Afinal, o que mudou nos primeiros 100 dias de poder do Vamos Mudar?

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Os vários representantes autárquicos tomaram posse a 12 de outubro

Ainda em “estado de graça”, a governação do Vamos Mudar é acompanhada por todos os partidos, que destacam o diálogo e tentativa de obtenção de consensos mas aguardam a prometida mudança…

Mais de três meses passaram desde que o movimento independente Vamos Mudar ganhou as eleições e passou a governar a Câmara das Caldas. Entre os principais feitos está, sem dúvida, a aprovação do Orçamento para 2022 por unanimidade, quer na Câmara quer na Assembleia Municipal e que ficou a dever-se ao diálogo e consensos obtidos na elaboração do documento.
Em jeito de balanço, para o Movimento Vamos Mudar estes primeiros 100 dias foram um período de grande adaptação e aprendizagem.
“Dentro daquilo que mais nos caracteriza, como a simplicidade, a proximidade e a vontade de servir o nosso concelho, temos vindo a conhecer as pessoas e a orgânica de forma a encontrar a melhor forma de trabalhar e adequar a quem nós somos”, refere o movimento liderado por Vítor Marques, em resposta à Gazeta.
O executivo municipal tem sentido o apoio dos colaboradores da Câmara e no plano político destaca a aprovação do orçamento, que lhes permite “ir fazendo o caminho”, embora com a “consciência de que muito há ainda por fazer”.
Por outro lado, o Vamos Mudar não deixa de reconhecer que a passagem de dossiers não foi tão profícua quanto o desejável, bem como a falta de preparação para a receção das competências delegadas por parte do Estado central. Empenhado em fazer uma oposição “construtiva e pela positiva”, o PS, logo no início do mandato autárquico, estabeleceu um memorado de entendimento com o Vamos Mudar. Entre os pontos de convergência estão temas como a construção de um novo hospital do Oeste nas Caldas e de um novo balneário termal, a criação de um plano de incentivo ao investimento e lançamento das bases para a criação de um centro de investigação das águas termais.
Mas é exatamente a falta de iniciativas, nas áreas da saúde e do termalismo, que preocupa o vereador socialista, Luís Patacho, que defende uma definição estratégica sobre o seu futuro. Por isso apresentou uma proposta, discutida na reunião de Câmara desta segunda-feira, para um Projeto de Expansão do Termalismo.
Para o socialista, estes primeiros 100 dias são um período de (natural) aprendizagem para os membros eleitos pelo VM, de conhecimento de “dossiês” e de alguma arrumação da casa.
“A governação seguir-se-á”, salienta o vereador que, pela positiva, valoriza o diálogo na procura de soluções concertadas, “fruto da personalidade do presidente e da composição da Câmara saída das últimas eleições, que a isso impõe”.
Depois de quatro décadas no poder, o PSD vê-se agora a ocupar o lugar da oposição.
Tinta Ferreira considera que ainda não decorreu tempo suficiente para se poder fazer, com rigor, um balanço deste período de governação autárquica do novo executivo municipal. De qualquer forma, numa primeira análise, “deteta-se alguma dificuldade em dar resposta às solicitações dos munícipes, com limitações na capacidade de decisão e uma menor proximidade com as populações ao contrário das expectativas criadas aquando da campanha eleitoral”, avança o anterior presidente da Câmara.
O vereador do PSD reconhece que tem sido dada continuidade a algumas obras que estavam em curso, mas entende que “sente-se alguma quebra de dinâmica” relativamente a abertura de novos concursos de obras e de novos projetos. “Não se percebe ainda qual o caminho que se pretende seguir para o desenvolvimento e crescimento das Caldas da Rainha”, diz, pelo que prefere “aguardar” para se pronunciar.

