Crise tem efeitos colaterais impensáveis nas Caldas da Rainha

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Notícias das CaldasA Rainha D. Leonor e Rafael Bordalo Pinheiro, nos seus túmulos, devem estar a dar voltas, com tanto mal que estão a fazer aos seus legados na terra de eleição para ambos.
A memória destes decisores públicos parece estar ao nível da memória galinha (sem querer “ofender” estes alegres galináceos), uma vez que fundam as suas propostas e decisões na ignorância da história deste país e desta cidade. Estivessem as Faianças Bordalo Pinheiro a sofrer hoje o problema que lhes ocorreu há cerca de quatro anos – quando a fábrica esteve em situação de encerramento, tendo sido salva in extremis pelo governo da época e pelo grupo Visabeira – provavelmente não continuaria a existir a empresa cerâmica mais emblemática da cidade e do país.
Ora, como Gazeta das Caldas noticia nesta edição, o governo tenta fazer um harakiri ao centenário Hospital Termal, tentando o ministro Vitor Gaspar despejá-lo à força no município, que falho de uma visão estratégica para o concelho, há longos anos se desdobra em desculpas, parecendo querer fazer parte do problema e não da solução.


Para um município que se oferece a fazer museus (no caso, um nacional da cerâmica), num país em que a área cultural é carente de público e insustentável do ponto de vista financeiro (ainda agora e nos próximos anos), não existe um rasgo ou a influência para exigir ao Estado que respeite os seus compromissos em relação ao Hospital que é várias vezes centenário.
O que se passa com o Hospital Termal Rainha D. Leonor é uma história incrível, que nos deixa a todos envergonhados com o grau de desresponsabilização e de incúria imenso, por um património natural (as águas e os espaços verdes) e arquitectónico (o Hospital e os outros edifícios), a que se deve acrescentar os doentes que utilizavam as termas e os trabalhadores.
Neste 15 de Maio os caldenses deviam transformar as cerimónias da homenagem à Rainha D. Leonor e da “abertura” do Hospital Termal num momento de protesto e de reprovação de tudo o que tem sido feito ns últimos anos, podendo mostrar essa desaprovação pela canção de Zeca Afonso “Grândola Vila Morena”.
Mas já não bastavam as malfeitorias em relação ao Hospital Termal, para que as gentes da educação associadas à autarquia, acabassem agora a dissimular o nome do fundador da escola secundaria, Rafael Bordalo Pinheiro, num anacrónico título de Agrupamento de Santa Catarina, como se conta também nesta edição.
Bordalo Pinheiro teve muitos inimigos em vida, mas hoje (e depois da sua morte em 1905) é pacífico considerá-lo um dos maiores, senão o maior caricaturista português, como também ceramista e homem da cultura.
Só gente sem critério, ignorante até à ínfima casa, basbaque, pode ter a idéia de fazer desaparecer o nome dum agrupamento de escolas, onde se encontra a mais do que centenária, ligada à história do ensino em Portugal e que perpetua a memória de um dos seus maiores.
O que virá a seguir? Passo a passo (ou Passos a Gaspar), numa sanha indescritível, tem desfeito na cidade e na região, o centro hospitalar, a região de turismo, as escolas, a comarca judicial (cuja sede estava prevista para Caldas e não para Leiria), os serviços agrícolas, etc.
A crise não pode justificar tudo até porque em muitos casos não há justificação simplesmente financeira ou racional para o fazer. Utilizando uma alegoria do ministro da Saúde, muitas vezes, não passa de decisões de uns pavões que pululam nos terreiros do paço.

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