Saúde, habitação e mobilidade são prioridades para o PS em Óbidos. Paulo Gonçalves, que se recandidata pelo partido à Câmara, defende uma maior proximidade entre eleitos e eleitos e a população e potenciar uma melhor qualidade de vida no concelho
Disse, na apresentação da sua candidatura, que quer recentrar o papel da autarquia. Como se propõe a fazê-lo?
Em primeiro lugar tornando esta gestão mais próxima dos cidadãos através da descentralização de reuniões, fazê-las em momentos do dia em que seja mais fácil as pessoas participarem, ir às freguesias, fazer assembleias municipais descentralizadas…
Mudar a forma como as pessoas vêem os políticos e que percebam que, de alguma forma, há uma ligação imediata entre aquilo que foi falado na campanha e o que foi o seu exercício de mandato. Eu acho que isso é uma coisa que, infelizmente, está um bocado arredada dos nossos últimos mandatos na autarquia. Percebemos que aquilo que se diz antes, depois, tem muito pouca conexão com aquilo que acontece na realidade.
Primeiro, trabalhar para dentro da Câmara, para depois podermos oferecer soluções em que as pessoas se sintam representadas.
Referindo-se ao atual executivo social democrata, disse que este “já demonstrou não conseguir executar os investimentos do futuro, nem sequer resolver os problemas do presente”. Quais os principais problemas que o concelho tem?
Saúde, habitação, mobilidade, parece-me claramente que esses são os principais problemas, que toda a gente sente. Mas antes disso, interessa perceber que Câmara só consegue resolver as soluções que apresenta se a máquina estiver oleada ou estruturada. E isso acho que foi uma péssima construção do atual executivo, que se veio a revelar mais para o final, isto mostra alguma desagregação, com a demissão dos vereadores, do conselho de administração da Óbidos Criativa, a saída em massa de funcionários, de dirigentes, a dificuldade de recrutar dirigentes e, diria, alguma desmotivação interna dos próprios funcionários. Portanto, eu acho que temos que começar por aí.
Ninguém consegue dar resposta para o exterior enquanto não se resolver internamente. E, portanto, eu gostava de conseguir reorganizar, de motivar, criar à volta da Câmara uma espécie de uma missão em que as pessoas, ao contrário de hoje, sentissem vontade de vir trabalhar. E acho que consigo recuperar isto, com boas equipas, com gente que está perfeitamente preparada. Percebemos que não tínhamos isso neste executivo e é muito por essa falta de liderança, que me parece que alguns dos problemas não foram resolvidos.
Quais são as vossas prioridades?
Saúde, habitação e mobilidade. Em relação à saúde, o problema é simples, temos centro de saúde e extensões de saúde, não temos médicos em lado nenhum e uma população cada vez mais envelhecida e que precisa de mais cuidados.
Nós temos que conseguir médicos para os nossos centros de saúde e esta ideia do plano de saúde não me parece que tenha resultado. Achamos que é preciso negociar com a tutela e temos que pressionar para a colocação de médicos, mas também temos que ir à procura dos protocolos, que noutros locais são conhecidos com as IPSS, através de um projeto chamado Bata Branca. Eventualmente teremos que gastar mais dinheiro do que aquilo que era expectável, mas entre não ter ou ter alguma coisa, nós temos de facto que conseguir.
E relativamente à habitação?
Temos de construir casas a custos acessíveis. Em três anos não foi feito nada da Estratégia Local da Habitação, que a Câmara apresentou em 2022, orçada em 4,4 milhões. Nem apresentaram candidatura, nem prepararam projetos, nem sabem quem são as pessoas…
Se queremos inverter o índice de envelhecimento, temos que atrair jovens. Teremos de construir apartamentos T1, T2, T3, com custos de preço fixo para aluguer, não para compra. Encontrar um modelo que nos permita fazer contratos com privados em que eles construiriam a casa e nós vamos pagar uma renda, recorrendo a fundos do PRR e da própria Câmara, com recurso a empréstimo, por um período temporal de 25 a 30 anos.
A Câmara também pode, eventualmente, suportar a diferença do aumento do custo mensal com algumas rendas.
Por outro lado, a Câmara tem várias casas dentro da vida. Qual a vossa posição sobre o seu uso?
Queremos dar-lhes vida. Por exemplo, não temos um local onde possamos alojar jovens em viagens de estudo. Utilizá-las em situações que não seja de residência a todo o título definitiva nem de longa duração, pois muitas das vezes quando fazemos um evento as pessoas têm que ir dormir às Caldas.
