Bloco de Esquerda gostaria de voltar à Assembleia Municipal

0
1146

Carlos Ubaldo, candidato do BE à Câmara das Caldas, mostra-se cético em relação aos planos do atual executivo e gostaria de voltar a ter representação nas assembleias municipal e de freguesias

Carlos Ubaldo, é a segunda vez que é o candidato do Bloco de Esquerda à Presidência da Câmara das Caldas, o que o motivou a aceitar novamente este desafio?
Aceitei novamente candidatar-me pois há no concelho das Caldas situações que continuam a obrigar uma intervenção política de todas as pessoas. E o Bloco de Esquerda, pelas causas que defende desde sempre, não podia ficar alheado desse combate. E, portanto,  a grande motivação é a de tentar dar resposta àquilo que são as necessidades e os problemas que continuam a subsistir.

 

- publicidade -

Quais são as prioridades para o BE?
O primeiro ponto prende-se com a necessidade de construir cidade, de construir território para toda a gente. E do problema-chave que é a habitação e que foi sempre motivo de luta do BE.  O segundo, e aqui podíamos, de facto, ser muito críticos em relação àquilo que foi a gestão autárquica, tem a ver com uma mobilidade verdadeiramente sustentável que não se concretizou…Nem quero falar do exemplo das bicicletas urbanas. O terceiro ponto é a necessidade de lutar contra a degradação ambiental.  E um quarto ponto, está relacionado com as transferências do Estado Central para as autarquias. Esta é para nós uma batalha que tem de continuar. Não é só transferir, é importante saber se há aceitação daquilo que se transfere e qual é a capacidade que o município tem para as concretizar.

 

Quais  os problemas mais urgentes do concelho e que medidas concretas propõe para lhes dar resposta?
Um dos mais graves é a crise habitacional pois os preços das casas dispararam e não podemos esquecer que esse é um fator muito importante no empobrecimento das famílias. Como público, levantamos a questão da habitação por diversas vezes e numa das últimas Assembleias Municipais. Primeiro, defendemos a construção pública de habitação social, a custos controlados. E defendemos que uma cota de 25% devia ser um número ideal para a construção a preços controlados.

A habitação não é um luxo, é um direito. Era muito importante que esta Câmara tivesse, de facto, conselhos locais de habitação em que pudéssemos ver com transparência e pudéssemos contar com a participação das pessoas.

A mobilidade é um direito geral é aquilo que permite o acesso aos cidadãos de forma mais fácil a outros serviços, designadamente aos serviços de educação ou da saúde.

Podíamos falar do Toma, foi muito criticada a opção pela compra de autocarros que não são novos, de facto era interessante saber a sua taxa de ocupação e a qualidade ambiental dos mesmos. Podemos ver em cidades equivalentes às Caldas a opção foram pequenos autocarros elétricos. Pode parecer um investimento mais significativo no início, mas que tem progressões positivas.

A limpeza da cidade também está deplorável e deixo a sugestão: já há autarquias que têm brigadas e equipas de jovens, que, em ocupação de tempos livres, dão uma ajuda na recolha de resíduo na cidade e também nas freguesias. Por que não se pensa numa recolha de resíduos porta-a-porta? Tem tido ótimos resultados nas localidades onde foi implementado.

A eletrificação da Linha do Oeste nos moldes em que está é solução? O que deve ser feito?
A CP continua a não dar resposta a essa necessidade que seria ter  intermodalidade bilhética. Há muita gente a ir trabalhar para   Lisboa, são dezenas e dezenas de autocarros, quer da Rápida, quer do Expresso, mas o transporte ferroviário tem que ser a solução. E se não houver uma integração do ponto de vista da bilhética nessa intermodalidade vamos ter um problema.

Os estudos dizem que com a renovação da linha, a duração do percurso pouco se altera. O que é certo é que o transporte rodoviário público leva as pessoas a Lisboa a lugares centrais da cidade. E há um problema há muitos anos que é a falta de confiança que se instalou no utilizador do comboio, no Oeste. Portanto, estar agora a dizer que seria preciso fazer uma linha alternativa a determinada altura do percurso para encurtar essa distância, isso, vamos lá ser sérios, não vai acontecer. O Oeste não vai ter tudo, não vai ter o hospital, não vai ter essa linha, não vai ter o TGV… Simplesmente não vai ter.

O BE defende que a linha deve ser modernizada o melhor possível e estar muito atento àquilo que vai ser o percurso Caldas-Norte, para não se fazerem os mesmos erros que se fizeram das Caldas para Sul.

