“Eu temo que nos próximos anos haja uma grande redução no número de habitantes na freguesia de Vidais”

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014Conseguir combater a desertificação da sua freguesia, que tem apenas 1200 habitantes, é uma das principais missões a que se propõe Virgílio Filipe, presidente da Junta dos Vidais.

Eleito para um segundo mandato há um ano e meio, o autarca, em vez de defender novas urbanizações, prefere que a autarquia compre algumas das casas abandonadas da aldeia e as reabilite para habitação social ou para jovens.

Virgílio Filipe tem ainda como principais projectos a construção de um novo polidesportivo, uma ligação da EN 114 a Alvorninha que retire o trânsito do centro de Vidais e a conclusão das obras de ampliação do cemitério.

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VIRGÍLIO CAETANO FILIPE

44 ANOS

ELEITO PELO PSD

SEGUNDO MANDATO

PROFISSÃO: EMPRESÁRIO (CARPINTARIA)

ESTADO CIVIL: CASADO, DOIS FILHOS

 

 

GAZETA DAS CALDAS: Quais foram as promessas eleitorais para este mandato que já conseguiu cumprir?

VIRGÍLIO FILIPE: Nós nunca estamos contentes, queremos sempre muito mais. Uma das principais promessas, que já vinha do mandato anterior, é a ampliação do cemitério, uma obra que está agora em fase de execução e que deve estar concluída dentro de dois meses.

Também colaborámos com as obras da capela do cemitério, que foram feitas pela paróquia local. O património paroquial precisa de apoio. São edifícios importantes que estão na freguesia e que não podemos perder. Dá uma imagem má à freguesia se deixarmos que estes fiquem abandonados.

Por isso, neste mandato apostámos muito em colaborar com a Fábrica da Igreja. Depois de todas as obras estarem concluídas, vamos fazer uma festa de inauguração com a paróquia.

Queremos fazer um novo polidesportivo. Já temos um, mas é da paróquia, e está num estado muito degradado. Foi um dos campos mais emblemáticos do concelho, onde decorreram grandes torneios. A minha proposta é fazer um protocolo com a paróquia e criar um parque de estacionamento para a igreja onde está o campo, fazendo um novo polidesportivo no largo Nª Sra. da Piedade [junto à sede da Junta de Freguesia].

O projecto irá ser feito em duas fases. Primeiro ficará descoberto, mas logo que seja possível poderemos avançar para a sua cobertura.

Na mesma altura vamos fazer a abertura de uma estrada que vai dar ligação a Alvorninha, retirando o trânsito do centro dos Vidais.

GC: Quais são os principais problemas da freguesia?

VF: O principal problema está a ser a desertificação. Somos uma freguesia muito idosa e isso preocupa-me bastante. Se calhar, 60% da população da freguesia tem mais de 50 anos.

Eu temo que nos próximos anos haja uma grande redução no número de habitantes.

GC: E o que espera fazer para combater essa desertificação?

VF: É uma questão em que nós temos pensado muito. Estamos abertos a sugestões, mas uma das possibilidades é criar condições para que as muitas casas abandonadas nos Vidais possam ser reabilitadas. Porque não comprar essas casas abandonadas, recuperá-las e vendê-las, em vez se pensar em fazer casas novas para habitação jovem?

É que se não tivermos população torna-se muito mais difícil trazer determinadas infraestruturas para a nossa freguesia. Há uns anos queríamos muito uma escola nova e afinal a desertificação fez com que esta não fosse necessária. É uma pena porque a nossa freguesia é sossegada, com ligações rápidas para todo o lado por causa da estrada nacional. Admiro-me que não haja uma maior procura de pessoas para virem aqui morar, estamos perto de tudo.

GC: Isso tem a ver também com o PDM?

VF: Claro. Isso prejudicou bastante o crescimento das freguesias rurais. Eu concordo que têm de existir regras, mas se já existem infraestruturas criadas (de água, luz e esgotos) não percebo porque é que não se pode construir. O PDM não devia ser decidido nos gabinetes, mas sim no terreno para perceberem o que existe.

GC: Teve quatro anos de experiência com o anterior presidente de Câmara, Fernando Costa. O que mudou com Tinta Ferreira?

