Apesar de “discriminados” os movimentos independentes continuam a crescer

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2016-04-22 Primeira.inddO “medo em dar a cara” e o conformismo foram apontados pelos vários oradores como as razões para que apenas cerca de 50 pessoas tenham participado nas Jornadas “Pensar independente”, que decorreram no passado dia 16 de Abril, organizadas pelo Movimento Viver o Concelho (MVC). Uma realidade que não se traduz nas urnas, onde os movimentos independentes têm somado cada vez mais votos, firmando-se já como a terceira força política nas assembleias de freguesia do país, atrás do PS e PSD. Este encontro foi também o ponto de partida para as próximas autárquicas, a que o MVC pretende continuar a candidatar-se.

Fátima Ferreira

fferreira@gazetadascaldas.pt

“Sinto que na comunidade em geral há mais medo do que havia antes do 25 de Abril, as pessoas estão receosas de dar a cara”. As palavras são de Aurélio Ferreira, presidente da Associação Nacional dos Movimentos Autárquicos Independentes (AMAI) e explicam por que, apesar de nas urnas os movimentos independentes estarem em crescendo, nos encontros são pouco participados. Também presidente da Câmara da Marinha Grande, eleito num movimento independente, Aurélio Ferreira diz conhecer pessoas que lhe garantem o seu voto no movimento, mas que quando as convida para ir a uma sessão “não vão porque têm um familiar a trabalhar numa Câmara qualquer ou um projecto a precisar de aprovação e têm medo de retaliações” Crítico desta “democracidade” criada pelos partidos, o responsável destaca esta situação acontece um pouco por todo o país. A esta “perseguição” junta-se a discriminação. Apesar da legislação ter permitido a candidatura de movimentos independentes, estes têm restrições relativamente aos partidos, nomeadamente no facto de não poderem ter o símbolo no boletim de voto e de terem de pagar IVA, quando os partidos estão isentos deste imposto. “É um processo muito desigual porque pagamos 23% a mais do que os partidos”, referiu Aurélio Ferreira. No entanto, e mesmo com estes constrangimentos, o número de independentes eleitos tem crescido. Actualmente existem 13 presidentes de Câmara e 342 presidentes de Junta eleitos por movimentos independentes e são a terceira força nas assembleias de freguesia, logo atrás do PS e PSD.
O presidente da AMAI considera ainda que o espaço para crescerem “é tremendo”, beneficiando da descredibilização dos partidos e de uma redução da militância, com as pessoas procurem alternativas. Teresa Serrenho, presidente do MVC, falou da importância dos abstencionistas, que são uma maioria. Relativamente ao encontro, que juntou cerca de 50 pessoas, reconheceu que esperava mais participantes pois sabe que já existem mobilizações a pensar nas próximas autárquicas e poderiam estar presentes para partilhar ideias. Teresa Serrenho entende que alguns não queiram ainda “dar a cara” por entenderem que é cedo, mas não partilha da mesma opinião, considerando que esta é a altura ideal de organizar as coisas com calma.

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A EXPERIÊNCIA LOCAL DOS INDEPENDENTES
Os dois deputados municipais eleitos pelo MVC, Edgar Ximenes e Emanuel Pontes, falaram da sua experiência autárquica. Edgar Ximenes destacou a proximidade do poder local e referiu que o “pior pecado de um autarca é distanciar-se dos seus munícipes ou fregueses”. Defendeu que estes devem ser pragmáticos e evitar que a “miopia ideológica” os impeça de ver as melhores soluções para os problemas que os munícipes esperam ver resolvidos. Referindo-se ao Hospital Termal, Edgar Ximenes referiu que o MVC deu um contributo decisivo na resolução do problema, com a apresentação de um modelo de gestão para o termalismo caldense. Foi proposta a constituição de uma regis cooperativa, com a participação do município, IPSS, associações e cidadãos. Já para os pavilhões do Parque defende o investimento privado. Edgar Ximenes recordou também que desde Janeiro que o Parque está a ser gerido pela Junta de Freguesia e que os resultados são notórios. O deputado municipal referiu ainda que quando chegaram à Assembleia não tiveram a simpatia de nenhum partido e que tiveram que se impor. “Hoje respeitam-nos, ouvem-nos e até nos vêm pedir a opinião”,concluiu. Emanuel Pontes, também deputado municipal, criticou o agendamento de pontos na ordem de trabalhos na Assembleia, muitas das vezes no próprio dia, não lhes permitindo o estudo das matérias. Disse ainda que precisam de mais pessoas no movimento, com conhecimentos em diversas áreas. Também presente no encontro, o presidente da Junta de Freguesia da Foz do Arelho, Fernando Sousa, lembrou a campanha “dura” que protagonizou e, embora esteja satisfeito com o seu trabalho, neste momento não pensa recandidatar-se. Uma decisão que poderá voltar atrás caso o processo que se encontra em tribunal sobre a propriedade de terrenos na Foz não estiver resolvido e não vir convicção nos outros candidatos para defender aquela junta. O MVC está também empenhado em fazer passar a sua mensagem aos jovens. Teresa Isabel Serrenho e Bruno Monterroso propuseram-se reflectir, em conjunto com a plateia, sobre o que é ser independente.

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