Qual é a posição do BE quanto ao novo hospital do Oeste. A autarquia deve continuar a lutar para manter o hospital no concelho?
Já não nos interessa dizer que o hospital tem que ser construído ali naquele terreno. O BE diz já com toda a clareza: construam-no! E o primeiro passo é que este esteja inscrito no  Orçamento de Estado.

Neste momento não o temos em lado nenhum, nem anúncio disso. O problema agora é quando é que vai ser! O que existe deverá ser alvo de requalificação daquilo que é o serviço existente, porque se nós tivermos um problema é a hospital que vamos agora.

Agora, não ser nas Caldas tem um problema ligado ao contexto social e local. Temos aqui  o hospital há séculos e há um conjunto de pessoas que têm os seus negócios em volta… Há todo um conjunto de coisas que não podem ser ignoradas.

A eletrificação da Linha do Oeste nos moldes em que está é solução? O que deve ser feito?
A CP continua a não dar resposta a essa necessidade que seria ter  intermodalidade bilhética, concretizada, porque  continuamos a ter muita gente a ir, por exemplo, para Lisboa trabalhar, são dezenas e dezenas de autocarros, quer da Rápida, quer do Expresso e de outros fornecedores já diariamente, continua a ir muita gente ainda no seu transporte individual, mas o transporte ferroviário tem que ser a solução. E se não houver uma integração do ponto de vista da bilhética nessa intermodalidade vamos ter um problema e portanto era muito importante continuar a trabalhar nesse sentido.

Os estudos dizem que com a renovação que está a ser feita tem um problema, que é a duração do percurso pouco se altera. O que é certo é que o transporte rodoviário público leva as pessoas a Lisboa a dois lugares muito centrais da cidade e o tempo que a ferrovia vai ganhar podemos dizer que vai ser nulo.

E portanto as pessoas sabendo que podem ir para sítios onde estão habituadas a ir e depois com outras acessibilidades em Lisboa, nomeadamente ao metro e aos autocarros, vão continuar a usar o autocarro até porque os preços são francamente apelativos. E há um problema há muitos anos que é a falta de confiança que se instalou no utilizador do comboio, no Oeste. Portanto, estar agora a dizer que seria preciso fazer uma linha alternativa a determinada altura do percurso para encurtar essa distância, isso, vamos lá ser sérios, não vai acontecer.Oeste não vai ter tudo, não vai ter o hospital, não vai ter essa linha, não vai ter o TGV, simplesmente não vai ter.

O Bloco defende que a linha deve ser modernizada o melhor possível e estar muito atento àquilo que vai ser o percurso Caldas-Norte, para não se criarem e não se fazerem os mesmos erros que se fizeram de Caldas para Sul.

O deve ser feito é algo que permita que, por exemplo, o acesso à capital distrito e depois a ligação à rede ferroviária que está definida, e que permita que as Caldas e a região não fiquem secundarizam. Porque não é só o acesso a Norte, há depois o acesso internacional. E isso é muito importante. Porque Leiria é aqui um passo.

Em relação à mobilidade que  é uma das vossas bandeiras, quer acrescentar mais alguma coisa?
Sim, é preciso melhorar alguns aspetos.Já há autarquias que têm o serviço do transporte a pedido para populações mais desfavorecidas, que lhes dão como, por exemplo, o acesso aos centros de saúde. Através do telefone há Câmaras que dão resposta a essa necessidade de mobilidade de pessoas em situação de maior vulnerabilidade.Cidades como Tomar já oferecem esse serviço e temos aqui concelhos vizinhos onde isso já é feito, como Óbidos.

Na cidade há passadeiras continuam por pintar, em grande quantidade e não se avançou com o projeto das bicicletas e o trânsito no centro da cidade continua sem ter sido pensada alternativa.

Como pretende o Bloco de Esquerda reforçar as concessões sociais do Estado a nível local, nomeadamente, na saúde e na educação?
Na educação, nós sabemos que o Ministério da Educação continuou a ser muito centralista. Creio que cabe às câmaras municipais garantir que as escolas têm condições de conforto e de eficiência energética. A questão da educação não é só o que se ensina e o que se aprende, mas é também como se ensina, onde se ensina e as condições para tal.

Há ainda muitos migrantes que precisam que a sua integração passe também por uma resposta dos serviços educativos, que não seja só o de aprenderem a língua portuguesa. A Câmara deve ser mais proativa e ter uma   ação de interculturalidade.

Na saúde sabemos que não é a Câmara que define as políticas nacionais de saúde mas é importante reconhecer que a nível local se pode desempenhar um papel ativo, fazendo pressão sob o poder central. Nenhum  Presidente de Junta se devia queixar do risco em que está a sua unidade de saúde na freguesia, de fechar por falta disso ou daquilo. Quer dizer, isso não é normal. Não é uma responsabilidade da autarquia, nós sabemos.

