“Há 70 hectares de terrenos agrícolas que estão a ser regados por água da barragem”

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2015-07-10 014 copyA Junta de Alvorninha é a única do concelho que tem receitas próprias de quase o dobro do que recebe de transferências do Estado. Isso graças ao Mercado de Santana, mas o presidente, Avelino Custódio, salienta que também têm muitas despesas para reparar os inúmeros caminhos agrícolas da freguesia.
São 3763 hectares, com 3900 habitantes em 52 lugares, com mais de 70 quilómetros de caminhos agrícolas.
Este é o primeiro mandato de Avelino Custódio como presidente, depois de 16 anos em que foi tesoureiro. Natural de Zambujal, em Alvorninha, esteve durante 12 anos a trabalhar em cruzeiros na América do Norte, mas voltou para a sua terra natal.
Desde que voltou dedicou-se um pouco à agricultura, a grande riqueza daquela freguesia, onde foi inaugurada, há 10 anos, uma barragem que ainda hoje não está oficialmente terminada.

AVELINO CUSTÓDIO
65 ANOS
ELEITO PELO PSD
PRIMEIRO MANDATO
PROFISSÃO: EMPRESÁRIO AGRÍCOLA
CASADO

Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt

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GAZETA DAS CALDAS: Foi tesoureiro da Junta durante quatro mandatos e foi convidado a candidatar-se pelo PSD, depois de Virgílio Leal não se poder recandidatar. É um mandato de continuidade?
AVELINO CUSTÓDIO: É uma continuidade de um trabalho que vem sendo feito ao longo destes anos e em que havia algumas coisas em que ainda gostaríamos de fazer. Por isso aceitei ser o candidato e tentar acabar essas obras.

GC:  Quais são essas obras?
AC: Falo, por exemplo, apesar de não ser uma obra que tenha a ver directamente connosco e sim através da Associação de Desenvolvimento Social da Freguesia de Alvorninha, que é o lar.
Eu recordo-me que na primeira reunião que tive aqui na Junta com Virgílio Leal, há 16 anos, o que falámos é que era muito importante para a freguesia termos um pavilhão gimnodesportivo (o qual já temos a funcionar), uma escola com boas condições onde pudessem estar todas as crianças da freguesia (o que também já temos) e o lar, cuja obra vai iniciar-se nos próximos meses.

GC:  E que outras obras pretendem fazer?
AC: Algumas já foram feitas neste mandato. Em 2014 reabilitámos a estrada que liga a Trabalhia a Alvorninha, agora devidamente pintada, como nunca tinha sido. Desta vez fizemos a repavimentação e colocámos a sinalização horizontal no pavimento. Também já construímos as casas de banho novas no cemitério.
Foi-nos cedido o edifício da antiga escola primária da Laranjeira onde criámos uma espécie de armazém da Junta, com uma garagem para os nossos veículos.
Queremos fazer um novo acesso ao primeiro andar deste edifício, onde funciona a Junta de Freguesia, com uma rampa para os idosos e pessoas com cadeira de rodas.
Outro projecto é a construção de um anfiteatro em frente à Junta de Freguesia.
Há ainda algumas pequenas obras que pretendemos fazer, como as novas bancadas para o pavilhão e também a alteração do sistema de luzes desta infra-estrutura, que tem um consumo de energia eléctrica muito elevado. Vão ser instalados LEDs.

GC: Qual foi a importância da construção do pavilhão gimnodesportivo?
AC: O pavilhão tem sido muito utilizado por vários grupos que vêm aqui praticar desporto à noite. Durante o dia são as crianças da escola que aqui estão a ter aulas. Todos os anos realizamos um torneio de futsal inter-freguesias.
Com a construção do pavilhão formou-se mais uma colectividade na freguesia, a Associação Desportiva de Alvorninha, que este ano tinha quatro equipas federadas e vai passar a ter cinco.
Tudo isto envolve muitas pessoas e para os jovens é muito melhor estarem a praticar desporto no pavilhão do que a fazerem outras coisas menos aconselháveis.

“Temos cerca de 52 lugares e a orografia é muito complicada”

GC:  Um dos principais problemas desta freguesia é a forma como a população está muito dispersa?
AC: Sim, na freguesia de Alvorninha temos cerca de 52 lugares e a orografia também é muito complicada, estamos entre dois montes e dois vales.
Isso torna-se ainda mais complicado quando existe muita agricultura e é preciso reparar os vários caminhos rurais. Muitas vezes tivemos as máquinas a reparar um caminho e depois vem uma trovoada, no dia seguinte, estraga tudo. Isto derivado à inclinação dos caminhos. É muito difícil manter tudo em ordem, mas é o que tentamos fazer e acho que conseguimos.
Na última reunião de Junta estava até a comentar com os meus colegas que neste mandato ainda só tinham estado três fregueses nestas reuniões. Isso significa que estamos atentos e que falamos com as pessoas, não sendo por isso necessário que estas se desloquem à noite à Junta para verem os seus problemas resolvidos.
Eu ando muito pela freguesia e falo com toda a gente. Ainda antes de vir para esta entrevista, estive nos Baixinhos onde estamos a arranjar um caminho agrícola.

