Gazeta das Caldas ouviu militantes dos vários partidos que, tal como os seus representantes, estão contra ou a favor desta moção, consoante o seu posicionamento partidário.
“As facilidades que prometem podem sair muito caras aos portugueses”

“Um momento muito triste para a democracia portuguesa”. É desta forma que a deputada Maria da Conceição Pereira classifica a situação política actual. De acordo com a militante do PSD caldense quebrou-se uma tradição e apareceu um novo paradigma, em que “é preciso ganhar as eleições com maioria absoluta ou então estar disponível para jogos políticos”, disse, referindo-se aos acordos entre o PS e os outros partidos de esquerda.
Para Maria da Conceição esta nova coligação que pretende governar é contrária à vontade dos portugueses, que escolheram Pedro Passos Coelho para primeiro ministro e não António Costa. A também vereadora caldense criticou a atitude do actual secretário geral do PS, que retirou António José Seguro da direcção do partido por ter “ganho por poucochinho”, mas que agora perdeu e não saiu.
Para além disso, denuncia que António Costa, antes das eleições, não deu qualquer indicação que estaria disponível para se coligar com a esquerda e a esquerda radical para formar governo. “Vai criar grandes clivagens nos portugueses que não se revêem nesta forma de criar governo, de alguém que perdeu as eleições”, disse.
Esta situação tem criado um impasse no país, acrescenta, lembrando que no decurso normal o governo já estaria a governar e a preparar o futuro.
Maria da Conceição Pereira acha que agora o Presidente da República vai ter que ouvir várias entidades com importância na vida social e económica do país e está expectante das garantias de estabilidade dadas por António Costa, pois, realça, os “partidos que o estão a apoiar não estão disponíveis para integrar o governo”.
Na opinião da deputada, que poderá deixar o cargo no Parlamento para Teresa Morais, as facilidades que prometem, desde logo da reposição das pensões e aumentos salariais, poderão “sair muito caras aos portugueses”.
Para Maria da Conceição Pereira esta situação resulta de uma “grande ambição politica de António Costa, que chegou ao poder não da forma mais séria e correcta”. Diz mesmo que o secretário geral quer chegar ao congresso do PS e mostrar que, independentemente de ter perdido as eleições, chegou a primeiro ministro.
Coligação “não reconhece legitimidade” a este novo governo
“Volvidos 40 anos de democracia quebrou-se um ciclo que era respeitado por todos os partidos [pelo menos do arco governativo], de nunca rejeitar os governos”, lamenta Manuel Isaac, líder distrital do do CDS-PP. Não sabe o que o futuro reserva ao país a nível político e diz que os partidos que votaram a moção de censura têm toda a legitimidade constitucional para governar, “mas não do povo”.
Agora caberá ao Presidente da República avaliar se estes três acordos para formar governo dão ou não estabilidade ao país e assegurar os compromissos nacionais e internacionais. Manuel Isaac diz desde logo que estes partidos (PS, PCP, BE e PEV) “mentiram” ao Presidente da República porque afirmaram que tinham um acordo para governar, mas este apenas foi assinado hoje (terça-feira) e foram três acordos diferentes.
Manuel Isaac recorda que o sistema é semi-presidencialista e que Cavaco Silva tem poderes que poderá exercer. Acredita que António Costa só será indigitado se o Presidente não tiver outra alternativa e que “tentará de tudo antes disso”. Também destaca que Passos Coelho “fica obrigado, pelo Presidente, a chefiar um governo de gestão, e que não virará as costas ao seu país”.
A coligação PSD/CDS-PP “não reconhece legitimidade” a este novo governo e Manuel Isaac lembra que a trajectória de crescimento que o país atravessa poderá inverter-se. “Não acredito que com mais despesa e menos receita se consiga baixar o défice”, disse o actual deputado que, com a queda do governo deixará o lugar para Assunção Cristas, regressando para a vida politica local, onde é vereador.
“A CGTP é que teve uma vitória”, afirma, referindo-se ao retrocesso no processo de privatização de algumas empresas, como é o caso da TAP.
Dúvidas que acordo parlamentar dure um mandato
O militante socialista caldense e deputado municipal, José Carlos Abegão, está satisfeito com a possibilidade de um governo socialista, mas tem as suas dúvidas quanto ao seu futuro, devido à “diferenciação” que há nos programas dos partidos que compõem a coligação.
