Henrique José Teresa, 64 anos, esteve à frente da freguesia de Tornada entre 2002 e 2014. Com a fusão de freguesias Tornada e Salir do Porto formaram uma só. Por isso, desde Setembro de 2014 iniciou um quarto mandato, liderando agora aquela união de freguesias. Na sua opinião, a fusão poderia voltar atrás pois acha que há melhores soluções do que aquela que actualmente vigora.
Reformado da função pública, Henrique Teresa ainda não sabe se voltará a recandidatar-se e vai continuando, através do diálogo, a resolver os problemas de uma população que é composta por 4358 pessoas que vivem numa área de 29,53 Km2.
Henrique José Teresa
64 anos
Eleito pelo PSD
Quarto mandato (três como presidente da Junta da Tornada)
Profissão: Reformado da função pública
Estado civil: Casado, com um filho
GAZETA DAS CALDAS – Passou quase um ano e meio desde as últimas autárquicas. Quais as promessas eleitorais que cumpriu desde que tomou posse?
HENRIQUE TERESA – Nós vamos fazendo aquilo que podemos e, por vezes, aquilo que nos deixam fazer. A nossa prioridade é resolver os problemas à população.
Prometemos e cumprimos fazer novos passeios. Já colocámos asfalto e tratámos da conservação das estradas brancas (não alcatroadas) das duas freguesias desta União.
Esta é uma zona muito nivelada, sem grandes altos e baixos e, por isso, basta um carro passar algumas vezes num caminho para “surgir” uma estrada. Temos muitas estradas desse género cuja manutenção não é fácil.
Também colocámos muita sinalização. Pusemos alguma em Tornada, mas em Salir do Porto esta foi praticamente toda reposta por causa da erosão do mar.
GC – O que ainda falta concretizar?
HT – Entre as nossas promessas eleitorais constam salas de aulas novas na escolas 1º ciclo do Reguengo da Parada e de Tornada. Apesar de ainda não estarem concluídas, as obras estão quase prontas e contamos com o apoio da Câmara Municipal para terminar a intervenção.
GC – Quais são os principais problemas das duas freguesias? Como está o saneamento básico?
HT – O estacionamento da USF de Tornada, que dá para cerca de 40 carros, é uma grande preocupação pois a saída está entre semáforos e é feita para cima de uma passadeira. O projecto está feito e, segundo informações que obtive junto da Câmara, para o ano há condições para que possa avançar, já que se chegou a acordo com as Estradas de Portugal. Não temos fundos próprios nem equipamento para fazer tal obra. Só é possível com auxílio da Câmara.
Temos outra questão relacionada com a rotunda de ligação com a auto-estrada A8 que fica numa recta e precisava de alteração.
Há muitos acidentes de sul para norte porque os carros que vêm das Caldas para Tornada não têm visibilidade e por isso precisávamos de alterar a rotunda que é muito grande para um “pescoço de cavalo”, ou seja, com a colocação de um pouco de terra de forma elevada para as pessoas a verem melhor pois, apesar da sinalização, como é uma recta, quando se apercebem, estão em cima da rotunda. Há períodos no Inverno que chegam a ser acidentes em dias seguidos.
Já fomos à Estradas de Portugal, à Estradas do Atlântico, até à Assembleia da Republica e até ao Governo Civil… a todas as entidades. A Câmara está sensível ao problema, mas a intervenção necessária é cara.
Além da segurança também seria bom poder embelezar esta rotunda que fica na entrada da localidade. Seria uma espécie de cartão de visita para a própria freguesia.
GC – O que foi feito em Salir do Porto?
HT – Já fomos nós que colocámos os equipamentos de ginástica que estão junto às piscinas (próximo da praia) e os suportes de ferro que seguram os contentores do lixo.
Temos resolvido vários problemas relacionados com o escoamento de águas nas casas das pessoas e às próprias propriedades. As calhas de águas estão encaminhadas, mas como não existem valetas, a água espalha-se.
Está em andamento a criação de um parque infantil junto à praia de Salir do Porto. Temos que lidar com o condicionamento da Lei dos Compromissos que impede que as coisas possam avançar como poderiam. Sempre que podemos tomamos a iniciativa de fazer pequenas obras. Com isto, poupamos dinheiro às Câmara pois fazemos coisas que lhe competiam e resolvemos os problemas às pessoas.
