França é um país muito importante para Portugal, até porque aí vivem vários milhões de portugueses e seus descendentes, tal como é um dos países fundadores e mais influenciadores na vida europeia, espaço político, económico, social e cultural em que Portugal está integrado desde 1986.
Mas mesmo que esta última ligação não acontecesse, a França sempre teve uma importância fundamental para Portugal, como o mesmo acontece com a Espanha e o Reino Unido, em que alterações aí ocorridas têm sempre consequências profundas no nosso país.
Assim, o confronto no passado domingo entre dois candidatos eventualmente inesperados, à primeira vista, mas que a história recente daquele país justifica, criou em Portugal fortes expectativas e alguma ansiedade, quer entre os políticos quer na população em geral. Os nossos emigrantes em França também sentiram, à sua maneira, o ocorrido. A vitória de Macron ou de Le Pen teriam para nós e para a Europa consequências muito diferentes, mas como iremos constatar por esta inquirição que a Gazeta das Caldas fez aos candidatos conhecidos para as autarquias de Caldas da Rainha e Óbidos, tinha à partida uma questão comum: nenhum gostaria de ver Marine Le Pen à frente dos destinos de França. Neste ponto houve unanimidade. Depois a escolha de Macron, que veio a consagrar-se Presidente por uma margem confortável, continua a não ser muito consensual, quer em França, quer entre os nossos candidatos.
Gazeta das Caldas interrogou na sexta-feira da passada semana todos os candidatos anunciados das Caldas da Rainha e de Óbidos sobre quem esperavam que ganhasse as eleições no domingo em França. Unanimidade nas respostas e todos acertaram: Macron.
Já à pergunta de quem gostariam que ganhasse, enquanto que os candidatos mais à direita eram unânimes em Macron, os candidatos posicionados mais à esquerda repartiam-se entre “desejo que ganhe o Macron, pois não quer que ganhe a Le Pen” (José Carlos Faria – CDU), “desejo que ganhe Macron como o menor dos males” (Lino Romão – BE) e “nenhum” (Rui Raposo – CDU).
Na segunda-feira desta semana, novamente contactados, todos ficaram satisfeitos com os resultados, tendo os candidatos mais à esquerda colocado dúvidas sobre a futura acção do presidente eleito, Emanuel Macron.
Ficam aqui os respectivos comentários, que colocamos por ordem alfabética dos candidatos e das autarquias.
CALDAS DA RAINHA

Carlos Faria (CDU) – “O ventre imundo donde saiu a besta do fascismo ainda é fecundo…”
“Mais do que a vitória de Macron, candidato dito centrista (quando se diz não ser de Esquerda nem de Direita só uma coisa será segura: a certeza absoluta que não se é de Esquerda), é a derrota eleitoral da proposta política representada pela senhora Le Pen que constitui um factor muito positivo.
Mas não nos iludamos: A Frente Nacional tornou-se a maior força partidária francesa e Le Pen reuniu mais de 11 milhões de votos, duplicando o resultado que o pai tinha obtido na 2ª volta, contra Chirac.
Como dizia Brecht, o ventre imundo donde saiu a besta do fascismo ainda é fecundo… “

Lino Romão (BE) – “Curto suspiro de alívio pela derrota da extrema direita”
“A vitória de Emmanuel Macron não inspira grande entusiasmo. Antes gera apenas um curto suspiro de alívio pela derrota da extrema direita. Macron representa os últimos 25 anos de ultra-liberalismo que trouxe a Europa ao beco político em que se encontra. Foi esta Europa construída pela perda de direitos laborais e sociais e de empobrecimento das populações para enriquecimento das grandes corporações, esta Europa dos “mercados”, da finança à frente dos povos, que ressuscitou a extrema direita do caixote do lixo da história. Será a partir da desagregação do centro político, reflectida na primeira volta, que se fará a recomposição de forças nos próximos tempos.
Se Macron persistir no caminho que lhe conhecemos até aqui, com a sua doutrina anti-laboral, estamos perante o risco desta derrota da extrema direita não passar de um breve adiamento da sua chegada ao poder. A terceira volta começa já esta semana, com a mobilização do movimento de esquerda de Jean-Luc Mélenchon, que foi a grande novidade que emergiu destas eleições: A França Insubmissa, com um programa abertamente anti-racista, de defesa de todos os franceses mas também dos imigrantes, comprometido com o Estado Social e em confronto com os Tratados Europeus e com as regras do Euro.”

Luis Patacho (PS) – “Acordámos um pouco mais aliviados com a derrota da extrema-direita”
“No day after das eleições Presidenciais francesas acordámos um pouco mais aliviados com a derrota da extrema-direita nacionalista, xenófoba e racista.
A esmagadora maioria do povo francês é cosmopolita, europeísta e amante da liberdade, como ficou demonstrado. E isso só não ficou ainda mais expresso nas urnas porque muitos dos que votaram na extrema-direita, em França como, de resto, noutros países, fizeram-no unicamente em protesto contra o sistema, sem refletirem no perigo dessa opção ou fazendo-o levianamente.
Vão-se sucedendo os avisos aos democratas um pouco por todo o mundo livre de que é absolutamente necessário reinventarmos os nossos sistemas democráticos, aproximando os cidadãos da participação e, sobretudo, das decisões políticas que lhes dizem respeito, em nome dos quais são tomadas.
A velha Europa, adoentada como anda, não aguenta muitos mais sobressaltos destes. Sob pena de um dia não muito distante acordarmos num mundo cinzento, garrotado e muito, muito perigoso.
Envolver as pessoas, humanizar, recentrar a ética na política, combater eficazmente a corrupção e denunciar o populismo. Creio ser este o caldo necessário para um novo paradigma de organização político-administrativa.
Não estou certo de que Emmanuel Macron seja a personalidade que a França e a Europa precisam para dar um novo impulso mais solidário, humanista e igualitário à construção europeia. Mas defende os ideais da democracia e da República que a França projetou ao mundo; contrariamente à sua salazarenta oponente. E isso faz toda a diferença.
Desejo-lhe sorte.”

