Antigo administrador hospitalar defendeu a construção de um novo hospital nas Caldas e a utilização das atuais instalações para Hospital Termal. Na primeira Assembleia do mandato foi aprovada a assunção de encargos plurianuais depois da oposição pedir documentação mais informativa
“As Caldas, como segunda cidade do distrito de Leiria merece um hospital”, defendeu o antigo administrador do Centro Hospitalar, Jorge Varandas, que exerceu funções nas Caldas durante a década de 80. O técnico superior do ministério da Saúde, já reformado, e que foi também vereador na autarquia caldense, foi convidado pelo presidente da Assembleia Municipal, Fernando Costa, para refletir sobre o legado da rainha D. Leonor e a temática dos hospitais, um dia depois de se assinalarem os 500 anos da sua morte.
Lembra que a necessidade de um hospital distrital data do tempo em que ele exerceu funções nas Caldas e que este não se concretizou por “decisões de natureza política”, defendendo que as Caldas está agora em condições de “pedir o fim dessa desigualdade” em relação a outras segundas maiores cidades distritais, que já foram contempladas com a infraestrutura.
Na sua intervenção, Jorge Varandas deixou ainda o desafio de, caso se construa um novo hospital (como defende), que as atuais instalações da unidade hospitalar caldense possam ser utilizadas como hospital termal. Recordou que quando esteve à frente do hospital foi elaborado um estudo e proposta de medidas para a recuperação do hospital termal que, no seu entender, não deverá ser apenas uma estância termal. Lembrou que já possuiu camas de reabilitação, “que tinham duas faces, por um lado tratar o doente mais cedo e mais eficazmente, e também para libertar camas do hospital distrital” e considera um “prejuízo grande” terem terminado com esse apoio. Jorge Varandas entende que o Hospital Termal “pode recuperar esse papel e ser uma unidade útil no contexto do SNS porque trata os doentes com recursos limitados, o seu tratamento é barato e é eficaz para aquelas situações a que o hospital serve”. Entende que tornar o hospital termal apenas numa estância termal é entrar em concorrência com S. Pedro do Sul e recordou a “história impensável”, de quando os “interesses hoteleiros sobrepuseram-se aos das Caldas através da entidade da Geologia e Minas, que indicaram para aqui um técnico para verificar a qualidade das águas e o que ele fazia era inquinar as amostras que iam para análise”. O responsável denunciou que “durante algum tempo o hospital esteve fechado porque a entidade tutelar, com interesses na hotelaria de S. Pedro do Sul, resolveu fechar as [termas] das Caldas”, recomendando o seu funcionamento.
Os representantes de todos os partidos, assim como a vereadora da Cultura e o presidente da Assembleia Municipal, usaram da palavra, numa defesa do hospital, da história das Caldas ligada à saúde, mas também ao legado de D. Leonor.
Oposição pede mais informação
Nesta primeira sessão pública extraordinária da Assembleia (realizada a 19 de novembro) foi aprovado por maioria, com os votos contra do Chega e a abstenção do PSD, a autorização para a assunção de compromissos e encargos plurianuais. O ponto gerou alguma discussão, com os partidos da oposição a pedirem mais informação aos serviços sobre os documentos para análise na Assembleia e, inclusive, a propor que o assunto pudesse passar para a reunião seguinte para obterem mais esclarecimentos, o que acabou por não acontecer.
De acordo com o deputado do PSD, António Cipriano, nos últimos quatro anos “houve um acréscimo substancial da despesa do município”, pedindo um controlo da despesa corrente. Defendeu a necessidade de aproveitar os recursos internos da Câmara e questionou se as 17 aquisições de serviços, previstas no documento e que para 2026 totalizam mais de 537 mil euros, são essenciais?
Também o deputado do Chega, Miguel Matos Chaves, considerou insuficiente a informação facultada e manifestou que se a Câmara possui serviços jurídicos não faz sentido contratar gabinetes externos. “Fomos eleitos para fiscalizar, mas para o fazer temos de ter conhecimento das coisas”, corroborou o deputado do CDS-PP, Manuel Isaac, pedindo mais esclarecimentos, que viriam a ser prestados pelo presidente da Câmara. Vítor Marques lembrou que “todos estes processos já vêm de trás, de mandatos anteriores”, questionando porque consideram que “estamos a gastar mal agora o que outros gastaram bem noutra altura?”.
O autarca deixou a garantia de que é “muito cauteloso com o dinheiro” e que o facto da Câmara ter atualmente mais competências obriga a ter mais despesas correntes. “Aquilo que estamos a fazer é um trabalho de continuidade. Nenhuma contratação é nova, pretendemos continuar que os serviços funcionem”, disse, fazendo notar que a Câmara tinha autonomia para contratar aqueles serviços, sem ter de os levar para aprovação da Assembleia Municipal.
Os presidentes de junta de freguesia utilizaram o período que lhes foi destinado para apresentar as dificuldades dos seus territórios e fizeram votos para que a Assembleia “se preocupe mais com os problemas das freguesias rurais”.
Na reunião, que foi assistida por uma turma da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, o PSD apresentou um voto de louvor a Felisberto Barros Rogério, com 36 anos de serviço autárquico ininterrupto, em Alvorninha, aprovado por unanimidade e foram ainda aprovados votos de pesar pelo falecimento de Francisco Pinto Balsemão e Laborinho Lúcio, apresentados pelo VM.
Congratulação pelo centenário da Gazeta das Caldas
Os deputados municipais aprovaram, por unanimidade, um voto de congratulação pelo centenário da Gazeta das Caldas. A proposta, apresentada pelo VM, destaca os 100 anos de publicação ininterrupta, constituindo-se como um dos mais “antigos e prestigiados títulos da imprensa regional em Portugal”. Considerando os desafios que a comunicação social local enfrenta atualmente, saúdam todos quantos contribuíram para a sua afirmação e continuidade, valorizando o seu papel na defesa do interesse público e na afirmação da identidade caldense. A proposta sublinha os “graves desafios” que hoje se colocam à imprensa local e regional, destacando a necessidade de respostas “responsáveis e concertadas que permitam garantir a sustentabilidade económica, a liberdade editorial e a dignidade profissional de quem trabalha nos meios de comunicação de proximidade”. Deixa um apelo aos responsáveis sociais, culturais, económicos e políticos do concelho e da região para que, no “âmbito das suas competências, opções e parcerias, contribuam ativamente para a sobrevivência e o reforço da imprensa local — nomeadamente através de assinaturas, contratação de serviços, publicidade institucional e apoio a projetos editoriais e de inovação digital, assim como um incentivo à Câmara para “prosseguir políticas de apoio transparente à comunicação social local, reconhecendo o seu papel de interesse público e estimulando a criação de condições para que a Gazeta das Caldas e outros órgãos locais possam continuar a servir as populações”. Foi igualmente aprovado um voto de congratulação pelo centenário da Volta a Portugal a Cavalo e da vitória do caldense José Tanganho. Para além de realçar o feito desportivo e de projeção da cidade, o voto saúda a recreação do percurso, pelo seu bisneto, Pedro Bernardo, e João Belga, e o contributo da Gazeta das Caldas e de todas as instituições e pessoas envolvidas na investigação, divulgação e comemoração deste centenário, sublinhando a importância do trabalho de preservação da memória histórica local.