“Numa situação de emergência resolveram chegar a um acordo parlamentar para deixar o PS governar”, disse, acrescentando que espera para ver o resultado, sendo que espera que se entendam, para “bem dos portugueses”.
Um forte crítico do governo de Passos Coelho, José Carlos Abegão, reconhece agora que o país cresceu um pouco no final da legislatura e não sabe o que irá acontecer com a governação de António Costa, que já fez saber que pretende aumentar os funcionários públicos e as reformas. O deputado municipal diz mesmo que acha um “exagero” as reformas de valores na ordem dos 4600 euros em Portugal.
José Carlos Abegão é da opinião que o Presidente da República devia dar posse a António Costa, visto que ele conseguiu uma maioria parlamentar, mas reconhece que Cavaco é “muito conservador”, pelo que está expectante em relação ao que irá decidir.
Vê a curto prazo uma melhoria para a classe trabalhadora, mas a médio prazo tem algumas dúvidas sobre o rumo do país, especialmente ao nível do endividamento externo. “O maior erro de Passos Coelho foi em ir para além da troika”, lembrou.
José Carlos Abegão acredita que este acordo parlamentar possa durar dois a três anos, mas acha que com o aproximar das eleições o PCP e BE queiram marcar posição. “Estes partidos descaracterizaram-se e perderam os seus objectivos, mas depois irão querer voltar à sua matriz de origem”, acredita.
Um governo atento às franjas da sociedade
De acordo com Lino Romão, do BE caldense, esta é uma situação normal, decorrente da nova composição da Assembleia da República. As eleições tiveram como resultado uma maioria à esquerda, “que se entende pela primeira vez em 40 anos, para acabar com este governo de direita, de terra queimada”, salientou.
Espera que o Presidente da República “cumpra” a Constituição e que institua um novo governo, “goste ele dele ou não”.
Lino Romão acredita que o governo formado pelo PS, PCP, PEV e BE, vai “romper” com a política de empobrecimento generalizado, repor algumas condições de vida da população, sobretudo nos mais marginalizados, e aumentar a aposta no serviço público, nomeadamente ao nível da saúde e da educação.
O dirigente bloquista espera que este seja um governo que cumpra a legislatura, mas não perspectiva nada de muito radical. Acredita que estará atento às franjas da sociedade, mais marginalizadas, e que irá repor as condições de vida, assim como desenvolver no país um ritmo de maior normalidade social, democrática e económica.
Governo PSD/CDS-PP foi “tempo perdido”
Vítor Fernandes, membro da concelhia caldense do PCP, considera que toda esta situação teve como responsável o Presidente da República, que deu posse a um governo que não tinha maioria na Assembleia da República e não deu tempo nem espaço para que os outros partidos apresentassem uma alternativa. “Foi tempo perdido”, diz, acrescentando que desde o início António Costa disse que só constituiria governo com uma maioria estável na Assembleia da República.
O militante comunista diz que os últimos quatro anos de governação criaram uma “clivagem” muito grande entre os que defendem políticas de direita e quem quer o “acesso público a direitos como a educação, saúde e cultura”, pelo que seria “muito difícil o entendimento entre PS e PSD”.
Vítor Fernandes destaca que se o PS for governo irá governar com o seu programa, introduzindo medidas que negociou com o PCP, PEV e BE, no sentido de “beneficiar quem nos últimos anos foi mais prejudicado, que foram a maioria dos portugueses”.
O deputado municipal acha que o Presidente da República não tem grandes alternativas. Considera que será muito difícil a Cavaco Silva manter um governo de gestão, destacando que isso é “deixar a batata quente para o próximo Presidente da República e o país numa situação ingovernável”. A solução será, na sua opinião, nomear António Costa para formar governo.
Vítor Fernandes diz ainda que tem havido uma tentativa dos comentadores políticos em “dramatizar” a situação e que o PS fará um programa em que mantém os compromissos. “Estão preocupados porque os “amigos” deixam de ser beneficiados”, ironiza, destacando que os acordos com a esquerda vão no sentido de penalizar os mais ricos. Trata-se de uma política diferente, na sua perspectiva, que vai no sentido de aproveitar as “nossas potencialidades e riquezas e desenvolver o país, assim como aligeirar a carga fiscal a quem trabalha, sobretudo a classe média”.































