“As câmaras não têm por fim ter lucro, mas servir a população”

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Adélia Araújo quer mais médicos em Óbidos, mesmo com a Câmara a pagar

Uma política próxima da população é o compromisso da candidata do Chega a Óbidos, Adélia Araújo. Entre as prioridades estão também a saúde e a defesa do património num concelho onde tem existido “pouca obra”

Apresenta-se com o compromisso de trazer uma nova forma de fazer política. Que nova forma é essa?

A nova forma é muito simples, é estar próxima da população. Não é ficar sentada num gabinete, dentro da vila. O contacto com a população é o mais importante porque esta sente-se muito esquecida. Nós – eu e a doutora Cristina [Vieira]  temos feito o trabalho do partido, de distribuir a Folha Nacional, todos os fins de semana, o que nos tem dado a conhecer a população de uma forma mais próxima, e os seus problemas, os seus desabafos, e é nesse sentido que eu quero continuar.

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Quais são as prioridades do Chega para Óbidos?

As prioridades são a população, a saúde e o património. Sem património não havia Óbidos da maneira que é, portanto, temos de cuidar desse património, que acho que está um bocadinho desleixado, desde o mais básico que é a limpeza interior de alguns edifícios, até à exterior, e manutenção desses mesmos edifícios.

Pretendo que haja uma manhã ou um dia por semana em que o cidadão possa ir falar com o presidente da Câmara. A saúde será das primeiras coisas em que temos de nos debruçar, porque cerca de 80% dos utentes não têm médico de família.

Preocupa-me a construção de um parque de ondas no concelho, porque ainda não sei se irão utilizar a água do mar, ou água doce, que é um recurso que temos de poupar.

Se for eleita também me quero debruçar sobre a limpeza dos rios. Esta semana constatei que as árvores estão a ser cortadas e enterradas na mota do Rio Real. Também já denunciámos que estão a ser feitas descargas no Rio Arnóia, são problemas ambientais que nos preocupam.

E qual é a solução para o problema da saúde?

Temos de pensar em contratar médicos, nem que seja a Câmara a pagar, porque as pessoas precisam de ter cuidados de saúde primários. Porque há centros de saúde, há espaços onde um médico pode atender um utente. E esta falta de cuidados de saúde mexe não só com a saúde física, mas também com a saúde emocional dos utentes. E a teleconsulta não resulta… será melhor que nada para quem precisa de um medicamento, mas deixou-se de auscultar um doente, que é necessário em determinadas situações, por exemplo.

E ao nível dos cuidados hospitalares, considera que é necessário um novo hospital no Oeste? E tem posição relativamente à sua localização?

É necessário um novo hospital e deve ficar localizado entre as Caldas e Óbidos. Não tenho nada contra o Bombarral, mas aqui há uma rede de infraestruturas ferroviárias e também vários espaços comerciais onde posso, por exemplo, comprar o que for necessário indicado pelo médico sem me deslocar.

Eu não posso aceitar que o que está a passar nos dias de hoje nas urgências de Obstetrícia. Eu sou mãe e não tive de ter preocupação para onde é que ia fazer o parto pois sabia que tinha um hospital com condições para me receber. Hoje em dia as grávidas não o sabem se a maternidade está aberta ou fechada e isso motiva stress. Eu quero que essa dignidade volte para toda a população.

Qual a posição do Chega relativamente às contas apresentadas pelo município?

Não consigo perceber como é que uma Câmara Municipal tem um depósito a prazo no valor de 8 milhões de euros e depois não vemos alcatroamento nas ruas nem intervenção nas condutas. Fui à Usseira e já estava mais uma conduta rebentada. As câmaras não têm por fim ter lucro, mas servir a população.

De acordo com o atual executivo camarário Óbidos tem atraído mais habitantes, mas na vila residente poucas dezenas de obidenses. Preocupa-a esta desertificação do centro histórico?