GC – Como está o saneamento básico na União?
HT – O saneamento básico está concluído a mais de 90%. Há duas ou três casas, isoladas, que não estão ligadas pois estão longe dos pontos de acesso ao saneamento básico, algo que envolve muitos custos.
“A postura do Dr. Tinta Ferreira é diferente”
GC – Esteve três mandatos com o anterior presidente, Fernando Costa e está neste com Tinta Ferreira. O que mudou no diálogo com o executivo?
HT – O diálogo continua a ser como era antes. Reunimos às segundas-feiras para debater os nossos problemas.
Há sempre diferenças entre as pessoas. Não tenho razões de queixa do anterior presidente. Ele nunca dizia que não a nada… Só que nós tínhamos que insistir muito.
A postura do Dr. Tinta Ferreira é diferente. Já o conhecia bem antes pois ele tinha o pelouro da Educação quando eu vim para cá. Foi das primeiras pessoas com quem eu comecei a contactar.
No início do ano lectivo há sempre algo que falha e apesar de não ser connosco, nós acabamos por ter que lidar com elas.
Foi uma pessoa que sempre me ajudou e dei a cara por ele e ele por mim em várias situações. O Dr. Tinta é sério de mais para ser político. É uma pessoa honesta.
“Temos 185 crianças em idade escolar”
GC – A União de freguesias conseguiu manter as suas escolas do primeiro ciclo a funcionar?
HT – Sim, mantivemos todas as escolas. E somos uma das freguesias com mais miúdos do concelho. Temos escola e jardim em Salir do Porto, uma escola com duas salas no Chão da Parada. No Reguengo da Parada temos escola e jardim de infância.
Temos 185 crianças com idades entre os três e os 10 anos, o que nos coloca na linha da frente das uniões com mais crianças em idade escolar. E ainda temos uma IPSS que tem ATL desde o berçário.
GC – Quais são as colectividades e grupos que dinamizam esta freguesia?
HT – Temos duas associações duas no Campo, uma em Tornada, uma no Chão da Parada enquanto que no Reguengo da Parada há uma associação e o Rancho Folclórico. Em Salir do Porto há uma associação e uma IPSS. Promovem teatro, encontros anuais de ranchos, temos muitos desportos e festivais de vários géneros.
Mandatos deveriam ser de cinco anos
GC – Acha que a fusão das freguesias valeu a pena? Que dificuldades encontrou?
HT – A fusão foi uma situação que não foi criada por nós, mas somos nós que damos a cara e ficam sempre algumas feridas que precisam de sarar. Ao fim e ao cabo as Juntas de Tornada e de Salir do Porto acabaram. Se bem que historicamente considero que esta é sobretudo a Junta de Tornada… a História não se pode mudar…
Em Tornada temos lugares grandes que por vezes acarretam mais problemas.
Se dependesse de mim, nunca tinha ido para esta situação.
Por mim, tinha começado pelas câmaras. Uniria Caldas e Óbidos e juntava Peniche, Bombarral e Cadaval. Alcobaça juntava com a Nazaré. Na parte sul uniria a Marinha Grande com Leiria.
Outra coisa: eu concordo com a limitação de três mandatos, mas acho que em vez quatro anos por mandato, deveriam ser cinco. Os primeiros quatro anos é para nós conhecermos o terreno.
GC – Se pudesse voltaria à situação inicial?
HT – Não me chocava nada. Pelo contrário. Creio que esta fusão não foi bem feita. Para mim o que fazia sentido era criar-se a Junta de Freguesia Atlântica, que iria agrupar Foz do Arelho, Nadadouro, Serra do Bouro e Salir do Porto.
Aquelas quatro freguesias juntas se calhar têm mais população do que Tornada… E já agora, porque não se juntam também as duas freguesias da cidade?
GC – Mas foi o governo liderado pelo partido pelo qual foi eleito que tomou esta decisão das fusões…
HT – Sim é verdade… o Governo empurrou para as Câmaras esta decisão. Nós estávamos inicialmente sujeitos a ir parar a Sto. Onofre pois temos dois “bicos” da freguesia que estão dentro da malha urbana da cidade, o que iria criar algo gigantesco.
Em relação ao concelho foi o menos mal… Eu acho que não estamos prejudicados em termos de verbas pois pela majoração recebemos mais 15%… Só que depois tiraram-nos logo 5%.
