Esta a opinião do economista Augusto Mateus, responsável pela empresa que está a desenvolver o Plano Estratégico para as Caldas até 2030. Na primeira sessão de trabalho pública, que decorreu no CCC a 26 de Abril, participaram mais de 70 pessoas que também deram o seu contributo, mas acima de tudo quiseram ter a garantia de que este documento que agora começa a ser delineado não irá para a gaveta. O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, prometeu que isso não irá acontecer. “Quero fazer parte da elaboração de um plano estratégico para cumprir”, disse o autarca, acrescentando que, com apoios comunitários, o montante a investir nos próximos anos poderá chegar aos 60 milhões de euros. A próxima reunião, dedicada às questões ambientais e de sustentabilidade, decorre a 10 de Maio.
“A estratégia para a competitividade das Caldas tem que ser de atractividade”, defendeu o economista e antigo ministro da Economia, Augusto Mateus. O responsável vê no termalismo e turismo dois vectores essenciais, mas destaca que as Caldas tem que brilhar apostando também nas indústrias criativas. “Mais do que o saudosismo do que foi a cerâmica, as Caldas têm um papel muito importante no desenvolvimento de uma indústria e serviços virados para aquilo que é o conforto do lar”, exemplificou. O economista referiu que longe vai a ideia de que são necessárias empresas que invistam muito para criar riqueza, defendendo antes a obtenção de lucros baseados no conhecimento, valor do capital humano e da cultura. Entende que as Caldas precisa de se afirmar e criar atractividade, eventualmente, tendo a coragem de inventar o conceito de uma cidade-vila, dado que “os portugueses têm a ideia de que o que é pequeno é bom”. Mas para ser atractivo é necessário que o território não tenha medo do seu futuro. No entender de Augusto Mateus, não há razões para as Caldas o temer, pois tem uma dinâmica demográfica positiva e está localizada às portas de Lisboa, a principal região do país e uma das grandes regiões europeias. “Com sonho realista creio que é possível mais participação na globalização, mais cosmopolitismo e mais identidade do ponto de vista da função específica que as Caldas pode desenvolver na região de Lisboa e no desenvolvimento da economia portuguesa”, resumiu. Augusto Mateus disse que seria bom se houvesse uma grande proximidade da iniciativa empresarial e não o clima de insegurança que muitas vezes existe no país.
TURISMO TEM RETORNO GARANTIDO
Nesta primeira sessão dedicada a “Afirmar o modelo competitivo das Caldas da Rainha”, o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), Pedro Costa Ferreira, defendeu a aposta que deve ser feita no turismo, um sector que no país tem vindo a crescer todos os anos. “O ambiente é favorável e o sector tem retorno garantido”, disse. O especialista considera que as Caldas deve diferenciar-se nos nichos de termalismo e saúde, que é um nicho de procura internacional. Também a área dos eventos lhe merece destaque. Pedro Costa Ferreira defendeu ainda que é muito importante ganhar mercado ao nível da oferta turística e trabalhar em rede. Também o médico hidrologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Hidrologia, Santos Silva, realçou que a cidade tem uma tradição e património “indiscutível” em termos de termalismo. Considera que há necessidade de, com “imaginação, criatividade e inovação”, fazer com que as Caldas volte a ser uma cidade termal, destacando as novas vertentes do bem-estar. O responsável falou do estado da arte do termalismo em Portugal e do interesse que há da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica no intuito de valorizar, promover e credibilizar o termalismo através da investigação. Referindo-se às Caldas, disse que via com bons olhos que os alunos que frequentam o mestrado integrado de Medicina pudessem fazer estudos médico-neurológicos e investigação sobre as suas termas. Santos Silva deu ainda o exemplo o complexo termal de Unhais da Serra, que compreende um hotel de 90 quartos e um centro de bem-estar, tendo a água mineral natural como âncora do projecto, que considera poder replicado nas Caldas.
AUTARCA QUER UM PLANO REALISTA
Com o plano estratégico existente já desactualizado, a Câmara das Caldas começou a dar os primeiros passos para a criação de um novo documento para definir o caminho das Caldas nos próximos anos. O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, partilhou com os presentes que a técnica de empresa de consultoria, nas reuniões que já tiveram, lhe disse para sonhar um pouco e reconheceu que tem alguma dificuldade em fazê-lo. Isto porque considera que este plano estratégico deve ser realista, ao invés do anterior (da gestão de Fernando Costa), que para 10 anos previa um investimento de 135 milhões de euros. De acordo com Tinta Ferreira, na melhor das hipóteses esta autarquia tem entre 30 a 45 milhões de euros para gastar em investimentos municipais. “Quero fazer parte da elaboração de um plano estratégico para cumprir”, disse o autarca, acrescentando que, com apoios comunitários, o montante a investir possa chegar aos 60 milhões de euros. O presidente da Câmara não terá um intervenção muito significativa na elaboração deste plano, disse, para não o condicionar. No entanto, deixou o compromisso de que este é para “ser feito e levado a sério”, pedindo a todos contributos para a sua elaboração. A primeira sessão contou com a presença de mais de 70 pessoas. Entre os intervenientes, o vereador do PS, Rui Correia, falou das dificuldades do poder local face as múltiplas circunscrições da administração central. “Continuamos a ter uma incapacidade governamental em assumir a terapêutica termal como uma evidencia científica”, disse, acrescentando que toda essa dificuldade que existe na comunicação entre poder local e central muitas vezes acaba por “nos arruinar os sonhos, sejam eles realistas ou não”. Já o arquitecto e deputado municipal do PS, Jaime Neto, referiu que as Caldas deve afirmar o modelo de cooperação com os municípios vizinhos e conjugar o património hidrogeológico com a onda da Nazaré e o surf de Peniche. O também arquitecto Manuel Remédios, recordou que grande parte dos planos estratégicos das cidades portuguesas ficaram na gaveta, mostrando a apreensão com o que irá acontecer com este documento. Recordou que o documento para a instalação de um campo de golfe na Foz do Arelho levou 10 anos para ser aprovado. “Gostaria que o professor Augusto Mateus, com grande experiência em Economia, pudesse implementar uma agência de desenvolvimento das Caldas para facilitar o investimento de pessoas que gostariam de aqui investir”, sugeriu. O vereador do CDS-PP, Manuel Isaac, considera que o grande desafio que se coloca actualmente é trabalhar a nível regional. A próxima sessão de trabalho irá realizar-se a 10 de Maio, pelas 21h00, no CCC, e terá por tema “Assumir preocupações ambientais e de sustentabilidade nas Caldas da Rainha”. Este encontro irá incidir sobre o ordenamento do território e desenvolvimento urbano e rural, o conceito integrado de cidades inteligentes, a mobilidade e conectividade sustentáveis, a preservação e valorização dos recursos endógenos (naturais e construídos) e ainda os modelos de relacionamento com o cidadão. Para falar sobre estes assuntos foram convidados o investigador e coordenador do Instituto de Ciências Sociais, João Ferrão, o director da divisão de Cloud da IBM Portugal, Gonçalo Costa Andrade, e a presidente do instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade, Paula Teles.































