“As populações e os empresários têm que ter uma atitude mais empreendedora.”, diz António José Correia, presidente da Câmara de Peniche

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“Quanto mais forte for o Oeste, mais forte será Peniche”, diz o também presidente da Associação Desenvolvimento Regional do Oeste (ADRO)

 

 

 

O presidente da Câmara de Peniche, António José Correia, está a terminar o seu segundo mandato e vai voltar a recandidatar-se ao cargo, como independente e em representação da CDU.
Prestes a inaugurar o primeiro Centro de Alto Rendimento de Surf do país e a poucos dias de receber mais uma prova do circuito mundial de Surf, o Rip Curl Pro (que terá lugar entre os dias 10 e 21 de Outubro), António José Correia crê que é com a aposta no mar que se vai desenvolver o seu concelho.
O autarca, de 58 anos, é gestor e há sete anos que exerce o cargo de presidente da autarquia, depois de alguns anos como vereador.
Natural do Lugar da Estrada, perto da praia da Consolação, é junto das pessoas que se sente bem, como aconteceu quando embarcou numa traineira, mobilizando-os para as manifestações em defesa do hospital de Peniche. Nesta entrevista à Gazeta das Caldas, o edil, que há um ano e meio aprende aulas de surf, fala com experiência da qualidade das ondas das suas praias, pisca o olho a resorts sustentáveis e ataca o governo pelo “roubo” às Câmaras e também contra a limitação de mandatos: “Uma lei que é feita por quem não tem limite de anos para estar na Assembleia da República”.

O presidente da Câmara de Peniche vai recandidatar-se ao terceiro mandato e revela-se contra a lei que os limita

GAZETA DAS CALDAS – Há uma grande aposta de Peniche (e do país) no mar. Como se reflecte nas acções desenvolvidas ou a desenvolver no seu concelho?
ANTÓNIO JOSÉ CORREIA –
O que nós desenhámos foi um plano estratégico na Magna Carta 2025, onde estruturámos o nosso pensamento. O trabalho desenvolvido em 2008 e 2009  contou com a participação da comunidade de Peniche e o Mar foi uma das dominantes. Temos um conjunto de orientações ou melhor uma Estratégia Municipal para o Mar, em consonância com a estratégia nacional que norteia vários programas que estão a decorrer. Temos a Semana Tanto Mar, o Peniche Mar Pedagógico e há um interesse em colocar crianças e jovens da região em contacto com o que se pode chamar como o  cluster do mar. O próprio Plano da Regeneração Urbana está dentro desta estratégia pois incluímos a construção da sede do clube naval – financiada a 85% – com o compromisso do clube criar condições para o estímulo da prática de desportos náuticos pelas crianças e jovens, apostando, por exemplo, na vela.  Apoiamos vários eventos desportivos, desde travessias em kayake entre a Berlenga e Peniche, travessias a nado em águas abertas, eventos relacionados com o paddle surf (prancha e remo). São muitas as iniciativas que estamos a realizar, centradas em actividades sustentáveis e ligadas ao mar.

GC – Como é que se desenvolvem concretamente essas acções?
AJC –
Só é possível com parceiros como as escolas, estaleiros navais, a própria Escola Superior de Turismo e de Tecnologia do Mar (ESTM)… Há vários projectos em curso. Demos, por exemplo, sequência a um conjunto de investimentos relativos ao tratamento de esgotos em toda a zona sul do concelho desde a praia da S. Bernardino e também da Consolação, que assim deixaram de estar infestados pelos esgotos domésticos. Em consequência, a praia de S. Bernardino já tem bandeira azul.
Fizemos uma aposta na valorização dos produtos do mar e como temos uma relação de proximidade com a indústria conserveira, apostámos na identidade e cultura marítima e no estímulo à actividade empresarial da fileira da pesca.
Vamos apostar numa nova edição de uma lata de conserva mas desta vez dedicada à cavala. Com o decréscimo na captura da sardinha  estamos a tentar suscitar em Peniche o estímulo ao consumo de cavala. Quando estamos a pensar em desenvolvimento económico e na diferenciação dos municípios, Peniche fez-se claramente ao mar.

