Associativismo, uma escola para a política local

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As listas que vão sendo conhecidas para as próximas eleições autárquicas mostram uma tendência crescente dos partidos políticos em convidar para candidatos aos órgãos de poder local pessoas que se vão destacando pelo trabalho ao nível do associativismo.
Dos vários candidatos já conhecidos às câmaras, juntas e uniões de freguesias das Caldas e Óbidos, são vários os nomes que chegam à política depois de passagens, com maior ou menor mediatismo, pelo movimento associativo, seja na presidência, seja noutros cargos.
No concelho das Caldas da Rainha, Vítor Marques trocou a presidência do Caldas SC há quatro anos para se candidatar à presidência da União de Freguesias de N. Sra. Pópulo, Coto e S. Gregório, eleição que venceu. Presidiu o clube numa altura em que este fez uma recuperação financeira notável.

Luís Barros, actual candidato à junta de Santa Catarina, foi presidente do GD Peso e foi o responsável pelo desenvolvimento do clube a nível de infra-estruturas e também na fase de maior dinâmica no futebol de formação. Paulo Sousa, candidato à freguesia de A-dos-Francos, foi o treinador e coordenador que deu projecção nacional ao futebol feminino do GDC de A-dos-Francos. É actualmente presidente da Assembleia de Freguesia. Alice Gesteiro, que se recandidata à freguesia do Nadadouro, também preside o Centro de Apoio Social do Nadadouro, que dinamiza o apoio social daquela localidade. E Rui Jacinto, novamente candidato à junta de Salir de Matos, é dirigente da Associação de Solidariedade e Educação de Salir de Matos e preside à Associação de Caçadores.
Em Óbidos, o candidato do PS à Câmara, Vítor Rodrigues, é fundador e presidente da Associação Espeleológica de Óbidos, com actividade ao nível do desporto e de projectos sociais, como organização de campos de trabalho internacionais. Nas eleições de 2013 o PSD também recrutou nas associações. Luís do Coito, actual presidente da junta das Gaeiras, presidia a Associação O Socorro Gaeirense, de cariz social, e Hélder Mesquita, que venceu as eleições no Olho Marinho, vinha da União de Amigos do Olho Marinho.
Há razões de vária índole que tornam lógica esta escolha de dirigentes associativos para cargos na política local. Tal como as autarquias locais, o trabalho das associações, sejam elas de cariz desportivo, social ou cultural, é feito em prol da população, um pouco à imagem do poder local, mesmo que numa escala diferente.
Acaba por ser uma ordem quase natural das coisas um dirigente que se destacou num serviço à comunidade, numa associação ou colectividade, ser recrutado para continuar esse trabalho nos órgãos de  poder local. A maioria dos candidatos com passado no associativismo concorrem a lugares nas juntas de freguesia, onde beneficiam da relação que construíram com a população. Muitas vezes os dirigentes associativos são figuras carismáticas das suas terras, o que também as torna atraentes para um partido que quer ganhar uma eleição.
Num âmbito diferente, mas ainda interligado com os anteriores, há uma ligação quase sempre directa entre o associativismo e o poder local. Isto porque as associações substituem a acção do poder local ao providenciar à população serviços de domínio público, como o acesso à actividade física e à cultura. E essa actividade é, por isso, subsidiada pelos órgãos autárquicos. Já existe, por isso, experiência nos dirigentes em gerir dinheiro público e os respectivos processos.
A existência destas verbas provenientes do Estado, nalguns casos a principal fonte de receita das associações, exige uma gestão de receitas que é, ou deve ser, rigorosa, até porque as colectividades e associações estão obrigadas a apresentar as suas contas perante o fisco.
Os dirigentes associativos também são muitas vezes reconhecidos pela sua capacidade de fazer muito com poucos recursos, um problema que também afecta os órgãos de poder local, sobretudo as freguesias.
Existe ainda um outro factor que pode ser tido em conta para esta tendência, que se prende com a falta de renovação dentro dos próprios partidos, que os obriga a procurar soluções fora das suas estruturas.

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