GC:  Como lida com as pessoas que são mais críticas da sua prestação como presidente de Junta?
AC: Eu lido bem com as pessoas. Já antes, quando estava na vida marítima nos Estados Unidos, tive muitos contactos com as pessoas e aprendi lidar com elas.
Normalmente, quando alguém se vem queixar, à partida tem razão e por isso temos que aceitar a crítica, para depois saber explicar o nosso ponto de vista e tentar resolver o problema. Tenho uma boa relação com as pessoas e gosto muito do serviço público.

GC: Quais são as principais reivindicações? Ainda é o alcatroamento das estradas?
AC: Agora já não é, porque nós fizemos muitos quilómetros durantes os últimos mandatos. O que temos que fazer agora é a repavimentação e a reparação de estradas.
Durante este Verão vamos repavimentar a estrada que liga Vale Serrão à Ramalhosa. As pessoas têm razão em reclamar, porque a estrada está muito danificada. Uma parte da estrada entre a Moita e Chiote também será reparada. São estradas com muito movimento.
GC:  E que outras questões têm conseguido resolver?
AC: Na parte da saúde nós temos conseguido manter o posto de saúde aberto. A Dra. Neuza tem feito um excelente trabalho e as pessoas gostam dela. A médica terminava o contrato em Junho, mas antes disso tive uma reunião com a dra. Ana Pisco (directora do ACES Oeste Norte) que me confirmou que esta iria continuar em Alvorninha.
É uma questão que sempre nos preocupou para poder dar assistência à nossa população. Alvorninha tem uma população muito idosa e com necessidade de médicos.
Actualmente, desde há cerca de ano e meio, o assistente administrativo do posto médico é suportado pela Junta de Freguesia, uma vez que o ACES não tinha disponibilidade de um funcionário. Essa foi a única hipótese de manter o posto a funcionar.
A nova escola também funciona muito bem. O único problema tem a ver com a sua localização, mas foi o terreno possível de adquirir.

RECEITAS DO MERCADO DE SANTANA RONDAM OS 360 MIL EUROS

GC: Qual é o orçamento da Junta de Freguesia?
AC: Em 2015 o orçamento é de 539 mil euros.

GC:  É um orçamento considerável, tendo em conta as outras juntas de freguesia do concelho.
AC: Sim, é. Nós temos o Mercado de Santana, de onde vêm verbas que nos aumentam o orçamento. Se não tivéssemos receitas próprias, o orçamento seria na ordem dos 180 mil euros.
No entanto, o Mercado de Santana já não é o que era, derivado à conjuntura do país. A crise tem-se feito sentir em todo o lado.
Mesmo assim, do que vou falando com os vendedores, eles dizem que este ainda é um dos mercados em que se consegue trabalhar e vender. Fico sempre contente por me dizerem isso.
O número de vendedores não diminuiu, mas estes têm tido mais dificuldades em pagar as suas quotas.

GC:  Que obras de melhoramentos estão previstas no Mercado de Santana?
AC: Temos um projecto para criar um novo posto de atendimento, que seja digno. A ideia é termos um espaço para recebermos os vendedores e para a GNR atender as pessoas.
Actualmente só temos uma pequena “casinha” onde estão duas senhoras para fazer as entradas dos vendedores. Queremos ter um espaço mais agradável e digno para atendermos as pessoas.

GC:  Quais são as principais despesas da Junta?
AC: Para além das despesas com pessoal, um dos principais gastos é com os caminhos agrícolas. Temos cerca de 70 quilómetros de estradas brancas (“tout-venant”). Embora de 15 em 15 dias as máquinas da Câmara estejam ao fim-de-semana na freguesia para fazer reparações, temos que muitas vezes alugar maquinaria a privados para outras reparações.
Como somos uma freguesia agrícola, temos de criar condições para que os agricultores possam trabalhar.

GC:  Qual é a situação actual da barragem de Alvorninha?
AC: Felizmente, este ano todos os agricultores têm acesso à água da barragem. Há 70 hectares de terrenos agrícolas que estão a ser regados por água da barragem.
No entanto, a infraestrutura ainda não está entregue à junta de regantes, após 10 anos de barragem, por causa de problemas na obra.
Não é que haja problema de ruptura, porque a barragem está assim há alguns anos e tem-se mantido.
Ainda este Inverno tivemos que ir despejando, a pouco e pouco, a barragem, mas conseguimos manter água suficiente para os agricultores poderem regar os seus campos.
De facto, esta água é um bem que não se pode desperdiçar e sei que estão a ser feitos todos os esforços para que o problema seja resolvido. Está a ser feita uma nova candidatura, a fundos comunitários, para obras na barragem.

GC:  Como é que é a relação com a oposição na Assembleia de Freguesia?
AC: Tenho uma excelente relação com eles. Dão as suas sugestões e eu tento ouvi-los. Eu acho que é bom haver oposição porque às vezes há questões que nos passam despercebidas.

GC:  Tenciona recandidatar-se?
AC: Eu penso que não. Estou prestes a chegar aos 66 anos e quando aceitei candidatar-me fi-lo porque sabia que não era fácil a transição depois da saída de Virgílio Leal.
Mas depois de 16 anos como tesoureiro e quatro anos como presidente, penso que já dei o meu contributo a esta freguesia. Não estou a pensar em recandidatar-me, mas não sei isso poderá ou não acontecer.

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