GC –  Recorrentemente fala-se de Peniche como porto de águas profundas? Qual a sua visão sobre isso?
AJC –
Houve uma altura em que se falou na possibilidade de existir um porto de águas profundas em Peniche… talvez há uma década ou mais. Depois do plano estratégico, o cenário de desenvolvimento escolhido e que se encontra na Magna Carta  excluiu o porto de águas profundas até porque a escolha do desenvolvimento para Peniche foi o caminho do turismo sustentável.
Além do mais, as ondas dos Supertubos – que são conhecidas mundialmente, as chamadas beat breaks (ondas que se formam em zonas de areia) – são um património que temos que preservar e qualquer obra portuária teria impacto na movimentação das areias.
Foi o cenário “Sardinha Viva” o escolhido para o desenvolvimento económico de Peniche, como opção prioritária. Mas, admito que um dia outras pessoas, na Câmara Municipal, tenham outras opções e que reequacionem o porto.

GC – Qual o papel que o arquipélago das Berlengas pode desempenhar no modelo de desenvolvimento de Peniche?
AJC –
A zona da Berlenga é um território especial que está a ser preservado e que constitui uma das marcas do concelho de Peniche, no que diz respeito à conservação ambiental. Peniche e toda o país devem contribuir para a sua preservação.
Depois de termos candidatado as Berlengas a uma das Sete Maravilhas de Portugal, a Câmara fez uma candidatura por sua iniciativa a Reserva da Biosfera da Unesco que teve êxito.
Além do mais, dentro da estratégia municipal para o mar nas suas múltiplas vertentes – sensibilização e protecção ambiental -, ainda temos seis bandeiras azuis, bandeiras das praias acessíveis e da Eco 21.
Quando se promove a Berlenga, estamos a promover também as suas actividade como o mergulho e temos já  boas empresas marítimo-turísticas que fazem percursos. A promoção suscita o interesse não só para as actividades de lazer como para as expedições cientificas como uma que agora está a decorrer, a bordo do Creoula.

GC – Acha correcto a forma como se está a ocupar o cabo Carvoeiro com a instalação de infraestruturas escolares, industriais, hoteleiras, residenciais, etc?
AJC –
A ESTM foi uma construção que foi feita e que resultou de um núcleo escolar pois já ali existia com o Externato Atlântico. Foi-lhe dada continuidade, no uso escolar e académico, que já ali se verificava. Eu ainda não era presidente de Câmara mas, como vereador, viabilizámos essas obra e ainda a implantação de pavilhões. Pode-se colocar em causa  o tipo de arquitectura mas agora, naquela zona não estão a ser autorizadas novas construções. Além da ESTM, a outra construção significativa foi a ETAR e essa aí poderia questionar-se se se deveria colocar ali. Para mim o problema foi ter sido construída a ETAR sem que as unidades industriais fizessem o primeiro tratamento dos seus efluentes….
Peniche é um território pequeno e todo ele tem constrangimentos. Teria que ser colocado onde o efluente? Uma vez tratado tem que ser lançado ao mar, onde os efluentes líquidos acabam por ir parar.

GC –  Mas Peniche não é só costa. O que está a ser feito nas freguesias rurais do seu concelho?
AJC –
Temos feito um acompanhamento da nossa horticultura. Ao nível cultural, fizemos a recuperação da Igreja de S. José e uma construção anexa para a instalação do Centro Interpretativo da Atouguia da Baleia.
Estamos a resolver o problema das arribas nas praias de S. Bernardino e da Consolação. Está lançado o concurso para a recuperação das arribas na Consolação e foi lançada a empreitada para execução – não de projecto – com início no próximo ano. Em S. Bernardino foi lançado o concurso para elaboração do projecto e pretende-se que a obra se inicie em 2013.
Recuperámos também o património do parque escolar, sobretudo fora da cidade. Tenho alguma dificuldade em falar Peniche cidade e restante concelho pois, por exemplo, Atouguia da Baleia, enquanto vila, já tem uma componente urbana muito forte. Temos recuperado várias escolas como foi o caso da Bufarda, Lugar da Estrada, de Geraldes, Ferrel e de Serra da Arreia..
Criámos a rota das igrejas que envolve 11 templos e que está a funcionar encontrando-se grande parte deles na área rural.
Temos também dado grande atenção aos caminhos agrícolas e fizemos uma ligação entre Atouguia da Baleia e Bufarda  que evita que as pessoas tenham que ir à Estrada Nacional.
Os investimentos relacionados com o surf são no Baleal – que pertence a Ferrel – e há investimentos de alojamentos e surf camps em todo o concelho.

