
Os deputados socialistas eleitos pelo circulo de Leiria consideram que o abate de milhares de árvores para a construção de um empreendimento urbanístico no Bom Sucesso está a provocar um acelerado assoreamento da Lagoa de Óbidos.
Num requerimento entregue na Assembleia da República no passado dia 17 de Julho, os deputados Odete João, Basílio Horta e João Paulo Pedrosa questionaram a ministra da Agricultura e Ambiente, Assunção Cristas, se tem conhecimento desta situação e se pondera intervir para minimizar os efeitos da desflorestação.
De acordo com os socialistas, o assoreamento a que a lagoa está sujeita, não só reduz a sua área inundada, como impede a ligação ao mar, “com graves consequências ambientais”. Consideram que as dragagens permitem melhorar a circulação da água, mas que é necessária uma intervenção mais global – tal como estava previsto na candidatura feita ao QREN já pelo governo anterior -, no valor de 15,4 milhões de euros e que ainda não se concretizou.
Os deputados defendem que toda a envolvente tem que ser cuidada e denunciam que a construção das infra-estruturas de um empreendimento turístico no Bom Sucesso levou ao “abate de milhares de árvores, com consequências ambientais graves”, apesar de muitas das construções previstas para esse empreendimento e do respectivo arranjo da envolvente não estarem a ser feitos.
“O abate das árvores no Bom Sucesso, a destruição de um parque de merendas e do coberto vegetal, essenciais para a fixação das areias, deixou de existir”, dizem, acrescentando que as “areias são hoje arrastadas livremente para a Lagoa de Óbidos”, acelerando o seu processo de assoreamento.O empreendimento em causa é o Royal Óbidos, que já tem em funcionamento o club house e o campo de golfe com 18 buracos, estando classificado como projecto PIN (Projecto de Interesse Nacional) pela Agência Portuguesa para o Investimento.
Trata-se de um investimento de 200 milhões de euros, que contempla moradias, um hotel de cinco estrelas com spa, a que estarão associados estúdios e apartamentos.
Já em Fevereiro desde ano o vereador socialista na Câmara de Óbidos, José Machado, tinha alertado para esta situação e sugeriu uma visita do executivo ao local para se aperceberem melhor da situação de “desertificação visível naquela zona” e falar com o promotor para se providenciar a fixação das areias, com vegetação adequada.
Na mesma sessão de Câmara, o vice-presidente, Humberto Marques, salientou que mais “grave do que a erosão seria a desertificação do solo provocada pelos eucaliptos que ali existiam”, e que levou a que a autarquia só pudesse licenciar o empreendimento depois de um estudo e de uma declaração de impacte ambiental. O vereador acrescentou ainda que, com a alteração do plano de pormenor, reduziram “drasticamente” os índices de construção naquela zona.
Investimento aprovado e licenciado pelo governo Sócrates
Em resposta aos deputados socialistas, a Câmara de Óbidos publicou um anúncio de uma página no nosso jornal, no qual diz que os requerimentos apresentados na Assembleia da República são “um ataque a projectos de investimento aprovados e licenciados”.
O executivo PSD na Câmara de Óbidos afirma que o PS não tem qualquer legitimidade política para falar no assunto pois foi no seu governo (de Sócrates) que os projectos foram aprovados. Considera ainda que responsabilizar o empreendimento turístico pelo assoreamento da lagoa “não tem qualquer sustentação técnica” e constitui um “ataque violento aos investidores que arriscaram num momento particularmente difícil”.
O executivo aponta baterias ao deputado socialista Basílio Horta que já foi presidente de uma empresa turística que quis fazer junto à Lagoa de Óbidos uma cidade com 20 mil fogos e cerca de 10 mil pessoas em apenas 130 hectares. A dar nota disso mesmo, juntam uma entrevista de Basílio Horta à publicação Negócios em 1986 na qual defende esse projecto.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt






