Óbidos realiza, ao longo do ano, diversos eventos de massas. Concorda com esta estratégia?
Concordo, os eventos são uma imagem de marca, são essenciais para até a vida económica de muitas das nossas empresas. Nós temos 2.500 microempresas, muitas delas estão fixadas na vila ou trabalham para os pequenos comércios da vila e, portanto, nós queremos manter os eventos. Mas há duas questões a resolver, primeiro os eventos são gratuitos para os municípios, não são gratuitos para as outras pessoas e eles são caros. Temos de baixar esse custo ou então estamos sempre a deixar de fora os que têm menos possibilidades. Também devemos articular com os empresários e moradores o calendário que seja mais viável.
A Câmara Municipal não trabalha para quem tem mais dinheiro, trabalha para todos, sejam visitantes ou sejam municípes.
De que outras formas se podem combater as assimetrias que existem no concelho?
Por um lado temos de permitir que as pessoas tenham mais acesso às atividades de nível empresarial e, eventualmente, elas próprias, criando o seu próprio negócio, não só na área do turismo, como outros serviços. Temos, de alguma forma, conseguir redistribuir a riqueza que o concelho já produz, há 10 anos atrás tínhamos um orçamento de cerca de 20 milhões de euros, hoje temos um orçamento cerca de 35 milhões de euros.
Por um lado não estamos a conseguir redistribuir porque há muito pouca execução e, quando há alguma execução, ela corresponde a alguns ideais de pessoas e não a necessidades objetivas, como é o exemplo da Praça da Criatividade.
Nós temos que conseguir fazer infraestruturas, distribuídas pelo concelho, que permitam às pessoas terem uma maior qualidade de vida e, de alguma forma, sentirem mais pertença a este concelho. Não temos uma piscina de ar livre, não temos uma sala de espetáculos, não temos um cinema, não temos um parque de lazer e isso também é qualidade de vida.
E estes são investimentos que devem ser feitos talvez em detrimento daqueles que foram apresentados para o município para a próxima década?
Eu percebo que haja boa vontade de perspetivar o futuro, mas é muito difícil para quem vive em Óbidos conseguir pensar em pontes suspensas ou restaurantes panorâmicos quando as coisas básicas de facto não existem. A proximidade também é um bocadinho isso, ir à procura daquilo que as pessoas precisam para ter qualidade de vida.
Se o PS for poder, o que fará com a Praça da Criatividade?
Teatro ao livre, cinema ao ar livre, era possível fazer ali muita coisa, não só dentro, mas essencialmente fora, durante os meses de maio a outubro. Podia ser o nosso centro cultural ao ar livre, e se calhar, de vez em quando, termos que instalar outras estruturas para poder suportar eventos. Às vezes até gastamos esse dinheiro, como por exemplo nas tendas no caso do gaming, e podíamos encontrar um calendário próprio, da atividade cultural e desportiva, e outros eventos para dar vida à praça.
Ter uma utilização muito regular, com um programa próprio para que as pessoas se habituem a ir à praça e ter, por exemplo, um mercado pós-tarde e noite, que não existe em Óbidos.
Qual a relação que quer ter com as freguesias?
Temos de criar uma rede regular de transportes, temos que encontrar essa boa parceria com a Rodoviária para ter transportes que consigam fazer as ligações das freguesias a Óbidos e às Caldas. Temos o TOMA a crescer e temos de fazer uma ligação à sua rede. E precisamos de um terminal, porque há muitos passageiros que vão diariamente para Lisboa e não têm sítio para aguardar o autocarro, não existem casas de banho. Para nós o local ideal é perto do aqueduto, no parque de estacionamento que é explorado pelos bombeiros, e fazer um edifício que se enquadre com o aqueduto e tenha até alguma ligação, eventualmente em madeira.
Segundo ponto: temos de dar meios às juntas de freguesia para resolverem aquilo que nós não conseguimos fazer lá, pequenas obras de reparação, um pequeno passeio… Queremos operacionalizar essa proximidade. Vamos contratualizar com as juntas de freguesia montantes financeiros para contratarem mais pessoas. Elas fazem mais rápido, elas fazem no sítio certo e fazem mais barato. Mais, estamos a criar emprego nas freguesias, portanto é possível que isso também ajude as freguesias a terem mais habitantes, mais moradores. Também temos que lhes dar espaço para eles criarem os seus próprios programas para ação na comunidade.































