“De Volta a Casa” fecha portas no final do ano

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Joaquim Sá
Joaquim Sá diz que a maioria das pessoas ajudadas pela De Volta a Casa não é toxicodependente

“De Volta à Casa – Centro de Acolhimento dos Sem-Abrigo” deverá encerrar as suas portas no final do ano.
As instalações junto ao edifício onde funcionou a PSP, no topo da Praça da Fruta, foram cedidas pela Câmara em 2003, mas o contrato de comodato não foi renovado este ano. Em causa estão as várias queixas que têm surgido sobre a associação e a falta de condições que o espaço oferece.

“Também já há algum tempo que a associação não tem órgãos sociais e os voluntários que ali ajudavam deixaram de o fazer”, explicou a vereadora Maria da Conceição Pereira.
No entanto, a autarquia reconhece o trabalho que foi feito por Joaquim Sá, responsável pela associação, tendo-o distinguido com a medalha municipal pelo trabalho de voluntarismo no âmbito da solidariedade.
A vereadora conta ainda que tentaram arranjar uma parceria com a Associação “Viagem de Volta” (Bombarral) dedicada ao tratamento da toxicodependência, para dar apoio técnico, mas Luis Sá recusou porque o âmbito daquela entidade é centrada no tratamento.
Grande parte das pessoas que frequentam aquela instituição aufere o rendimento social de inserção, enquanto que os toxidodependentes deveriam ser encaminhados para clinicas para tratamento especializado. “Relativamente aos que necessitam, que são uma minoria, nós iremos dar resposta, para que ninguém fique sem a refeição e o tratamento de higiene”, garantiu.
O assunto foi discutido na ultima Assembleia Municipal, de 23 de Novembro, com o deputado do Bloco de Esquerda (BE), Fernando Rocha, a pedir explicações à Câmara sobre o encerramento da associação.
Para o deputado, esta decisão traduz-se num “acto de grande indignidade, bem revelador da grande insensibilidade aos problemas da pobreza por parte do nosso executivo municipal”.
O presidente da Câmara, Fernando Costa, concorda com o encerramento da associação. “Está nos relatórios policiais que vem gente de Peniche, Torres Vedras e Lisboa e não é para matar a fome”, disse o autarca, adiantando que aquele espaço tornou-se um “chamariz” de marginais, que contribuiu para “aumentar a criminalidade nas Caldas”.
As explicações da autarquia não foram bem recebidas pelo deputado bloquista que tentou, por várias vezes, responder ao autarca e acabou por sair da sala, visivelmente enervado.
O deputado do CDS/PP, Duarte Nuno, lembrou que o assunto já antes tinha sido aflorado na Assembleia pelo perigo que a associação representava para alguns moradores, sobretudo mais idosos, daquela zona e comerciantes.
Também o presidente da Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo, Vasco Oliveira, conhece bem a associação sediada na sua freguesia e defende o trabalho de Joaquim Sá. No entanto, considera que actualmente “aquilo é um coio dos toxicodependentes”.

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Reestruturar a associação e arranjar uma sede

Joaquim Sá tem uma ideia diferente e continua firme nos seus propósitos de dar continuidade à associação. Refere que têm tentado encontrar uma solução em conjunto com a Câmara, mas que têm visões diferentes no campo de trabalho. “Tenho um percurso de rua muito longo e sei que as coisas, muitas vezes, não são solucionadas como nós desejaríamos que fossem, mas temos que estar abertos ao tempo da pessoa para fazer a sua reinserção social”, diz.
O responsável pela associação diz que é preciso desmistificar a ideia de que “De Volta a Casa” lida apenas com toxicodependentes, realçando que estes são uma percentagem mínima dos apoiados.
“Também não corresponde à verdade que os arrumadores vão fazer as refeições à associação, uma vez que grande parte deles nem sequer a frequenta, muitos têm família ou estão em casas alugadas”, contou. A maior parte das pessoas que ali pede ajuda são desempregados e pessoas que auferem o rendimento mínimo, mas não têm dinheiro para a refeição pois gastam-no na prestação da casa.
Neste momento estão a funcionar praticamente sem apoios. “Nem sabemos como conseguimos dar as duas refeições diárias (almoço e jantar)”, conta Joaquim Sá, especificando que ali são confeccionadas em média 80 refeições por dia.
Para dar resposta aos necessitados ,continuam a contar com o apoio dos comerciantes das praças do Peixe e da Fruta, que lhes dão os produtos. Desde Março deste ano que não contam com a ajuda do Banco Alimentar porque não têm os órgãos constituídos. Mas Joaquim Sá acredita que o apoio possa voltar no futuro, garantindo que quer continuar a desenvolver este trabalho de solidariedade com o qual diz contar com a ajudar de 11 voluntários, que fazem a recolha dos alimentos e os confeccionam.
“Somos quase como uma família”, diz, acrescentando que quando é necessário canalizam as pessoas para outras entidades. Por exemplo, no caso dos toxicodependentes trabalham com a Associação Sol Nascente e, “sempre que há necessidade vêm cá buscar os nossos utentes”.
O responsável informa ainda que as instalações onde funciona a associação têm sido alvo de melhorias. “Estávamos a fazer a copa para dar apoio à cozinha e a iniciar também os balneários”, mas desde há dois meses que as obras estão paradas, altura em que a Câmara os informou que não iria renovar o contrato.
“Temos que reestruturar a associação e precisamos, essencialmente, de arranjar um espaço”, conclui o responsável, que caso não consiga chegar a consenso com a autarquia, já tem um edifício em vista para dar continuidade ao trabalho.

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