GC –  E o que devem fazer as próprias populações rurais em seu entender?
AJC –
Não esperem que seja a Câmara a fazer tudo. As populações e os empresários têm que ter uma atitude mais empreendedora. O destino é promovido pela Câmara mas compete à iniciativa privada promover o seu próprio negócio. É preciso ter presenças organizadas na internet e estar nas redes sociais. É importante que os empresários possam encontrar aqui as suas oportunidades de negócio. Devem tentar ver quais os mercados que podem conquistar.
A promoção do destino de surf e das actividades do mar vão ter efeitos nas actividades marítimo-turísticas de pessoas que moram na zona rural do concelho. Há um interessante cruzamento de gente das zonas rurais que empreenderam no mar – que já tinham as suas embarcações de pesca artesanal – e que os seus descendentes estão agora a apostar nas actividades marítimo-turísticas.

GC – Qual foi o papel da Câmara Municipal na manutenção dos postos de trabalho na indústria conserveira em relação à empresa ESIP?
AJC –
A autarquia acompanha de perto esta empresa e teve um papel na consolidação do seu projecto. A empresa emprega nos picos 400 trabalhadores e 400 em trabalho temporário e eu, como tenho o pelouro das actividades económicas,  acompanhei o processo. Havia um entreposto comercial, construído em terreno da Câmara e como acabou o tempo do direito de superfície, a autarquia  viabilizou que fosse celebrado um contrato com esta empresa para mais 20 anos de permanência em Peniche e que é sustentada na utilização daquele entreposto.
A firma vai investir 1 milhão de euros na recuperação do próprio entreposto, pois este estava inactivo, e compromete-se em criar mais cem postos de trabalho a titulo permanente até 2015. Fará ainda  um investimento de 300 mil euros nas questões ambientais e ainda 500 mil euros de investimento anual no que tem a ver com a própria unidade e com a melhoria nas linhas de fabrico.
A ESIP paga ainda uma renda relativa ao uso do frio – escusando de ter que se deslocar para Aveiro – num prazo que seja suficiente para poderem recuperar o investimento. A Câmara foi a incentivadora e estas medidas vieram dar estabilidade aos próprios trabalhadores, pois sendo esta empresa propriedade do maior grupo conserveiro mundial… enfim, a questão da deslocalização poder-se-ia colocar. Assim, com este acordo, essa opção está afastada.

“Os autarcas são eleitos pelo povo, temos que estar onde estão as pessoas e tentar interpretar os seus anseios”

 

GC –  Recentemente, na luta pela manutenção dos hospitais no Oeste, encabeçou a manifestação em Peniche e até esteve no mar, numa traineira, apelando à participação dos pescadores. Acha que o papel de autarca passa também por aí ou deveria ser-lhe reservado um papel mais institucional?
AJC –
Não, os autarcas são eleitos pelo povo, temos que andar onde estão as pessoas, interpretando os seus anseios. Se há alguém que considera importante manter a urgência do nosso hospital são os pescadores e ter estado na traineira foi uma forma interessante de contribuir para a causa. Essa foi uma marcha muito participada porque sentimos que temos razão. E daí a nossa insistência em sermos recebidos pelo senhor ministro da Saúde por não concordarmos que o destino do nosso hospital seja decidido pela administração que vier a gerir o Centro Hospitalar do Oeste.

