“O concelho das Caldas da Rainha precisa de uma nova dinâmica”

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No arranque do ciclo de entrevistas aos candidatos autárquicos, numa
parceria com a 91FM, o cabeça de lista da CDU à Câmara das Caldas não poupa
críticas às maiorias sucessivas do PSD desde 1985. Para António Barros, os social-democratas têm feito muitas promessas, mas pouca obra no concelho

Aos 71 anos, António Barros está preparado para mais um combate eleitoral. Depois de ter sido candidato à Câmara das Caldas em 2009, volta à liça nas próximas autárquicas, encabeçando a lista da CDU. Um novo hospital para as Caldas e a revitalização da Praça da Fruta são duas das prioridades da coligação.

O que o leva a candidatar-se à Câmara das Caldas?
Em nosso entender, a maioria do PSD que geriu a Câmara nos últimos 35 anos tem feito muitas promessas e poucas obras. Estamos no primeiro quarto do século XXI e o concelho estão parados, não há desenvolvimento. Caldas já foi uma cidade de referência no distrito e deixou de o ser, precisa de uma nova dinâmica. Uma dinâmica séria, com projetos, mas que sejam projetos e propostas que não surjam apenas em anos eleitorais.

“A maioria do PSD que geriu a Câmara nos últimos 35 anos tem feito muitas promessas e poucas obras”

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E que propostas concretas tem a CDU para apresentar ao eleitorado?
A requalificação urbana e a limpeza da cidade são prioridades. Mas há mais prioridades,. que são promessas com mais de duas décadas desta maioria e que até já foram aprovadas na Assembleia Municipal e estão paradas e às quais daremos atenção. Dou o exemplo da estrada Santa Catarina-Caldas, que é urgente, mas podia falar da chamada primeira circular com a ligação ao moinho do Saloio, no alto das Gaeiras, o que permitiria que grande parte do trânsito que chega das freguesias de Carvalhal Benfeito, Salir de Matos e da Benedita não tivessem de passar pela cidade.

Mas essas são promessas antigas. E novos projetos?
Há coisas que têm de avançar. Queremos que seja concluído o saneamento nas freguesias rurais e que a revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) avance, de uma vez por todas. O PDM das Caldas é de 2002 e até hoje ainda não teve revisão. Foi aprovada na Assembleia Municipal, por proposta da CDU, a criação de uma comissão para a revisão do PDM, mas o então vereador João Aboim não foi recandidato e o processo parou. Voltámos a insistir no mandato seguinte e o vereador Alberto Pereira voltou a agarrar no processo e voltou a parar. As freguesias rurais precisam ser dinamizadas e com este PDM, que foi feito à pressa, isso não é possível. Não podemos ter uma revisão do PDM “oportunista”, apenas para os pavilhões do Parque.

“Não vamos falar das outras candidaturas. Não somos daqueles que se chatearam e estão a escolher lugares para irem para outros lados”

Desde os tempos da APU que não elegem um vereador. O que tem falhado para que isso aconteça? É a mensagem?
Não temos elegido porque as pessoas têm optado por outras forças políticas, mas entendemos que é necessário um reforço da CDU na Assembleia Municipal e na Câmara e é por isso que nos vamos bater nesta campanha. Queremos que haja um grande esclarecimento na cidade e nas freguesias rurais, pois pretendemos aumentar a nossa influência nos órgãos autárquicos. Não para benefício da CDU, mas para benefício do concelho. O meu camarada Vítor Fernandes, o único representante da CDU na Assembleia Municipal, foi o deputado que mais propostas apresentou neste mandato, muitas aprovadas por unanimidade, mas essas propostas não têm passado do papel.

Nunca houve tantas candidaturas à Câmara. Com este cenário, é possível eleger um vereador?
Acreditamos que sim, mas temos consciência de que temos de aumentar a nossa votação. A dispersão de candidaturas pode até tornar mais fácil essa tarefa. Não vamos falar da outras candidaturas, nem de candidatos. Não somos daqueles que se chatearam e estão a escolher lugares para irem para outros lados.

O PCP tem-se batido pela classificação da Lagoa de Óbidos. Essa continuará a ser uma bandeira?
A Lagoa de Óbidos, tal como a Linha do Oeste, é um processo no qual nos temos envolvido. Temos promovido visitas de deputados O dessassoreamento da Lagoa é importante, tal como a classificação, mas isso não chega. Não podemos permitir que se voltem a cometer os erros do passado. Relativamente à Linha do Oeste, queremos a duplicação e a eletrificação até Caldas, e depois para norte, mas isso não basta. Queremos comboios que sirvam as populações. Não foi por acaso que se fez a aposta que se fez na rodovia… Era preciso distribuir uns tachos por uns amigos.