VF: O Dr. Fernando Costa sempre ouviu os presidentes de Junta. Podia não dar logo a braço a torcer, mas tomava atenção às nossas preocupações.

O novo presidente, que era vereador e conhecia o que se passava no município, também ouve muito os presidentes de Junta.

No entanto, nós, presidentes das juntas rurais, achamos que neste primeiro mandato as freguesias da cidade estão a ser muito beneficiadas. Eu reconheço que as obras de regeneração urbana são importantes e todos queremos que a nossa cidade esteja bonita, mas não podemos esquecer as pessoas das freguesias rurais. Agora há que virar para as freguesias rurais também.

Isto não quer dizer que o actual presidente se tenha esquecido das freguesias rurais, porque tem colaborado e até nos delegou mais algumas competências. Está a fazer um trabalho excelente e tudo o que nós lhe transmitimos, ele toma atenção. Ele é que tem de gerir, mas nós queremos sempre mais.

“Vamos sempre lutar para que a extensão de saúde se mantenha a funcionar”

GC: Qual é o orçamento da Junta e quais são os principais gastos?

VF: Estamos com um orçamento de 185 mil euros. A principal despesa é com o pessoal: temos duas funcionárias, que estão na sede da Junta e ainda dois trabalhadores através do CEI (Contratos Emprego-Inserção).

Durante algum tempo uma das funcionárias do quadro esteve afecta à extensão de saúde dos Vidais, para que esta se mantivesse a funcionar. A extensão esteve sempre a funcionar muito bem, sem filas de espera, mas há cerca de dois anos o funcionário administrativo reformou-se e poderia ter fechado, caso a Junta de Freguesia não disponibilizasse alguém para a manter aberta.

A situação só foi resolvida há cerca de um mês com a transferência de uma funcionária do Centro de Saúde das Caldas para aqui. Durante este tempo a sede da Junta esteve só aberta parte do dia, mas era impensável deixar a extensão de Saúde fechar. Ainda bem que o fizemos. Vamos sempre lutar com unhas e dentes para que esta se mantenha a funcionar.

GC: Quais são os outros gastos que têm tido?

VF: Há cerca de dois anos adquirimos uma carrinha com báscula, mas temos também adquirido várias ferramentas eléctricas, como moto-serras. São compras importantes porque assim podemos fazer rapidamente vários trabalhos de manutenção.

“As freguesias que estão próximas deveriam juntar-se em projectos comuns”

GC: Desde o ano passado que a freguesia dos Vidais deixou de ter a escola do 1º Ciclo.

VF: É verdade. Com muita pena nossa, mas teve de encerrar por falta de crianças. Havia apenas 13 alunos.

Para nós é complicado perder-se todas as escolas da freguesia, mas também reconheci que para as nossas crianças não era bom o que estava a acontecer, com alunos de vários anos a terem aulas na mesma aula e com a mesma professora. Isso não era benéfico para as crianças.

Portanto, embora me tenha custado, não fiquei assim tão triste, porque reconheço que eles assim vão ficar mais bem preparados. Passaram todos para o Centro Escolar de Alvorninha, que está a dois quilómetros, e nós asseguramos o transporte. Estão com muito melhores condições e se foi feito um investimento ali temos de o rentabilizar.

Eu defenso isso, mesmo que haja pessoas que me podem condenar. É importante que um presidente de Junta puxe o mais possível pela sua freguesia, mas eu entendo que devemos deixar a mentalidade de querer ter tudo.

Há muitos anos que essa mentalidade deveria ter acabado. Por isso é que agora há coisas que são novas e que estão a fechar. É melhor que as freguesias que estão próximas se juntem em projectos comuns.

GC: Está satisfeito com as ligações de autocarro com a sede do concelho?

VF: Sim, não tem havido queixas nesse sentido. Estamos é mal servidos em relação aos CTT. Temos tido muitas queixas e há relatos que me chocam. Há cartas trocadas, grandes atrasos na entrega, etc. Ultimamente tem sido vergonhoso e isso não pode acontecer.

GC: Como é o dia-a-dia de um Presidente de Junta?

VF: Eu não estou a tempo inteiro na Junta, tenho o meu negócio de carpintaria e também faço agricultura, mas se quero fazer um bom trabalho tenho que perder muito tempo com a freguesia. Não se pode parar um bocado, temos que andar de um lado para o outro. Mas eu gosto muito disto. Não sou de estar acomodado, sentado no sofá a ver televisão.