GC –  Quais são os principais problemas de Peniche no momento actual e quais são as prioridades que entende definir para os minimizar ou resolver? O problema social, nomeadamente da classe piscatória e dos desempregados, está entre eles?
AJC –
Um dos problemas de Peniche é o facto de, durante décadas, uma parte da nossa população, dependeu de uma monocultura da fileira da pesca e que, por isso, as suas competências foram muito centradas nessa actividade.
A pesca era uma actividade muito exigente e houve um abandono escolar precoce, transmitido de geração em geração. Temos por isso uma população assimétrica em que as suas competências são insuficientes, ou melhor, são desajustadas a algumas actividades emergentes – ligadas ou não ao mar – mas que apelem a competências, por exemplo, do ponto vista relacional.
Outros problemas são o facto de termos um parque de habitação social muito numeroso e que carece de intervenções, algo que não se compadecem com aquilo que é a especulação imobiliária ao nível do arrendamento. Peniche felizmente tem a ESTM e no Verão tem uma grande procura dos veraneantes e há quem alugue no Inverno aos primeiros e aos segundos nos meses quentes. O que se verifica é que há um desajustamento entre a oferta de habitação disponível e a capacidade de arrendamento por parte de quem precisa de habitação. A Câmara não consegue resolver estes problemas.
Depois foi feito um autêntico roubo às autarquias com a diminuição das transferências – que foram feitas ao abrigo da lei das finanças locais – e por isso houve vários projectos que tinham uma componente forte de autofinanciamento como era o caso do Prohabita e que ficaram bastante condicionados. O próprio programa sofreu cortes no seu financiamento e por isso estamos a tentar encontrar meios financeiros mais pequenos para conseguir realizar intervenções, também pequenas, não nos interiores das habitações mas sim nas fachadas e nas partes comuns dos prédios.
Não será possível apostar na nova habitação social na actual situação, a menos que o governo crie novas linhas e ajustadas para esta área.
Temos conseguido continuar a fazer pequenas intervenções de manutenção – em habitação social que está arrendada – ajudando as famílias mais desfavorecidas.

GC –  Em que é que acha que é diferente dos outros autarcas?
AJC –
Todas as pessoas são diferentes umas das outras, todos temos um passado e as nossas próprias motivações. Além de presidentes de câmara, também temos a percepção do que é importante para a vida das pessoas. Sempre tive uma grande proximidade com as pessoas pois desde cedo fiz parte de comissões dos moradores e de colectividades, onde há um grande relacionamento inter-pessoal. Nunca fui um homem de gabinete.
O facto de ter chegado a presidente de câmara é quase uma consequência do meu percurso e das opções que fui tomando ao longo da vida.

GC – Qual é projecto que está previsto para a Fortaleza? Vai perder-se a memória da resistência anti-fascista?
AJC –
Não, nunca se perderá essa memória. A Câmara de Peniche tem feito intervenções de recuperação daquele património e agora vamos fazer uma recuperação na área que é o Segredo, numa ligação com a iniciativa privada que se vai realizar durante o Campeonato do Mundo de Surf. A empresa promotora, liderado por jovens, vai  usar a capela de Santa Bárbara e querem contribuir para a recuperação do património.

GC –  Embora a sua cidade não seja directamente servida pela Linha do Oeste, foi dos presidentes que mais se bateu em sua defesa e participou em várias reuniões conjuntas. Considera que foi um bom exemplo de solidariedade autárquica?
AJC –
Mais do que ser dita, a solidariedade deve ser praticada. O que fiz foi engrossar o conjunto de vontades para que a Linha do Oeste não se perca. Quanto mais forte for o Oeste, mais forte será Peniche e eu acredito que o desenvolvimento passa por uma aposta no desenvolvimento do caminho-de-ferro. Não faz sentido continuar a apostar nesta via suicida dos combustíveis fosseis, que nos faz depender das crises internacionais…. Creio que a aposta no transporte ferroviário terá que ser feita e se não for este governo será o outro, ou o seguinte.
Quando vou ao estrangeiro é de comboio que me desloco, é nele que durmo, que trabalho e que me divirto. Acho que há uma grande miopia em relação ao tema. Provavelmente o tema comboio não é tão interessante para os interesses económicos instalados. É quase uma questão ideológica e de modelo de sociedade que nós queremos e de desenvolvimento económico. Este, sem transporte ferroviário, não terá futuro.

Não tenho nada contra os resorts se forem amigos do ambiente

GC –  Quem usufrui de uma parte das praias de Peniche são os resorts do concelho vizinho, Óbidos. Gostaria de ver a sua costa repleta de resorts ou prefere continuar a combinar praias semi-selvagens com hortas como actualmente ainda existem?
AJC –
Há resorts e resorts. Uns usam mais o betão e outros com um conceito eco. Não me mete medo o resort pelo resort. A mim o que me importa é qual o seu modelo e como este se compatibiliza com os valores naturais. Essa é que é a questão. Não tenho nada contra, se forem amigos do ambiente, se a sua volumetria for compatível, se se integrarem nas comunidades e que não sejam fechados. Apareçam os projectos e nós falaremos.
Os espaços devem ser fruídos de forma integrada e fluida. Os resorts devem contribuir para a criação de emprego e não devem ser benéficos apenas para animar a economia na altura da sua construção.
O conceito do resort tem que ser mais integrado, mais sustentável, que integre valores e as competências locais.