As unidades locais de saúde devem ainda continuar a desenvolver o seu trabalho de proximidade. Depois, o apoio domiciliário é um trabalho que a Câmara pode ajudar a fazer.

Há muito que defendemos um outro aspeto que parece que nada tem a ver com a saúde mas que tem tudo e que é a questão do apoio ao pagamento da fatura da energia para as famílias que precisassem desse apoio.

As Caldas é cidade coletiva da UNESCO há quatro anos. Esse potencial está a ser bem aproveitado ou é preciso fazer algo mais?
Há coisas que nós não podemos negar que tiveram uma resposta mais qualificada. Quer dizer, a mudança que se fez na gestão do CCC  trouxe indubitavelmente melhorias. Mas a cultura nas Caldas não se pode resumir a isso. O Bloco propõe que se faça o mapeamento sociocultural e perceber que estruturas e espaços culturais existem. Por exemplo, achamos que o Centro de Artes é um espaço notável, mas que tem um uso muito aquém daquilo que é o seu potencial.Um dos seus museus, Atelier-Museu João Fragoso está encerrado há vários anos! Ainda há a questão dos artistas que ocupam os ateliers. Quem são?  Como é que outras pessoas podem ter acesso a esses espaços?

A Casa Amarela foi muito bem reabilitada, mas continuamos a sentir que não há uma resposta arquivística para a cidade. No Concelho caldense há outros equipamentos e outros lugares de interesse cultural e, portanto, essa articulação com as juntas de freguesia é muito importante fazer-se. E a articulação com as escolas deve ser  permanente.

Depois os três espaços Centro da Juventude, Biblioteca Municipal, Teatro têm tido dificuldade em arrancar ou em requalificar-se. Sabemos que as verbas não são abundantes e, portanto, dependem também de programas europeus. É preciso o seu tempo para dar resposta, mas há demasiado tempo que o Centro da Juventude está fechado.A Biblioteca tarda em ser requalificada e a obra do Teatro da Rainha não correu bem e é preciso uma justificação sobre o que se segue.

E como é que se pode potenciar o crescimento económico do concelho?
Esse é mais um chavão….Dou como exemplo a Árvore de Natal que tem como objetivo apoiar o comércio local mas não sei se trará algum retorno… Não há nada junto à árvore que nos leve a gastar dinheiro. As pessoas vêm passear, veem as luzinhas mas afinal qual é o retorno para a economia local?

Mas acha que poderá haver incentivos para a instalação de empresas? O que é que o BE defende?
Nós temos um problema pois veio de outro concelho uma empresa que está a crescer e que está ligada à indústria de guerra que é Tekever. Claro que é importante pensar que assegura postos de trabalho,  mas nós não podemos ser ingénuos e pensar que se as coisas correrem mal, nós não temos consequências. É preciso pensar que indústrias como essa, ligadas a determinadas áreas ou setores como o das armas, não é uma coisa inócua. Temos planos de contingência?

O atual executivo apresentou um Master Plan para o termalismo. Concorda com o projeto ou tem uma visão diferente?
Mas alguém acredita que se vá a concretizar o Master Plan do termalismo? Alguém acredita que são precisos mais quatro anos para dizer agora é que vai ser? Quer dizer, é isso que tenho de perguntar às pessoas. As pessoas acreditam ou não? Portanto, o Bloco está muito cético em relação a isto. Como é que um plano para o termal, como foi desenhado, continua a contemplar um uso maciço e abusivo do Parque D. Carlos I para fins que nada correspondem àquilo que é hoje uma visão moderna do termalismo? Até em pequenas coisas como a gestão do tráfego no Largo do Termal não é eficiente, alguém acredita que o plano para o termalismo apresentado vá ter alguma consequência?

A Lagoa de Óbidos é outro dos problemas crónicos do Oeste. O que pensa o BE sobre o assunto?
É de facto verdade, a Lagoa é um problema crónico e, como tal, deixamos de querer resolvê-lo porque ele é crónico e vamos a viver com ele.

Nós tivemos a ocasião de visitar a Lagoa com o professor Fernando Rosas e tivemos uma conversa com a pessoa responsável pela Associação de Mariscadores. Constatámos que há problemas difíceis de resolver e que precisam de uma intervenção  constante e permanente. E também há o problema da apanha ilegal. Era preciso requalificar os caminhos que ladeiam a Lagoa e o parque de auto-caravanas já não se aceita naquele estado, sem qualquer aposta na criação de espaços verdes.