GC – Qual é o orçamento da União? Onde é que há mais gastos?
HT – O orçamento anual da União é de 213.404 euros. Gastamos muito nas escolas, na manutenção das estradas brancas, nos aquedutos.
Temos em Salir do Porto um mercado que nos dá pouco ou nada: 200 euros por ano.
Poderíamos ganhar algo se fosse possível ficar com a receita da publicidade na Estrada Nacional desde o Max Mat até às localidades, sobretudo em Salir do Porto, na época balnear. Tudo o que pudéssemos era bem-vindo, mas quem recebe estas verbas é a autarquia.
GC – Quantos funcionários possui a União?
HT – Dois em Tornada e dois em Salir do Porto. Mantiveram-se os mesmos postos de trabalho que existiam antes da fusão. Mas precisávamos de mais gente. Pelo menos mais uma administrativa e de pessoal de exterior, alguém polivalente.
Temos recorrido ao pessoal do Centro de Emprego – na medida CEI que nos permitiu ter mais quatro funcionários, mas agora os estágios já acabaram.
GC – O que se produz nesta União de freguesias?
HT – Notamos que houve um grande desenvolvimento na área da agricultura, na horticultura – há dias foram seis mil toneladas de cenouras aqui do Campo para a Alemanha e Holanda provenientes de um pomar com 60 hectares e que continua a aumentar. Também tem viveiros de videira para plantar (bacelos).
Na fruticultura temos produção de morangos, batatas, couves, framboesas e tudo isto para cima de 100 hectares. Esta grande actividade acabou por promover a própria requalificação – a colocação de cancelas nas passagens de nível pela Refer e também o asfaltamento da estrada do Bouro.
Também se tem desenvolvido bastante a área da floricultura, quer por empresas privadas quer também pelo Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor.
Apesar dos dias de crise, em Salir do Porto mantém-se o interesse pela habitação e como tal não se sentiu a crise na construção como no restante território.
GC – Como são os transportes públicos para as Caldas?
HT – Creio que estamos bem servidos. Pelo menos no período escolar, tudo funciona bem nas duas freguesias da União. Fora do período escolar notamos a diminuição no número de autocarros. Também não há transportes dentro da União. Alguém do Campo que precise de vir à USF da Tornada tem que ir primeiro às Caldas.
GC – Qual é a sua opinião sobre a USF de Tornada?
HT – Acho que é das melhores do país que até já possui uma extensão em Salir de Matos. Funciona muito bem e a grande maioria dos utentes está muito contente.
GC – Há serviço de correios nesta autarquia?
HT – Em Tornada nunca tivemos. Temos apenas o serviço de Pay Shop e venda de selos num supermercado.
Em Salir do Porto, na sede da freguesia, temos um posto que funciona como os CTT apesar de não haver dividendos. É um serviço que as juntas prestam como em Salir de Matos ou Carvalhal Benfeito. Se quiséssemos requerer esse serviço, teríamos que ter um funcionário só para esse efeito.
GC – Como tem sido a relação com a oposição?
HT – Acho que tem sido honesta e muito construtiva pois funcionamos como um todo.
Em 2014 fizemos uma Assembleia de Freguesia em Salir do Porto e três aqui. Deveria ser alternado…
Fazem o papel deles, mas com respeito e com uma forma muito construtiva. Há pessoas que são dinâmicas, que até já integraram a Assembleia da Câmara e que pertencem ao PS.
GC – Vive em Tornada há quantos anos?
HT – Saí de casa com 19 anos, fui para Lisboa e vim morar para os Casais Morgados (Tornada) quando me casei em 1978. O primeiro mandato como presidente de Junta de Tornada foi iniciado em 2002 e mantive-me no cargo até Setembro de 2014, altura em que passei a estar à frente da União de Freguesias.
GC – Como é a sua relação com os fregueses descontentes?
HT – Lido com os meus fregueses descontentes através do diálogo e, na verdade, tenho feito mais amigos do que inimigos.
GC – E pensa recandidatar-se?
HT – Ainda não sei… È muito cedo. Ainda falta muito até 2017… Ainda nem sequer chegámos a meio do mandato.






