GC –  Foi um participante activo na luta anti-nuclear em 1976 em Ferrel. Continua  a defender os ideais ecologistas?
AJC –
Sim e em 1976 – tal como a Gazeta das Caldas  se bateu – infelizmente ficou provado que tínhamos razão. Neste momento países como o Japão, a Suíça e a Alemanha já têm planos para reduzir e até para anular a  produção de energia nuclear.
Fomos muito premonitórios e o facto de ter estimulado a que a produção da energia das ondas ficasse instalada em local próximo onde esteve prevista a instalação da central nuclear, em Ferrel, é um grande orgulho para mim e para todos aqueles os que participaram na luta contra o anti-nuclear, sobretudo, as gentes de Ferrel.

GC –   Como explica que, sendo a CDU o terceiro partido mais votado em Peniche nas eleições legislativas, seja esta formação que ganha nas autárquicas, mesmo sendo independente o seu cabeça de lista? Acha que se deve ao seu carisma?
AJC –
As pessoas, quando podem, votam nas pessoas. Tenho que agradecer a confiança que depositaram em mim e espero não desiludi-las. É pena que também não possam votar directamente nas pessoas para a Assembleia da República. Seguramente porque os partidos políticos têm medo, mas se colocássemos a questão dos círculos uninominais, a própria da composição da AR seria melhor. Os partidos têm medo dos círculos uninominais pois ir-lhes-ia tirar clientes. Vemos votação na AR e vemos que os deputados têm que votar de acordo com a orientação do partido.

GC –  Qual é a sua relação com a estrutura do PCP? Esta exerce controlo sobre os seus mandatos?
AJC –
É uma relação de grande respeito. A única situação de não concordância foi quando eu ainda era vereador. Eu e o meu colega da CDU votámos uma proposta em relação ao IMI que não tinha a concordância do PCP. O respeito que cultivamos fez-nos superar essa divergência.
Temos reuniões periódicas, onde estão elementos do partido e os independentes, mas até agora não houve nenhuma imposição. Falamos aprofundadamente dos temas e até agora nunca houve nenhuma rotura. Às vezes podemos ter uma necessidade maior de tempo para falarmos, mas não houve roturas nem imposições. Sinto-me bem com tudo o que tenho votado na Câmara Municipal.

GC –  Pensa voltar a recandidatar-se no próximo ano?
AJC –
Sim vou recandidatar-me e a CDU não demonstrou nenhuma insatisfação. Eu gosto daquilo que faço, apesar de cada vez ser mais difícil a missão do presidente de Câmara.
Como pela questão da Lei dos Compromissos, da responsabilização ou o facto de não termos meios, apesar das competências. A lei dos Compromisso, por exemplo, está a cima das autarquias e que temos que a respeitar.
Se tudo correr normalmente irei recandidatar-me e irei anunciá-lo em altura própria. Quero continuar com a equipa que trabalha comigo. É com eles que penso vir a recandidatar-me. Gosto da forma como trabalhamos e acho que não haverá ninguém que queira sair.

GC –  Na Magna Carta para 2025 definiam-se objectivos ambiciosos para o concelho nesse horizonte mas parece que a crise tudo parou. Ou não é assim?
AJC –
A crise não parou tudo, há coisas que estão a andar. Enviámos para Tribunal de Contas a adjudicação da recuperação do edifício António Bento para ali instalar o Museu da Renda de Bilros, portanto não está parado.
Estamos também a tentar dar continuidade às obras de recuperação do fosso da muralha e vamos à luta para tentar encontrar parceiros públicos ou privados através de concessões.
Vamos fazer a Casa Mortuária e a questão do Centro Educativo da Atouguia da Baleia se o governo mantiver como prioridade a Educação e se der  as comparticipações ajustadas aos  próprios  projectos.
O nível das intervenções vai ser diferente e nós vamos privilegiar as intervenções de proximidade. Temos ainda muito investimento a fazer ao nível do saneamento e do abastecimento de água, condição necessária  para que aquele eixo Baleal-Ferrel dê resposta às iniciativas que estão a surgir em relação ao surf.
Se o QREN permitir que Peniche se possa candidatar a esses financiamentos, teremos condições para os fazer. O que é importante é que os valores do QREN sejam postos à disposição dos municípios para que a este nível – água e saneamento – possamos concretizar os nosso projectos.

