“Fez sentido a agregação das freguesias de Santa Ma ria, S. Pedro e Sobral da Lagoa porque ficam todas mais fortes”

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Gazeta das Caldas

DSC_0155João Rodrigues é presidente da União de Freguesias de Santa Maria, S. Pedro e Sobral da Lagoa, a única agregação existente no concelho e também a única que é socialista. Diz que não fez promessas eleitorais, até porque as autarquias de base estão muito limitadas nos seus financiamentos. No entanto, destaca várias obras que executou e outras que pretende concretizar nos próximos tempos, entre elas um armazém central que permitirá guardar todo o equipamento que a freguesia possui.
A degradação dos centros urbanos são a maior preocupação deste autarca, que vê com bons olhos a delegação de competências nas freguesias.
A União de Freguesias de Santa Maria, S. Pedro e Sobral da Lagoa foi constituída há dois anos e ocupa uma área de 37 quilómetros, que se estendem deste as antigas salinas do Arelho até aos Casais da Navalha, que faz fronteira com a freguesia da Usseira. É composta por 10 localidades, entre eles a vila de Óbidos, e possui cerca de 3800 habitantes.

 

João Paulo Rodrigues
Eleito como Independente pelo PS
Primeiro mandato
44 anos
Profissão: Gerente de actividade funerária
Casado, com dois filhos

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GAZETA DAS CALDAS – É presidente da única união de freguesias do concelho, que é também a mais populosa. Como está a correr o mandato autárquico?
JOÃO RODRIGUES – Está a correr bem. Quando começámos, e dado que as freguesias tinham sido agregadas, procurei centralizar todos os meios, tanto humanos como materiais. Depois desta união dos esforços é que sai todo o trabalho para os diversos lugares desta agregação de freguesias.

G.C. – Quais as promessas eleitorais que já cumpriu desde que tomou posse?
J.R. – Não fizemos promessas eleitorais. Fomos fazendo as obras e projectos que consideramos prioritários. Fizemos a obra de passagem do aqueduto e criámos um parque de merendas na zona do Bairro dos Arcos, onde também foi feita a Festa de S. Pedro.
A falta de instalações sanitárias nas capelas onde são feitos velórios levou a Junta a fazer obras no Pinhal e em Trás-do-Outeiro, esta última a terminar até 8 de Dezembro, altura em que se realiza a festa da aldeia. Também fizemos um telheiro na antiga escola do Bairro da Senhora da Luz onde está a decorrer o programa Melhor Idade.
Estamos a construir locais para a colocação dos ossários gerais nos cemitérios, nomeadamente no de Santa Maria e Sobral da Lagoa. Esta última está parada por falta de pessoal.
Na nossa serralharia temos vindo a fazer as estruturas para fixar os contentores do lixo, impedindo assim que tombem, como acontecia antes. Ainda este ano gostaria de finalizar a obra da fonte do Carregal. O material está comprado e logo que haja disponibilidade de pessoal, será feita.
Também houve alcatroamento nos Casais Brancos, que foi feito pela Câmara. A nós cabe-nos o papel de pressão para que as obras sejam executadas. Falta agora o da estrada da Capeleira e da antiga Estrada Real, entre o Pinhal de Óbidos e A-da-Gorda.
Há um contrato inter-administrativo com a Câmara para realizarmos a obra da ecopista de A-da-Gorda, que tem uma duração de três anos.

G.C. – O que lhe falta ainda fazer?
J.R. – Pedi à Câmara um terreno para fazer um armazém central. Foi sempre a minha prioridade, mas não está a ser fácil. A Câmara deu um terreno, mas ainda não foi protocolado e eu preciso dessa formalização para ter o financiamento. Além disso, o local, no Arelho, não reúne as melhores condições porque é no meio de residências, pelo que estou à procura de outra alternativa.
Gostaria ainda de fazer a requalificação do Largo de Trás-o-Outeiro e que deverá ser candidatado a fundos comunitários. Outra preocupação é a Curva do Anselmo, que é uma curva perigosa e com precipício junto aos Casais da Navalha, que tem piorado com o tempo. Precisa de um paredão e resguardos para os carros não resvalarem.
Este ano faremos também um presépio panorâmico na encosta do Sobral da Lagoa. As imagens terão cerca de seis metros cada, com o objectivo de serem visíveis da A8, e serão realizadas pelo artista plástico caldense Filipe Feijão.