GC: Quais são as principais dificuldades?

VF: A falta de tempo é a principal dificuldade. Gostava de ter mais tempo para a Junta.

Antes da agregação de freguesias, nós éramos a terceira maior do concelho, em termos de área. E o que dá trabalho não é o número de população, mas sim a área de uma freguesia.

GC: Quais são as principais reivindicações dos fregueses?

VF: São as estradas. Muitas vezes comentamos com o presidente da Câmara que as pessoas das freguesias rurais até se contentam com pouca coisa. É essencial cortar as canas que crescem junto às estradas. Se as estradas se tornam intransitáveis as pessoas “massacram-nos” com queixas.

A Câmara tem dois tractores com “roça-caniços”, mas às vezes é preciso contratar empresas privadas para fazerem esse trabalho. Os presidentes das freguesias rurais têm pressionado muito para que a Câmara adquira mais uma máquina dessas e o processo de aquisição está a avançar.

Em termos das estradas alcatroadas não tem havido muitos problemas, a não ser quando há invernos mais rigorosos.

GC: A delegação de competências da Câmara para as juntas tem sido um presente envenenado?

VF: É sempre um presente envenenado porque depois somos nós a ser chamados à responsabilidade e com os meios limitados que temos, torna-se sempre complicado. Mas temos chegado a bom porto, porque há sempre transferências de verbas e conseguimos fazer aquilo que nos é proposto.

GC: A limpeza de mato tem sido feita de modo a evitar incêndios?

VF: Sim, tem sido feita. O ano passado a GNR andou pela freguesia a sensibilizar a população e isso notou-se no Verão porque houve mais pessoas a fazer a limpeza junto das suas casas.

Este ano devem voltar, agora em Julho, e eu acho bem. É uma forma de alertar as pessoas, mas espero que não precisem de começar a levantar autos, porque as pessoas vivem com dificuldades e não têm condições para pagar multas.

O que é importante é que a população tome as medidas necessárias, até porque nos últimos anos fomos fustigados por vários incêndios. Parece que há por aí uma “mãozinha” de alguém que não gosta de nós, mas se forem feitas as limpezas necessárias é mais fácil estes fogos serem combatidos.

GC: Com está a questão da destilaria junto à sede de freguesia?

VF: É um problema muito grave. A destilaria está legal, mas quando há calor e o vento sopra nesta direcção, vem de lá um cheiro muito desagradável para o centro dos Vidais e é claro que a população não gosta. Têm sido feitas muitas queixas às autoridades, mas dizem que está tudo legal. Temos feito alguma pressão junto do proprietário para que coloque algum sistema para acabar com os maus cheiros.

“Temos o núcleo de futsal feminino que subiu à primeira divisão nacional”

GC: Quais são as colectividades e grupos que mais se destacam na freguesia?

VF: Temos o núcleo de futsal feminino, que subiu à primeira divisão nacional. Este ano estão com mais dificuldade, obviamente, porque os orçamentos são completamente diferentes. O ano passado ganharam tudo o que havia para ganhar e ficou essa marca na freguesia.

Há ainda a associação do Casal do Rei, a dos Mosteiros, a dos Vidais e a da Carrasqueira, que têm feito um bom trabalho. Também há a associação dos amigos da Matoeira, que é mais restrita, mas com pessoas muito unidas e que se juntam muito.

 GC: Nasceu nos Vidais?

VF: Não, eu nasci em França. O meu pai é dos Vidais e a minha mãe de Alvorninha, mas estavam ambos emigrados em França quando eu nasci. Eu vim para cá aos três anos.

GC: Como é que se envolveu na política?

VF: Eu sou militante do PSD desde sempre e pertenci durante vários anos à Assembleia de Freguesia dos Vidais. Nunca pensei em ser presidente, mas quando o meu antecessor, César Tempero, não quis continuar, vieram convidar-me. Para espanto meu!

O então presidente, Fernando Costa, perguntou-me se eu estava disponível e eu, na altura, disse que era impensável, porque a minha área é a carpintaria e a fruticultura. Pensei durante muitas noites e acabei por aceitar, até porque contei com o apoio da minha esposa.

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