Rui Gonçalves (CDS-PP) – “Não vejo motivos para descansar, quando uma candidata e uma força totalitária alcançam valores tão elevados”
“Para bem da humanidade, acabou por vencer a democracia e os valores que melhor servem uma sociedade, que se pretende desenvolvida. No entanto, infelizmente não vejo motivos para descansar, quando uma candidata e uma força totalitária, num país como a França, alcançam valores tão elevados de votação e recolhem aceitação de mais de 11 milhões de eleitores. Se as forças políticas do espectro democrático, de toda a Europa, não perceberem que a sua forma de actuar é a causa desta evolução e arrepiarem rapidamente caminho, tudo se vai continuar a agravar e não há motivos para descansar. As eleições legislativas em França, serão mais um sério sinal sobre o que poderemos esperar no futuro.”

Tinta Ferreira (PSD) – “Com este resultado ainda é possível dar continuidade ao Projecto Europeu”
“Sim, fiquei satisfeito com a vitória de Emmanuel Macron nas eleições legislativas francesas. Fiquei satisfeito primeiro porque considero que, em função das alternativas colocadas, este é o melhor caminho para França, para os franceses e para todos aqueles que ali vivem ou trabalham, aqui incluindo milhões de portugueses e seus descendentes, entre os quais muitos caldenses.
Fico ainda satisfeito porque com este resultado ainda é possível dar continuidade ao Projecto Europeu. Acredito numa Europa unida que seja um instrumento de paz e prosperidade e o futuro Presidente da República Francesa terá uma grande responsabilidade na redefinição do futuro da União Europeia, tornando-a mais atractiva e próxima dos cidadãos, contribuindo para uma redução dos extremismos redutores de direitos, liberdades e garantias.”
Óbidos

Carlos Pinto Machado (CDS-PP) – “Vitória da democracia e da tolerância face ao extremismo”
“Congratulo-me com a vitória do centrista Macron, pois é a vitória da democracia e da tolerância face ao extremismo.”
Humberto Marques (PSD) – “Necessitamos de uma Europa mais solidária e atenta às diferenças entre Estados membros”
“Não é uma questão de satisfação, mas de maior tranquilidade. Macron era o candidato mais moderado, com um discurso pró-europeu, que é preciso neste momento discutir em profundidade na União Europeia. Necessitamos de uma Europa mais solidária e atenta às diferenças entre Estados membros. Naturalmente isto tem impactos económicos”.

Vitor Rodrigues (PS) – “Precisamos de mais Europa, mais coesão, mais solidariedade”
“Fiquei muito contente com o resultado das presidenciais francesas, obviamente. Fiquei mais contente com a derrota de Marine Le Pen do que com a vitória de Macron. Explico: a senhora Le Pen tem uma posição anti-Europa, a sua vitória seria o fracasso do projecto europeu, muito provavelmente. A França tem um lugar central na Europa e no projecto europeu, sem França não há Europa. E precisamos de mais Europa, mais coesão, mais solidariedade. Por outro lado, não me revejo nas políticas de extrema direita que defende.
Já quanto a E. Macron, fiquei feliz com a sua vitória, por ter afastado Le Pen do Eliseu. No entanto, penso que estamos perante um político de quem não sabemos ainda bem o que se pode esperar. Vamos ver como se materializa o seu discurso na prática, é um discurso que diz o que muitos querem ouvir, mas não sabemos como será no dia-a-dia. Por isto, e uma vez que o novo Presidente não tem retaguarda partidária definida, devemos esperar pelas legislativas francesas, e ver como ficará constituído o parlamento. A acção do presidente vai depender dos acordos e entendimentos que faça com as forças políticas com assento na Assembleia Nacional.”

Rui Raposo (CDU) – “Macron é mais do mesmo, de forma agravada, para os trabalhadores”
“Em primeiro lugar, considero como positivo o facto de Marine Le Pen, enquanto representante de um projecto de extrema-direita e xenófobo, ter merecido uma clara rejeição por parte do povo francês. Contudo, Macron, na presidência francesa, significa a continuação e aprofundamento de um projecto político estafado e causador da crise económica e social em França e que muito tem contribuído para fomentar o crescimento da extrema-direita.
Macron, contrariamente ao propalado, é mais do mesmo, de forma agravada, para os trabalhadores e o povo francês: exploração e retrocesso social em França. Defesa acrescida do projecto neoliberal, militarista e federalista da União Europeia. Nada de diferente, na defesa do grande capital, das governações anteriores de Sarkozy e Hollande.
Pode fazer-se a seguinte leitura dos resultados das presidenciais francesas: o estado de excepção, a profunda frustração popular face às repetidas promessas de mudança e a grande pressão e condicionamento político não deixam de expressar o descontentamento e o protesto do povo francês face às políticas que a direita e a social-democracia têm levado a cabo em França e na União Europeia e não legitimam o processo de integração capitalista europeu.”
J.L.A.S.






