Para a Lagoa creio que se justifica adquirir uma draga, creio que esta poderia ser adquirida em conjunto com outros municípios, podia ser uma solução. Até porque depois o inerte retirado, poderia ser vendido.

 

Durante o mandato foi várias vezes à Assembleia Municipal questionar sobre problemas do concelho e queixou-se de ter poucas respostas. Como é que uma Câmara deve comunicar com os seus municípios?
Sim as respostas são escassas. Eu  vou lá como cidadão imbuído de um conjunto de interesses políticos e a lei permite-me manifestar e perguntar. A maioria das perguntas não obteve resposta. Há rotundas nas entradas da cidade que estão ao abandono, o que se pretende fazer com o parque junto ao Cencal ou que se pensa fazer nos espaços que foram criados junto ao complexo desportivo. O estacionamento continua desordenado em frente ao Hotel Sana, onde há parque para autocarros turistas e vocês passam lá toda a hora e está cheio de carros particulares. Há muito por fazer.

Passamos aos temas da imigração e da segurança. Qual é a posição do BE?
Deveríamos ver a questão da imigração ao contrário, olhando para a emigração pois continua a saída de portugueses  para o estrangeiro.E nós estamos sempre a olhar para aqueles que entram… Eu corto o cabelo num cabeleireiro indiano. Nunca fui tão bem tratado. Mas o que aparece nas notícias são cenas de pancadaria…Mas não nos podemos esquecer  que também há cenas de pancadaria também nas touradas ou entre as claques do futebol. Portanto, os municípios têm um papel central na construção de comunidades inclusivas e na promoção da interculturalidade.

Seria muito interessante a Câmara criar a figura do provedor municipal da cidadania. A cidadania tem estado nas bocas do mundo pelas piores razões, como se cidadania fosse apenas a questão de sexualidade. Já agora, as Caldas tem uma marcha LGBT que se devia orgulhar e que devia ter o apoio da comunidade política. Era importante que a autarquia tivesse um trabalho de proximidade e de apoio com o associativismo local. A autarquia poderia recorrer ao Fundo de Apoio à Migração e Integração, que é o FAMI 2030 e  obter apoio para desenvolver algumas políticas de apoio aos migrantes.

Em relação à segurança achamos que inseguro é circular nas Caldas quando o trânsito vai a velocidade excessiva.E que se corre risco de vida nalguns casos quando se tenta atravessar…

Cria muita sensação de insegurança sentir que vamos à cidade e que o lugar de estacionamento para uma pessoa com mobilidade reduzida não existe próximo do sítio onde se precisa de ir.

Insegurança é também sentirmos que há um certo desordenamento do território ou que há zonas sem eletrificação na cidade. A insegurança que o desemprego nos cria, a insegurança de sermos despejados e não termos um salário que nos permita pagar um arrendamento ou comprar uma casa.  A insegurança de ser um jovem casal e de não ter uma vaga numa creche, isso é que é insegurança.

O BE acha que a comunicação social deve ser apoiada em termos de política pública local?

É muito importante que a imprensa local tenha toda a possibilidade de estar sempre na linha da frente, presente naquilo que são os espaços formais e informais de discussão pública.

Temos visto que alguns órgãos de informação local se transformaram muito, por razões de sobrevivência, em veículos de transmissão de não notícias. Mas é o que é. É um pouco a lei do mercado, é um pouco a lei da sobrevivência.

Penso que a comunicação social deve ser apoiada como aconteceu com anteriores governos com o porte pago. Acho que deve haver apoios até porque a democracia tem custos. E esses custos são zero comparado com o oposto a isso. A não notícia só interessa ao bandido.

O que será um bom resultado nestas eleições?
Um bom resultado seria voltarmos a ser eleitos para a Assembleia Municipal. Também vamos concorrer às duas uniões de freguesia urbanas. Não vamos concorrer à Junta de Freguesia do Nadadouro. E até tínhamos pessoas para compor uma lista. Mas, por razões internas, não houve energia suficiente. Não queremos concorrer só porque sim.

E, obviamente, a representação em Assembleia Municipal era muito importante. Achamos que a nossa candidata, a Rita Nóbrega, traz uma lufada de ar fresco.

Sabemos que a candidatura à Câmara Municipal tem as limitações que tem, até porque há outros candidatos no terreno. Mas estamos muito curiosos com a forma como o xadrez político se está a dividir e a unir com as forças todas que estão aí. O PS não tem candidatura autónoma. E isto é um sinal de que nós todos fazemos falta pela diversidade de opinião, porque todos somos poucos para construir as Caldas, mais e melhor.

- publicidade -