Tinta Ferreira, Hugo Oliveira e Humberto Marques acreditam na continuidade de Rui Rio na liderança do PSD e mantêm o apoio ao actual presidente do partido. Consideram até que o desafio de Luís Montenegro constitui uma oportunidade para Rio conquistar o eleitorado. A excepção está em Telmo Faria que publicou um artigo crítico do líder social-democrata
O ex-líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro desafiou o líder dos sociais democratas a convocar eleições directas antecipadas. Rui Rio rejeitou o desafio, optando por submeter a direcção a um voto de confiança do Conselho Nacional, cuja reunião extraordinária estava prevista para ontem, quinta-feira.
Membro do Conselho Nacional, o presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, mostra a confiança no actual líder do partido. Na sua opinião, Rui Rio foi eleito há apenas um ano e não considera adequado que a meio do mandato, “e sem nenhuma razão”, se desafie a liderança do partido. “Precisamos de estabilidade nas instituições”, disse o autarca caldense, acrescentando que a decisão de Luís Montenegro ao convocar eleições directas antecipadas foi precipitada. “Se queria ser presidente do PSD tinha concorrido nas directas”, disse, realçando que não subscreve este procedimento e maneira de estar do seu companheiro de partido.
Tinta Ferreira comparou mesmo este comportamento ao que o actual líder do PS, António Costa, teve com António José Seguro, ao querer avançar para a liderança do partido após os fracos resultados do PS, nas Europeias de 2014.
O autarca considera que, apesar de tudo, esta cisão interna permite “espevitar” o partido.
Também o vice-presidente da Câmara, Hugo Oliveira, mantém a confiança em Rui Rio. Sendo presidente da concelhia caldense e vice-presidente da distrital de Leiria, considera que “há timmings e há um respeito institucional de uma eleição, que foi democrática, que devem de ser cumpridos”. Considera ainda que mais importante que agradar, ou não, aos líderes de opinião dentro do partido, o presidente deve de agradar aos portugueses e que o “resto tem a ver com calculismos políticos”.
Para Hugo Oliveira, neste momento, o PSD precisa de estabilidade, de ser uma alternativa e de ir buscar os melhores para ir a eleições. Reconhece que esta “fragilidade” no partido poderá ser benéfica para os socialistas. “Os portugueses podem achar que estamos mais preocupados com as questões internas e é importante que isso não aconteça”, disse o social-democrata que, independentemente da decisão encontrada, espera que os dirigentes percebam que o partido tem que apresentar estabilidade e “ter força para ganhar as eleições”.
“É UMA ESPÉCIE DE FAVOR A RUI RIO”
O presidente da Câmara de Óbidos, e da concelhia, Humberto Marques, vê a atitude de Luís Montenegro como um “acto de coragem e de algum altruísmo” porque, de alguma maneira está a galvanizar o partido em volta do seu líder, que sairá reforçado. “É uma espécie de favor”, diz o autarca que considera que esta tomada de posição era necessária para “galvanizar as pessoas no interior do partido e acabar com estas trincheiras”.
Serve também, na sua opinião, para chamar a atenção que o discurso de Rui Rio terá que ser para o exterior do partido, que se exige uma agenda política para ser disputada nas várias eleições e despertar o interesse dos portugueses.
“Foi uma vitamina dada ao líder para galvanizar e conquistar o eleitorado”, resumiu Humberto Marques, convicto que Rui Rio sairá do conselho nacional com um voto de confiança maior do que o alcançado nas directas.
“Rio ganhou o PSD mas não ganhou o país”
Telmo Faria, membro do Conselho Nacional do PSD e ex-coordenador da moção de Pedro Santana Lopes nas últimas directas do partido, escreveu um artigo no O Observador (que replicou na sua crónica desta semana na Gazeta das Caldas) onde diz que “há um ano Rio ganhou o PSD – mas não o país”. E acrescenta: “se a percepção de se perder o País existir o PSD não vale nada. Esta associação é de uma obsessão objectiva”, diz, acrescentando que este partido foi sempre um “produto directo” da sociedade portuguesa e um instrumento de transformação dessa sociedade, pois nele entraram os mais empreendedores, os mais inconformados e os mais capazes de fazer a mudança.
Telmo Faria garante que nada o move contra Rui Rio, antes pelo contrário. “Sinto como muitos a admiração de quem conquistou a população do Porto em três eleições, tarefa essa muito difícil”, diz, acrescentando que não o apoiou para presidente do PSD por achar que Rio seria o que é um ano depois. “Um líder de um partido que não consegue conquistar os seus militantes por não conseguir conquistar os portugueses”.
Considera que a agenda foi escondida em discussões fechadas em conselhos estratégicos sem estratégia e que agora o descontentamento interno subiu de tom e que o acto de Luís Montenegro “evidencia um forte inconformismo com o estado actual”.
Telmo Faria escreve que é tempo de ver que novas oportunidades para o PSD se abrem a partir daqui. Para Rui Rio será a “oportunidade de se superar”, enquanto que para os adversários “a de mostrarem porque são diferentes e melhores”.
O ex-autarca obidense adianta que Rio tem, “além da falta de uma boa agenda, uma absoluta falta de ligação ao tempo político tal como o entendemos actualmente e é aqui que reside boa parte da compreensão do seu falhanço político como líder da oposição neste ano”. Entende que só um “grande líder” poderia neste momento convencer os portugueses que o PSD é a melhor solução para o país e diz que para conquistar quem ainda não conseguiu conquistar, teria que se superar. “Se insistir nesta ideia de se fechar e de se refugiar em nome do “seu tempo” será tempo perdido”, adverte, no artigo crítico da actuação do líder social-democrata.






