Sim, preocupa-me muito. Deviam ser criadas condições, os preços também não são apelativos para qualquer pessoa comprar casa dentro de Óbidos. A Câmara tem algum património, neste momento ainda não sei exatamente qual é o património todo, mas era importante criar outra dinâmica dentro da vila.

Tem de ser estudada a forma de se atrair população e saber o que faz nesse património que está dentro da vila. Não pode ser só portas abertas para museus e para exposições, embora também seja importante dar alguma dignidade à vila e acolher bem o turista. E, em relação a isso, dizer que há um grave problema dentro da vila de falta de casas de banho públicas. Só há uma a funcionar e em muito más condições.

Faltam equipamentos para acolher os turistas que afluem em massa à vila?

Completamente. A entrada da vila tem um pequeno caixote do lixo com as mesmas dimensões que tinha quando entravam, por hora, apenas vinte turistas. Ao fim da tarde o lixo já transborda para fora do caixote. Se queremos levar tão longe o nome de Óbidos então “não vamos meter o lixo debaixo do tapete”, precisamos de arranjar mais pontos para recolher esse lixo.

Já falámos do interior da vila, mas há um problema de falta de habitação também no concelho. O que pode ser feito?

Sim. Fiz parte, há pouco tempo, de um abaixo-assinado contra a proposta de construção de habitações que a Câmara tem para a A-da-Gorda. A população não está de acordo que seja construído dentro da aldeia um bairro social, ou moradias sociais. Trata-se de um local com uma única rua de acesso e onde apenas consegue passar uma única viatura. Se ali já temos os moradores da aldeia a deixar os carros, e os pais que vão deixar as crianças ao jardim de infância (que inclusive vai abrir mais uma sala), julgamos que não é o sitio indicado.

Mas não fomos só à Assembleia Municipal criticar, apresentámos uma proposta para construção num terreno alternativo, numa zona arejada e junto a outras habitações.

Nós temos consciência que há pessoas a precisar de casa, pelo que outra alternativa será a reabilitação de casas devolutas. Vamos tentar negociar com os proprietários, recuperar essas casas e pôr as pessoas a viver dignamente numa casa dentro da povoação e a inserir-se melhor com a própria população.

Óbidos é conhecido sobretudo pelos eventos de massas que realiza. Concorda com esta estratégia?

Concordo com alguns, não todos. Os eventos não podem ser pensados só para os de fora, têm de responder também à população local. Acho que que o Mercado Medieval é um evento que toda a gente do concelho e as associações vêem ali uma forma de obter alguns recursos. Também acho que o Folio é importante, mas tem de se criar hábitos de leitura na população.

É importante que os eventos sejam bons para quem vem mas também para quem está, como quem produz o espetáculo ou os comerciantes, pelo que temos de estudar quais devem permanecer. Fazer eventos só para a fotografia não vale a pena.

Óbidos tem uma importante cidade romana ao abandono, Eburobrittium. O que a Câmara pode fazer?

Em específico, com esse património, eu acho que tem de se dar continuidade às escavações. É importante também a nível turístico, mas sem ser de massas.

E como potenciar o crescimento económico em Óbidos?

Julgo que tem de haver um crescimento mas pensado. Temos informação que os lotes do Parque Tecnológico já foram todos vendidos, vamos aguardar. Se os jovens tiverem boas condições para viver e se forem trabalhar no concelho vizinho, também não há problema. Em Óbidos podemos ser agricultores, um concelho rural rural.

É a segunda vez que o Chega se candidata à Câmara de Óbidos. O que será um bom resultado?

É ganhar. Temos de acabar com 20 anos de presidentes que vêm todos do mesmo sítio, da maternidade dos presidentes, que é o Arelho. Porque há outras ideias, há outros saberes que poderão fazer a vila estar no topo, sem ser este aceleramento desenfreado por parte da Câmara, que, inclusivamente, nestes últimos quatro anos, eu não consegui ver obra que agradasse à população. É necessário uma mudança de ciclo, como houve a seguir ao presidente Pereira Júnior, há 25 anos.

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