O candidato da CDU a Óbidos elege a habitação, a par de condições de trabalho, como soluções para a fixação de jovens do concelho. A saúde é prioridade, assim como o necessário desenvolvimento económico e social. Carlos Luz está na “luta” para não deixar que a direita avance “desgovernadamente”
Carlos Luz é professor reformado. Como é que vê a educação no concelho de Óbidos?
Creio que deve ser dada a prioridade aos órgãos de gestão da escola fazerem a sua gestão. Não haver interrupções, haver uma relação de proximidade, de partilha de construção de uma escola democrática, aberta, ligada ao meio e resolver os problemas, que são muitos. Assinalo como problemas a falta de creches, ainda há dias experimentei no sistema da Creche Feliz e em nenhuma freguesia do concelho havia vaga. O pré-escolar precisa de mais salas e os outros níveis de ensino têm o problema comum ao país de alguma falta de professores. Sei que o agrupamento tem tido dificuldades em manter o ensino profissional.
Que respostas podem ser dadas aos jovens para permanecerem ou fixarem-se neste concelho?
Essa é uma questão fundamental, porque o concelho está a envelhecer, os jovens não conseguem ficar… Eu creio que uma das questões fundamentais, para além do emprego com contratos decentes e planos a longo prazo, é a habitação. Os jovens acabam por sair do concelho porque não conseguem ter acesso à habitação.
Por exemplo, na freguesia do Vau, onde resido, estão a ser construída muita habitação, mas grande parte dela sazonal, para ter uma exploração limitada no tempo. Os jovens, ou menos jovens, não conseguem pagar 1,5 ou 2 milhões de euros, que é o custo daquelas casas. Portanto, há que arranjar uma solução para que as pessoas sintam segurança no futuro em Óbidos. A estrutura social fica mais coesa, as pessoas têm um sentimento de pertença maior…
Que políticas defende a CDU para ajudar a minorar o problema da habitação no concelho?
Essa é uma responsabilidade da administração central. As câmaras têm que ter uma postura muito incisiva perante o governo em relação a estas questões. Não tenho nada contra a habitação municipal, mas têm que se encontrar outras soluções complementares a estas. Ver as casas que estão devolutas e saber a disponibilidade, em termos de orçamento da Câmara, para intervir. Depois há que encontrar parcerias no privado. Temos que encontrar soluções para dar uma resposta efetiva e rápida.
Mas tem que se começar, e ganhando os jovens para ficarem no concelho.
A saúde é uma das suas prioridades. O que deve ser feito?
A saúde é um problema muito sensível. No outro dia ao visitar uma freguesia constatei um polo de saúde que não tem médicos, só está o edificado… Uma autarquia tem de ter uma ação efetiva de reivindicação junto da administração central. Fui vereador em Loures e lembro-me que, com o presidente, Adão Barata (CDU), fomos ao ministério da Saúde com o movimento associativo do concelho, exigir. Tem de haver uma postura mais ativa.
Em relação ao hospital das Caldas faltam meios humanos, mas também é fundamental uma intervenção no edificado de modo a criar condições dignas de trabalho e para receber os doentes.
Outra prioridade é a criação de novas políticas de ordenamento do território. O que propõe?
Temos atualmente uma delapidação do património e não a sua preservação, por exemplo, ao nível da construção. Temos uma riqueza natural extraordinária, especialmente na zona costeira, onde foram feitos quatro campos de golfe que são, inclusive, grandes consumidores de água. Os resorts são utilizados sazonalmente, servem-se do bom que é aquele espaço mas depois vão-se embora. Defender o território não é explorar os recursos de qualquer maneira, mas de uma forma equilibrada. Temos uma lagoa extraordinária que está a ser, quanto a mim, pouco cuidada.
É necessário um equilíbrio na ocupação do território, no tipo de turismo que desenvolvemos. Temos dois polos turísticos, que é a vila muralhada e os resorts, no meio fica quem trabalha.
Uma coisa que me incomoda particularmente é a concentração de tudo o que é atividade cultural dentro da vila, como é o caso do Folio. É importante descentralizar para as freguesias, em articulação com as juntas e coletividades, porque há uma concentração de tantas coisas boas e as pessoas do concelho pouco aproveitam.
Falando dos grandes eventos, de massas, que se realizam em Óbidos. Concorda com esta estratégia?
Há coisas que na minha opinião servem para arrecadar quantias significativas de fundos para a gestão municipal. Não deixa de ser importante, agora essa qualidade nem sempre acompanha o exemplo que referi antes, o Folio. Aquilo é um ritual de encaixe de um montante muito significativo de recursos que nem todos considero ser culturais.
Se fosse presidente de Câmara acabava com algum deles?
As coisas têm de ser ponderadas. Uma coisa que faria, ou quero fazer, era que as coisas fossem feitas pela Câmara. Não sou, por princípio, contra as empresas municipais, mas acho que é exagerado. No caso de Óbidos acho que esta empresa, que faz tudo o que é evento cultural, não faz sentido.
Acho que é prioritário arranjar uma divisão de águas e saneamento, devidamente organizada, e outra para o movimento associativo, que o tornasse uma massa coletiva e a pô-los a discutir e a construir as coisas em relação com a comunidade.
Em relação ao património, considera que está a ser bem preservado? O que deve ser feito?
Acho que a vila está bem conservada, mas temos outras coisas no concelho que merecem e têm de ser valorizadas. O património construído é importante, mas também temos o Vale Tifónico, as Cesaredas, uma rede hídrica muito interessante que podia ser explorada quer pelas pessoas do concelho quer em termos turísticos. Poderíamos atrair outro tipo de turismo, mais ligado à natureza, porque nós precisamos muito de diversificar a oferta.
E como potenciar o crescimento económico em Óbidos?
Através do desenvolvimento económico e social, porque só conta se for com as pessoas. A habitação, escolas, tudo faz parte do desenvolvimento económico de um espaço comunitário. Estamos muito centrados na questão do turismo e isso traz riqueza só num sentido, mas temos a floricultura, a fruticultura, e também um parque tecnológico, que são importantes. E a escola também tem de acompanhar.
Devia ser construído um sistema que pudesse suportar e dar razão de ser aos investimentos. Não é só porque produz mais, mas porque há também uma evolução social. A economia só por si não é suficiente, as pessoas têm de ficar, têm de fazer parte do contexto.
O que será um bom resultado para a CDU nestas autárquicas?
O resultado que pretendo é estar na luta, não deixar que a direita avance desgovernadamente ou que abra espaço para coisas ainda mais complicadas. A minha presença é de luta por valores fundamentais da nossa democracia. Estava na tropa quando foi o 25 de abril de 1974, sinto isto de uma forma muito orgânica.
Um bom resultado é conseguir ganhar pessoas para terem a perceção do que é a democracia. Estou cá para lutar para questões fundamentais para todos.