A CDU foi contra a opção da Câmara assumir a gestão do Hospital Termal. Mantêm essa posição?
Entendemos que não houve ganhos com essa opção, porque a Câmara não tem vocação para gerir hospitais. Não tem vocação, competências ou meios. A não ser para criar alguns lugares para os boys. O Hospital Termal tem de voltar a ser integrado no SNS. E temos algum receio, porque admitimos que a entrega do Hospital à Câmara possa ser um primeiro passo para a privatização do hospital. Queremos um Hospital Termal a funcionar como funcionou durante tantos anos.

Mas tem informações nesse sentido?
Admitindo que o hotel no Parque avança, fará sentido que quem venha a explorar o hotel queira beneficiar das águas termais. É por isso que dizemos que pode ser um primeiro passo. Sempre fomos contra o projeto do hotel, até porque acreditamos que, por este caminho, daqui a uns anos os caldenses podem ter de tirar bilhete para visitar o Parque.

E que modelo para a Praça da Fruta?
A Praça da Fruta deve manter-se ali, têm é de se criar condições para os vendedores e para as pessoas. Admitimos outras propostas para aquele espaço, mas entendemos que a Praça tem de ser requalificada, que seja construído um grande parque de estacionamento no topo da praça, com instalação de sanitários públicos. Mas tem de haver um entendimento entre a Câmara e o Hospital. Relativamente ao hospital, deixem-me dizer que defendemos, há muitos anos, que sejam criadas outras condições naquela unidade de saúde. Faltam condições materiais e meios humanos. Mas propomos, também, que o novo Hospital do Oeste seja feito nas Caldas. Esperamos que os outros candidatos apoiem esta questão. A localização desse hospital seria na antiga fábrica da Matel, onde estão agora os Serviços Municipalizados.

O Bombarral já reservou um terreno na revisão do PDM para receber o Hospital do Oeste. Caldas tem capacidade para liderar esse processo?
Esperamos que o Bombarral não reclame o hospital porque tem um secretário de Estado da Saúde que é bombarralense… Caldas da Rainha tem de assumir este processo e criar condições para receber um hospital de referência no Oeste. Enquanto não há novo hospital, tem de se melhorar as condições do atual.

“A cidade está parada”

Candidato respondeu às perguntas dos leitores. Segue-se a entrevista com Filipe Daniel, candidato do PSD em Óbidos

“Muito crítico” da política cultural da Câmara, o candidato da CDU considera que a cidade está a decair e reclama “mais investimentos”. António Barros defende que o Museu da Cerâmica nas Caldas “tenha âmbito nacional” e propõe que a autarquia reserve “um espaço” na Praça da Fruta para “grupos amadores atuarem aos fins de semana e os ceramistas possam expor”.
No final da entrevista, António Barros fez questão de responder a questões lançadas por leitores da Gazeta das Caldas.
Eduardo Manuel, de Santa Catarina, quis saber junto do candidato “o que difere a CDU do PSD” e a resposta foi célere.
“O que nos difere é que muitas das propostas que apresentámos e foram aprovadas ficaram no papel. A cidade está parada, o concelho parou e nós queremos uma nova dinâmica para o concelho. Estamos muito preocupados com o que vai acontecer ao comércio tradicional, quando terminarem as moratórias”, esclareceu o cabeça de lista, criticando, ainda, a “opção de privilegiar” a União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório, em detrimento da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro. “Todos os grandes eventos passam-se na freguesia de Nossa Senhora do Pópulo”, notou.
Por fim, Sofia Vicente, do Carvalhal Benfeito, perguntou se a CDU “tem espaço num concelho tão marcadamente de direita”, o que originou nova resposta pronta. “Gostava de dizer que o nosso concelho não é de direita. O PSD tem sido mais votado no concelho e não é um partido de direita. Além disso, a CDU tem sempre espaço, mesmo em concelhos menos favoráveis em termos eleitorais”, afirmou António Barros, revelando que Carvalhal Benfeito é “uma das freguesias onde a CDU sempre teve dificuldades para fazer listas”. “Fizemos muitos contactos, mas as pessoas têm medo. Pessoas que sabemos que são honestas, mas têm medo que o primo não arranje trabalho ou seja perseguido”, advertiu.

Ciclo prossegue
Filipe Daniel, candidato do PSD à Câmara de Óbidos, é o próximo convidado no ciclo de entrevistas aos candidatos autárquicos. Os leitores interessados em colocar questões ao candidato podem fazê-lo até sábado, através do e-mail autarquicas@gazetadascaldas.pt

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