G.C. – Acredita que a agregação das freguesias é um processo reversível?
J.R. – A Freguesia de Santa Maria antes englobava também as Gaeiras, que se autonomizou, tal como aconteceu com a Usseira em relação a S. Pedro. Agora temos um governo que decidiu agregar as freguesias. Eu acho que faz sentido haver agregações porque as freguesias ficam mais fortes. Por exemplo herdei das três freguesias três tratores, vendi um e adquiri uma máquina giratória e algumas alfaias, o que me permite rentabilizar o trabalho.
Em termos de pessoal também se acaba por fazer uma melhor gestão. Como os lugares são dispersos há uma funcionária que está na delegação do Sobral da Lagoa todas as manhãs de segunda a quinta-feira (e à sexta-feira à tarde) e durante as tardes faz a descentralização, com atendimento, pelos vários lugares. A sede, em Óbidos, está permanentemente aberta.

G.C. – Quais os principais problemas com que se depara?
J.R. – O grande problema é o facto de haver diversas casas degradadas nos vários lugares da freguesia. Preocupa-me bastante porque coloca em risco as pessoas e as restantes habitações. Existe alguma falta de civismo por parte das pessoas porque alertamos para a necessidade de vedar as portas e janelas e não o fazem, deixando as coisas ruir.
Também os lixos são um problema, pois as pessoas não têm o cuidado de os separar e colocá-los da melhor forma nos contentores.

G.C. – Como pensa resolvê-los?
J.R. – Fazemos a sensibilização para os problemas, até através do boletim informativo que editamos trimestralmente. Também colocamos a informação no local e alertamos as entidades responsáveis para agir.

“Não temos receitas para fazer grandes obras”

G.C. – O financiamento continua a ser o principal problema?
J.R. – Não temos receitas para fazer grandes obras. Estamos dependentes de um Fundo de Financiamento das Freguesias (FFF) que vai aguentar a casa, permitindo colmatar as despesas administrativas.

G.C. – Qual o orçamento da sua Junta de Freguesia?
J.R. – O orçamento anda à volta dos 320 mil euros. Do FFF recebemos 102 mil euros, os acordos de execução com a Câmara rondam os 178 mil euros e depois temos as receitas com o IMI, as licenças dos canídeos, a venda das sepulturas.

G.C. – Quantos funcionários tem a Junta? São suficientes?
J.R. – A Junta tem actualmente 10 funcionários, dos quais um está de licença sem vencimento. Temos mais duas pessoas a prestar serviços e agora vamos ter a vinda de mais duas pessoas, através de contratos de Emprego-Inserção (CEI).
É um número que nos permite trabalhar. Preciso de ter sempre três equipas, uma de cantoneiros e limpeza de valetas, que agora fazem também de jardineiros, uma equipa de pedreiros e os tratoristas. Tenho uma oficina equipada onde fazemos todo o trabalho de serralharia poupando-nos muitos custos.
Não são suficientes. O ideal seria 12.

G.C. – A delegação de competências é uma boa medida ou é um presente envenenado?
J.R. – Com mais competências, a Junta poderia fazer mais, mas tem que ser acompanhado pelo respectivo envelope financeiro. Os parques infantis, por exemplo, poderiam ser da responsabilidade das freguesias. A Câmara já informou que irá arranjá-los e depois protocolar com as juntas a sua manutenção e preservação.

G.C. – Como é o diálogo com o presidente da Câmara?
J.R. – É muito bom. Não temos que estar sempre a maçá-lo com os assuntos das freguesias porque estes estão delegados num vereador. Antes era um pelouro do vereador José Carlos Capinha, que fez um excelente trabalho e agora o seu substituto, José Pereira, está a seguir os seus passos. Tem estado a trabalhar bem connosco.

G.C. – Como estão as antigas escolas primárias que foram desactivadas?
J.R. – Estão todas reabilitadas. Em Trás-do-Outeiro estão os escuteiros, na da Capeleira está o rancho folclórico, nas do Bairro da Senhora da Luz e Sobral da Lagoa está a decorrer o programa Melhor Idade. As instalações das escolas de A-da-Gorda e do Arelho foram aproveitadas pelo jardim-de-infância.