GC –  Como funciona actualmente a ADRO, entidade que preside, sabendo-se que a maioria dos responsáveis concelhios pouco se interessam por isso? É pertinente o trabalho que este organismo desenvolve no actual contexto de crise? O facto de não haver eleição directa é uma das razões para a inércia e desinteresse de todos pela acção da Agência?
AJC –
A ADRO tem um corpo directivo e estamos a ultrapassar um problema, pois este governo fez uma ofensiva cega contra os Centros de Novas Oportunidades e temos estado a justificar junto do governo a continuidade da ADRO como um pólo de qualificação das pessoas.
Ultrapassamos uma ameaça que tivemos de não ver renovado o funcionamento para 2011, isso foi conseguido.
Estamos agora a tentar ultrapassar as questões do funcionamento até 31 de Dezembro e queremos ter um papel naquilo que venha a ser o modelo da qualificação das pessoas.
Logo que seja ultrapassada esta fase, então poderemos evoluir para novas abordagens sobre a Agência.
Sem isto estabilizado nem os trabalhadores estarão motivados nem temos um horizonte temporal que nos permita avançar para outros projectos. São 14 trabalhadores e queremos assegurar os seus postos de trabalho.

GC –  A maioria dos responsáveis concelhios pouco se interessam por isso? É pertinente o trabalho que este organismo desenvolve no actual contexto de crise?
AJC –
Não concordo. A grande maioria dos responsáveis concelhios  interessa-se pela ADRO, tanto que viabilizaram o projecto que lhes apresentei para  2011-2012. É um trabalho pertinente pois está relacionado com a qualificação das pessoas e poderá ter ainda mais importância na perspectivas do desenvolvimento regional. Vamos ver, pois a Agência é uma estrutura que não é municipalizada e quanto menos for, mais importância terá.
Esperemos que o próximo quadro de programação financeira para o horizonte de 2020 tenha para estas agências de desenvolvimento regional um papel que esta deverá desempenhar já que é um fórum da iniciativa pública com a iniciativa privada.

GC –  Acha que é benéfica para o Oeste a renovação de presidentes de Câmara que se avizinha na região devido à lei da limitação dos mandatos? Ou perde-se experiência de quem já era autarca há muitos anos?
AJC –
Eu discordo da lei da limitação dos mandatos. Da mesma maneira que também não há para os deputados da Assembleia da República (AR). Não se compreende que quem não tem, imponha essa limitação de mandatos a outros.
Se fosse cidadão e com capacidade de votar, se quisesse que uma pessoa continuasse a gerir porque eu estava satisfeito, porque é que não posso se fosse essa a minha decisão?
A lei é limitadora, é passar um atestado de menoridade ao povo e o que temos visto é que não é povo que é menor… Para a AR, os deputados vão numa equipa enquanto que os autarcas dão a cara. Esta legislação é uma aberração, sou contra a limitação de mandatos, pela própria limitação que impõe.

GC –  O que lhe apraz comentar sobre a nova região de turismo? E sobre a futura agregação de concelhos?
AJC –
Eu e todos os presidentes de Câmara da região estamos a lutar para manter o Oeste fora da região de Lisboa. Creio que as coisas estão bem encaminhadas para termos o Oeste junto com  a região do Vale do Tejo. Só com essa situação ultrapassada é que iremos falar sobre sedes, e num espaço próprio de concertação e não de estarmos a candidatar publicamente que a sede venha para o nosso concelho. Respeito e tenho consideração pelo presidente de Alcobaça. Percebo mas não concordo que se venha dizer onde é que ser quer.
Há locais próprios de partilha e por isso esta candidatura é uma manifestação de vontade que irá ser trabalhada em sede própria, que será no contexto da comunidade intermunicipal e das outras comunidades intermunicipais. Incluir outros na mesma região e antes disso estar concretizado, estar a querer a sede não me parece bem. Faz sentido juntar o Oeste ao vale do Tejo? Na minha opinião sim, só depois se vai ver onde será a sede.
Quanto à outra questão da agregação dos concelhos, creio que é prematuro. Primeiro é necessário que haja um modelo de organização que legitime os seu programas específicos.
Creio que o que está desenhado como a nova entidade de turismo poderá ser uma boa base de trabalho. Agora primeiro que tudo é necessário que haja legitimidade e que não se pretende que haja acréscimo de custos.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

