BE quer contrariar nas Caldas “uma cultura de silêncio, passividade e imobilismo”

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O mandatário Valter Vinagre, o deputado na Assembleia da República, Heitor de Sousa e os candidatos à Assembleia e à Câmara, Carla Jorge e Lino Romão | Fátima Ferreira

Críticas à “falta de entusiasmo” e hesitações de Tinta Ferreira e à oposição, “que se deixou seduzir” pelo novel presidente, foram deixadas pelo candidato do Bloco de Esquerda (BE), Lino Romão, na apresentação pública que decorreu no passado dia 4 de Maio, na pastelaria Machado, na Rua de Camões.
Os bloquistas querem uma maior participação dos cidadãos e estão apostados em voltar a mostrar a sua “irreverência” nos vários órgãos autárquicos.

O Bloco de Esquerda faz uma avaliação “muito crítica” dos últimos quatro anos do executivo PSD nas Caldas e estende essa leitura ao papel das oposição que, segundo o candidato Lino Romão, deixou-se seduzir pelo “canto da sereia” do presidente Tinta Ferreira. Referindo-se ainda ao autarca, Lino Romão falou dos seus “discursos redondos, sem qualquer capacidade de iniciativa, sem chama nem entusiasmo”.
O candidato bloquista denunciou o recuo na reivindicação por um novo hospital para o Oeste, que se ficou por obras no actual, e que neste assunto o PSD contou com o apoio do Movimento Viver o Concelho (MVC). O MVC foi, aliás, apelidado de “a sua equipa B, que nos momentos importantes apoiou sempre as medidas da autarquia, ao ponto de se tornar alvo de chacota na própria Assembleia Municipal”.
As críticas à Câmara alargaram-se à área da Educação, com Lino Romão a revelar que o executivo nunca “escondeu a sua preferência no apoio aos colégios privados”. Relativamente à regeneração urbana, disse que pouco mais foi feito do que “arranjar passeios e privatizar o estacionamento, aumentando as dificuldades do comércio e serviços”. Isto leva a que, na sua opinião, os cidadãos deixam cada vez mais o centro da cidade para se deslocarem para a periferia, onde estão localizadas as grandes superfícies, que oferecem “bons e gratuitos estacionamentos”.
Também as freguesias foram esquecidas nos últimos quatro anos, apontou Lino Romão, revelando que não foi feito qualquer investimento digno de registo. Referindo-se ao Hospital Termal, o candidato do BE falou da “miragem” que se afigura a sua abertura pois continua a não haver qualquer calendarização para os próximos anos.
O bloco caldense está a trabalhar em várias ideias que pretende passar a projectos estruturantes com impacto directo na criação de emprego local. “Serão projectos a convocar investimento da autarquia, mas que ao contrário de acrescentarem despesa, encerram potencial de aumentar a receita própria da Câmara”, disse, apelando ao voto neste partido como “forma de contrariar esta cultura instalada de silêncio passividade e imobilismo”.
O Bloco vai promover um ciclo de debates-conversas, sob a designação de “Observatório”, aberto à participação de todos os munícipes.

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“Autarquia com precariedade zero”