G.C. – Este ano decorreu a primeira mostra gastronómica do Sobral, com o objectivo de promover a cebola. Como correu?
J.R. – Excelentemente bem! Envolvi-me a 200%, até porque a ideia foi minha, gosto muito de cebola e a do Sobral tem características únicas. Já tinham a festa da colheita, mas que se realizava apenas num dia. Então propus que se acrescentasse mais dias [entre 27 e 30 de Agosto] e que se experimentassem outras formas, como os doces feitos com cebola. É para continuar, embora com algumas alterações de modo a melhorá-la.
Depois fomos também convidados para estar presente na Feira Nacional da Cebola, em Rio Maior, com um stand, onde apresentámos o filme com o evento e demos os bolos de cebola a provar.
Agora estamos a trabalhar no sentido de registar os doces de cebola de modo a que possam ser comercializados. Tentar perceber que incentivos os particulares também podem ter para desenvolver os vários produtos, como é o caso das queijadas de cebola com canela, queques de pera com cebola, folhados e croissants de pera com cebola e até cebola bêbada.
Em termos da ANAFRE pretendo registar o nome do evento.

G.C. – A iniciativa pode ser replicada noutras localidades desta união de freguesias?
J.R. – No palco do Sobral deixei a intenção de fazer um evento do género, mas dedicado à fruta, na Capeleira. Agora vamos trabalhar a ideia com a associação da Capeleira e Navalha.
“Tenho vontade de me recandidatar”

G.C. – Como é o dia-a-dia de um presidente de Junta?
J.R. – É estafante, mas gosto. Em geral costumo ir ao armazém de manhã, inteiro-me do trabalho, resolvo o que é preciso e depois venho à Junta de Freguesia.
À tarde tento ir ver o andamento dos trabalhos e depois ainda há trabalho em casa, à noite.

G.C. – Quais são as maiores dificuldades com que se depara?
J.R. – A avaliação do pessoal.

G.C. – Como é que se meteu na política?
J.R. – Comecei por ser da JSD de Óbidos, com o Telmo Faria e o Humberto Marques. Depois surgiu o convite de José Carlos Araújo e Casimiro Marques, há 22 anos, para integrar a lista pelo PSD à freguesia de S. Pedro, onde estive durante três mandatos como tesoureiro. Nos primeiros oito anos trabalhámos com a Câmara socialista [de Pereira Júnior], sendo então a única freguesia do PSD. E não tenho nada a apontar.
Estive 12 anos na Junta de Freguesia e quando o presidente da Junta decidiu sair, sugeriu que eu fosse o candidato. A comissão política do PSD não entendeu o mesmo e convidou Luís da Costa, que tinha sido o anterior candidato pelo PS à Junta de freguesia, para encabeçar a lista do PSD.
Na altura não me foi dada nenhuma explicação por parte do Telmo [Faria] e decidi sair, porque senão até teria continuado. Deixei a política e não era para voltar, até que o Bernardo Rodrigues [candidato pelo PS à Câmara de Óbidos], que é meu amigo, me convidou, insistiu, e acabei por aceitar.

G.C. – Como tem sido o comportamento da oposição na Assembleia de Freguesia?
J.R. – Tem funcionado bem, temos um bom ambiente. Fazem o seu trabalho e acaba por ser um bom contributo. No boletim informativo que publicamos têm também voz.

G.C. – Nasceu nesta freguesia?
J.R. – Nasci na antiga freguesia de Santa Maria e sou residente na antiga freguesia de S. Pedro, e agora estão agregadas numa só.

G.C. – Tenciona recandidatar-se?
J.R. – Tenho vontade de me recandidatar porque em termos dos trabalhos ainda há muito por fazer, nomeadamente o armazém, o que não se adivinha que este possa ser concretizado nos próximos dois anos. Acaba por ser um bem que fica para a Junta de Freguesia e é uma necessidade que existe porque agora estamos a pagar uma renda pelo armazém que temos no Arelho.
Por outro lado, é difícil porque a actividade profissional recaiu muito sobre a minha mulher, que é o meu braço direito e ficou com todo o trabalho da agência funerária. O tempo o dirá.

G.C. – Como lida com as pessoas descontentes com a sua prestação?
J.R. – Ainda ninguém me demonstrou descontentamento. Às vezes pode haver atrasos nos trabalhos, mas isso prende-se com as prioridades e a falta de pessoal para fazer tudo no tempo de desejaríamos. O que peço às pessoas é paciência.

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