas de porem “o preconceito ideológico acima da preservação daquele espaço emblemático”.
Os sociais-democratas defendem a gestão partilhada daquele espaço e dizem que a concessão “não impede a manutenção da identidade da Fortaleza”.
O PSD Peniche diz que “se deve aproveitar esta oportunidade para a reabilitação da fortaleza, depois de se terem desperdiçado muitas oportunidades, o que redundou no evidente estado de degradação do imóvel”.
A autarquia, bem como o PCP e o PS locais, também são a favor da concessão. Já a União de Resistentes Antifascistas Portugueses é contra a concessão.

Revive a conta gotas

A lista dos 30 imóveis do Estado que deverão ser concessionados a privados no âmbito do programa Revive, vai sendo conhecida a conta gotas. Os primeiros foram os Pavilhões do Parque e o Convento de S. Paulo (Elvas), conhecem-se já mais oito, sendo que os restantes 19 serão anunciados até ao final do ano. Eis a lista completa até ao momento:
– Pavilhões do Parque (Caldas da Rainha)
– Convento de S. Paulo (Elvas)
– Fortaleza de Peniche
– Mosteiro de Santa Clara-a-Nova (Coimbra)
– Castelo de Vila Nova de Cerveira
– Mosteiro de São Salvador de Travanca (Amarante)
– Mosteiro de Arouca
– Paço Real de Caxias (Oeiras)
– Forte do Guincho (Cascais)
– Castelo de Portalegre
– Quinta do Paço de Valverde (Évora)

 

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