Centro de Alto Rendimento de Peniche abre a 9 de Outubro
Abre portas a 9 de Outubro  no Baleal, o primeiro Centro de Alto Rendimento de Surf (CAR) do pais. “Ainda estamos a estudar qual será o melhor modelo de gestão para o funcionamento do espaço”, disse o presidente da Câmara.
Haverá um comité que vai incluir a Câmara de Peniche, o Instituto Português da Juventude e Desporto e a Escola Superior de Desporto de Rio Maior, que elaborará um plano de actividades para poder obter financiamento.
O Península de Peniche Surf Clube vai ter a sua sede no próprio edifício do CAR. “Ainda não se sabe bem o modelo de financiamento, mas, o edifício é propriedade da autarquia pois deu o terreno e quer que este tenha uma dimensão local, nacional e internacional”, disse o presidente enquanto fazia uma visita guiada ao novo centro .
A dimensão nacional será feita em ligação com a Federação Portuguesa de Surf de modo a que o CAR possa ser um local de estágio das diversas selecções internacionais. “Queremos também trabalhar com as marcas, uma das quais tem atletas outra tem atletas patrocinados”, disse o edil.
O CAR de Surf de Peniche tem um investimento de 1,4 milhões de euros, com 85% de comparticipação comunitária através do POVT (Plano Operacional de Valorização do Território).
O projecto do edifício é de Adérito Carvalho, um arquitecto surfista que tem atelier nas Caldas.

N.N.

“A prática do Surf mostrou-nos que tínhamos défice de alojamento”
GC – Qual é a importância do surf para o seu concelho em termos turísticos e de desenvolvimento sustentado?
AJC –
A prática do surf acabou por nos mostrar que temos défice de alojamentos.  Esta constatação estimulou o aparecimento de vários hostels e de surf camps e inclusivamente tem proporcionado o aparecimento de investimento estrangeiro.
Neste momento está a ser construído um surf lodge sueco, está previsto um projecto russo e vários outros portugueses.
Por razões que não foram muito transparentes, Peniche não ficou incluída na listagem inicial dos centros de alto rendimento da Federação Portuguesa de Surf. O governo embarcou nessa mas, depois por diligências que fizemos, juntámo-nos à rede inicial. Só estão previstos mais três: em Viana do Castelo, Aveiro, Peniche e Nazaré e estão todos em diferentes fases em relação à construção.

GC – Qual a importância das pequenas unidades hoteleiras, sobretudo os surf camps, no seu concelho? Criam empregos e riqueza?
AJC –
Neste momento, a Câmara e o ESTM estão envolvidos num estudo que é liderado pela Faculdade de Economia da Universidade Nova sobre “O Valor das Ondas e a Cultura Ocêanica”. Estão a ser feitos inquéritos em Peniche, na Nazaré, em  Cascais, na Ericeira e em Mafra que nos vão permitir mais tarde ter números.
Para já, o que podemos constatar e que há um acréscimo de escolas de surf e a vinda de outras escolas que vêm a Peniche aproveitar as suas ondas.
Há ainda um crescimento de negócios na área das lojas de surf,  na sua componente técnica e de moda. Tem havido mudanças e novas aquisições nos estabelecimentos.
A Rip Curl tem a intenção e a Câmara já aprovou, de criar em Peniche a maior loja da marca na Europa (na rotunda de Peniche para Baleal, junto ao hotel). Será um investimento a médio prazo.
Temos ainda a consolidação de empresas relacionadas com as pranchas: uma de bodyboard e outra de surf.
Este estudo que está a decorrer, vai dar-nos números pois dizermos que temos entre 20 e 30 escolas de surf e uma parte com surf camps associados é pouco preciso. Vai permitir conhecer o número de postos de trabalho ou qual é o vinculo contratual das pessoas que trabalham nesse sector.
O alojamento só se pode afirmar através da qualidade e vai  depender também do cumprimento das regras e dos regulamentos que existem para se ter uma escola ou alojamento. Vai também depender das entidades fiscalizadoras que possam combater a concorrência desleal e uma má qualidade dos serviços que podem comprometer ou criar uma imagem negativa deste destino de surf, que tem qualidades excepcionais.
Já cá temos também em Peniche a Associação dos Surf Camps e Escolas de Surf que estão envolvidos no reconhecimento dos projectos pela Federação Portuguesa de Surf.

N.N.

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