Na Assembleia Municipal faltou a “irreverência do Bloco”, assumiu Lino Romão, criticando o papel da oposição, que adjectivou de “adormecida e silenciosa”. Para contrariar isso, o BE candidata como cabeça de lista a esse órgão Carla Jorge, activista e porta-voz do movimento de Precários do CHO.
Na sua intervenção, Carla Jorge disse que querem ser a voz que “não desiste dos direitos de quem trabalha e vive nas Caldas” e mudar o poder instituído.
Referindo-se à Lagoa de Óbidos, a candidata denunciou a destruição a que está sujeita, fruto das descargas e da contaminação dos resíduos urbanos, assim como de dragagens “insuficientes e mal geridas”. Disse que os munícipes querem uma lagoa limpa e sustentável, assim como locais onde possam deixar os filhos até sair do trabalho e transportes públicos adequados às necessidades de deslocação diária.
“A Câmara Municipal tem estado fechada num círculo de interesses e não comunica com a população”, criticou Carla Jorge, realçando que a programação cultural que oferece é pobre e que não inclui os artistas locais de forma participativa. “As ruas e o parque D. Carlos I estão despejados de cultura por incapacidade de comunicação e falta de investimento público apropriado”, exemplificou.
A candidata à Assembleia Municipal considera que a cidade precisa de reabilitação e de infra-estruturas como ciclovias, parques de estacionamento gratuitos, parques de diversão e acessos adaptados a pessoas portadoras de deficiência.
Referindo-se ao hospital das Caldas, onde trabalha, Carla Jorge falou das dificuldades por que atravessa e criticou o executivo por não defender “convenientemente” aquela unidade e a qualidade dos seus serviços. Reconhece que não cabe à Câmara realizar investimentos no hospital, mas considera que esta tem de ser uma voz activa para que tal aconteça.
Numa altura em que o governo já assumiu o compromisso de acabar com a precariedade no Estado, a candidata diz que as autarquias locais têm que lhe seguir o exemplo. “Queremos uma autarquia com precariedade zero”, disse, acrescentando que é “tempo de fazer justiça na vida de quem trabalha e garantir serviços de qualidade à população das Caldas”.
A candidatura do BE nas Caldas tem como mandatário o fotógrafo Valter Vinagre, que aceitou o desafio pela ligação que tem à cidade (onde viveu durante 30 anos) e pela consciência que tem do concelho viver um estado de “adormecimento latente”, segundo disse.
O mandatário criticou o subaproveitamento das estruturas culturais e da Lagoa de Óbidos enquanto recurso natural e turístico.
Acredita no lema da candidatura “Mais cidadania, maior participação” e acha que é disso que o concelho necessita para romper com 30 anos de uma maioria absoluta do PSD nas Caldas.
Já o deputado na Assembleia da República, eleito por Leiria, Heitor de Sousa, mostrou a sua convicção de que Lino Romão conseguirá ser eleito vereador na Câmara. O dirigente bloquista destacou também a luta travada por Carla Jorge enquanto porta-voz dos precários do CHO e anunciou que, de acordo com a portaria já aprovada, os 180 trabalhadores precários do CHO podem apresentar uma candidatura conjunta para integração nos quadros.
Heitor de Sousa deixou ainda o desafio aos simpatizantes das freguesias para se mobilizarem, de modo a que também possam haver listas do BE a concorrer às autarquias de base.

Queixa caldense ainda sem decisão dos órgãos nacionais

Continua por decidir, no órgãos nacionais do BE, a questão das contas da campanha eleitoral de 2013 em Peniche e o processo em sede da Comissão de Direitos do BE, resultante da queixa apresentada em 2014 por Fernando Rocha contra Paulo Freitas. “Enquanto não for decidida, nós nas Caldas não nos pronunciamos sobre isso”, disse Lino Romão à Gazeta das Caldas.
O candidato esclareceu que estes assuntos demoram o seu tempo pois há necessidade de proceder a avaliações e inquéritos, para tentar perceber o que se passou.
Já Manuela Pereira, membro da comissão coordenadora distrital do BE, realçou que esta estrutura tem-se empenhado junto da Comissão de Direitos para que o assunto seja resolvido. Além disso, acrescentou, “nas relações entre a distrital e as pessoas das Caldas esse é um assunto que não se coloca”.
Foi a distrital de Leiria quem indicou os nomes dos candidatos (Lino Romão e Carla Jorge), que depois foram votados em plenário concelhio. O próximo passo será formar uma direcção de campanha.
Lino Romão destaca que o facto de não existir uma concelhia eleita não lhe traz preocupações e que isso não é uma coisa estranha à organização do bloco. “Estamos todos a trabalhar com estas assembleias de militantes e as coisas têm corrido bem”, salientou.

 

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