
Há quem diga que os 40 são os novos 30. Um bom exemplo é a festa do Avante! que celebrou este ano quatro décadas de existência, mas que – diz quem lá vai – está cada vez melhor. Em 2016 o Avante! apresenta-se também maior, com mais sete hectares de recinto, após a aquisição da Quinta do Cabo pelo PCP. No total são 35 hectares e três dias de festa (2 a 4 de Setembro).
Como manda a tradição, o PCP das Caldas organizou uma excursão de autocarro ao Seixal no domingo, que contou com a adesão de 20 caldenses. A maioria militantes. Os restantes 35 lugares foram ocupados pelos camaradas da Marinha Grande.
Entre quem participa na festa como voluntário, ajudando na sua organização, e quem vai apenas para usufruir do vasto programa, a opinião é a mesma: Não há festa como esta.
A partida para o Avante! está marcada para as 10h00 no largo da Rainha. Não há atrasos e, poucos minutos depois, os camaradas das Caldas da Rainha partem para a festa. Há pouca gente jovem, excepto os filhos que vêm acompanhar pais ou, principalmente, netos que fazem companhia aos avós. Para a maioria dos militantes caldenses, a ida ao Avante! é uma espécie de ritual, tão importante como para alguns católicos irem a Fátima todos os anos. De autocarro fretado pelo partido, que é a solução mais cómoda para ir das Caldas para o Seixal.
Que o diga Fernando Santa Bárbara, 73 anos, militante desde 1974, quando a revolução o permitiu. Há três anos que o caldense vai à festa de camioneta, por ser mais confortável, mas lembra-se bem dos tempos em que ia de carro particular e vivia intensamente os três dias do Avante!.
Este caldense chegou mesmo a participar como voluntário no evento, com a organização do Algarve, quando vivia nessa região do país. “Gostava à brava de aviar cervejas e cachorros”, conta, realçando que “é uma alegria muito grande sentir que se está do lado de dentro da festa”.
É com grande satisfação que o comunista vê a ampliação do recinto, uma conquista do partido que ganha um sentido especial tendo em conta que o PCP andou com o Avante! às costas até 1990, ano em que comprou a Quinta da Atalaia. Até então, a festa passou por Lisboa (antiga FIL, Jamor e Alto da Ajuda) e Loures. “Chegou a ser muito complicado enquanto os terrenos eram emprestados, principalmente quando já tínhamos tudo preparado e depois corriam connosco”, notou Fernando Santa Bárbara.
Para o militante, a festa de três dias representa a força que o partido tem, capaz de, com a união e vontade dos militantes, fazer erguer um evento de tamanha dimensão e diversidade. Na 40ª edição o Avante! apresentou um programa que incluiu 10 palcos, sete espaços (Central, Internacional, Juventude, Criança, Ciência, Livro e Disco, Artes), 15 representações distritais (e ainda as regiões autónomas dos Açores e Madeira) e os stands da Mulher, Imigração e Emigração. Concertos, debates, exposições, espectáculos de teatro e cinema: houve sempre actividades a decorrer e muitas delas ao mesmo tempo.
Para os que vão pela primeira vez fica a sensação que há um mundo por explorar em apenas três dias.
Embora a edição deste ano tenha sido ampliada em sete hectares, Fernando Santa Bárbara tem a sensação que nunca viu tanta gente. Seja nos auditórios, nos espaços de gastronomia, na rua, “vejo pessoas por todo o lado”.
Na sua opinião, ser comunista hoje é “defender os interesses fundamentais de todos nós em áreas como a saúde e a educação”. E acrescenta: “é preciso que as pessoas tenham mais carinho pelo partido, pois penso que ainda existe um certo receio e preconceito em relação ao comunismo”.
VIVER A FESTA DO LADO DO BALCÃO
Desde 1980 que Helena Reis é militante do PCP e participa no Avante!. Vem sempre como voluntária e diz com convicção que só no dia em que não se puder mexer por si mesma é que faltará a uma edição. Helena faz parte da equipa da Cafetaria das Caldas, composta por 15 pessoas ao longo dos três dias. Encarrega-se ora dos pequenos almoços, como de tirar imperiais, servir cafés, ou preparar sandes.
Confessa entusiasmada à Gazeta das Caldas que sente a festa como sendo dela. “É uma emoção inexplicável, como se estivesse a abrir as portas da minha casa para receber amigos. Faço-o com alegria e satisfação, mas também com alguma preocupação porque quero que corra tudo bem”, conta.
Embora sobre pouco tempo para usufruir do programa, este ano os voluntários que trabalham na Cafetaria das Caldas tiveram sorte. É que a Direcção Regional de Leiria encontra-se virada para o palco 25 de Abril, o principal do evento. Ana Moura, Sérgio Godinho e Jorge Palma, Xutos e Pontapés, Marta Ren e Diabo na Cruz, foram alguns dos artistas que animaram aquele espaço.
No domingo, os militantes caldenses também aplaudiram e ouviram de perto o discurso do líder Jerónimo de Sousa, juntando-se aos restantes camaradas para gritar “Pê Cê Pê”.
No espaço de Leiria, além da Cafetaria das Caldas, encontram-se sardinhas de Peniche, o vidro e o restaurante da Marinha Grande e as ginjas de Óbidos e Alcobaça, assim como os vinhos do Bombarral.
A decoração dos expositores foi feita com pinturas alusivas a várias profissões e excertos de poemas de Maiakovski, José Gomes Ferreira, Ary dos Santos e Vinicius de Moraes.
Vítor Fernandes, dirigente do PCP das Caldas, afirma que este ano a festa superou as expectativas, tendo sido vendidos 30 quilos de bifanas, 150 de sardinha e 15 barris de imperial. “Esteve sempre muito calor, o que também contribuiu para que as pessoas procurassem mais por bebidas frescas”, acrescenta.
Vítor Fernandes conta que em tempos, quando a ASAE não era tão rigorosa com a segurança e higiene dos pavilhões, o bar das Caldas chegou a confeccionar sopa, rissóis e pastéis de bacalhau.
“A única festa cultural de esquerda do país”
Já de regresso para as Caldas, marcado para as 21h30, Gazeta das Caldas senta-se no autocarro ao lado de Maria Tuscano, que vem da Marinha Grande, mas é da Figueira da Foz. “Já vim muitas vezes, inclusive acampei, mas esta é a minha estreia numa excursão de autocarro ao Avante!”, revela, acrescentando desde logo que não é militante, apenas simpatizante.
“O Avante! é a única festa cultural de esquerda do país e não é só para comunistas, embora a organização tenha um rosto assumido: o PCP”, conta esta professora universitária, que destaca o evento como transgeracional e transcultural. “Basta olhar à volta: esta não é uma festa só para cotas, só para punks ou rockeiros. É uma celebração onde toda a gente se revê”.


