Atentos ao rumo do executivo
A CDU, que nas últimas autárquicas perdeu o deputado que tinha na Assembleia Municipal, ficando sem representatividade nos órgãos autárquicos, considera que estes primeiros 100 dias de governação não são “de todo, suficientes para realizar um trabalho visível, muito menos para resolver os problemas que o anterior executivo deixou como herança e que a CDU sempre denunciou”. Os candidatos da CDU nas últimas eleições já fizeram chegar ao presidente da Câmara um conjunto de medidas que consideram prioritárias para o concelho e garantem que estarão “atentos ao rumo que o seu executivo seguir nos próximos anos de mandato”.
Também o Bloco de Esquerda, que perdeu a representatividade nos órgãos municipais, destaca a abertura do atual executivo em ouvir as outras forças políticas e as suas propostas, bem como o clima de diálogo construtivo e abertura para colaborar em iniciativas oriundas de vários setores sociais.
Os bloquistas gostariam de ver inscrito no Plano e Orçamento a atribuição automática da Tarifa Social da Água e Resíduos, “que foi protelada pelo anterior executivo desde novembro de 2020”, data da aprovação por unanimidade na Assembleia Municipal de uma recomendação feita pelo BE.
Os representantes deste partido não vislumbram, nestes primeiros 100 dias, medidas com “impacto imediato que exigiriam coragem política, mas com efeitos imediatos na qualidade ambiental”, dando como exemplos a retirada da circulação rodoviária não essencial no trajeto que atravessa a cidade pelo centro histórico. Também consideram que o espaço onde se realiza a feira semanal merecia uma intervenção urgente, tendo em conta que não oferece as mínimas condições, principalmente a pessoas com dificuldades de mobilidade, e os espaços sanitários necessitam de requalificação.

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Volta de 180 graus na Câmara
Também Paulo Pessoa de Carvalho, militante do CDS-PP e candidato à câmara pela coligação Caldas Mais Rainha, tem dificuldades em fazer um balanço exato destes primeiros meses de governação do município.
“Houve uma volta de 180 graus na Câmara das Caldas no respeitante ao que era dado como adquirido e o que passou a ser, com muitas incertezas pelo meio, com muitos protagonistas a mudar de cena”, resume o centrista, que entende que não terá sido um arranque do zero, mas “garantidamente que alterações com expressão existiram e que não permitem avaliar o que é uma gestão em “velocidade cruzeiro” ou mesmo permitido que esta tenha atingido a pretendida”. Razões pelas quais quer esperar mais três meses, para poder formular uma opinião mais sustentada.
Edmundo Carvalho, candidato pelo Chega nas autárquicas, corrobora da opinião de que ainda é cedo para avaliar a governação, mas não deixa de destacar o diálogo promovido com as forças políticas não eleitas em torno do plano e orçamento para 2022, dando a conhecer as grandes linhas de atuação. “Revela vontade de agregar e envolver o máximo de forças vivas da cidade, o que é de louvar”, manifesta.
Na sua opinião, ainda não são visíveis mudanças concretas que considera imperativas, nomeadamente na reorganização de serviços e recursos, de modo a proporcionar uma governação mais eficiente e de proximidade para com os munícipes. Considera que ainda não é tarde, tendo em conta que essas “mudanças requerem, por norma, os necessários estudos e auditorias internas”.

 

O que dizem as forças políticas

 

Como aspetos positivos destaca a maior proximidade aos cidadãos, a descentralização das reuniões com as freguesias, a defesa do hospital e melhoria dos cuidados de saúde primários nas freguesias. Por outro lado, o impacto da pandemia e a passagem de dossiês que não foi tão profícua quanto o desejado, são aspetos negativos.

 

 

Pela positiva, o PSD destaca a tentativa de dar continuidade às obras em curso e de cumprir com os compromissos já assumidos anteriormente. Já o reduzido apoio atribuído, até agora, às associações, reduzido aumento da verba para as juntas e corte no apoio à fatura da água e outros benefícios no âmbito da covid-19 são aspetos negativos.

 

 

O PS destaca o diálogo na procura de soluções concertadas, fruto da personalidade do presidente e da composição da Câmara, que a isso impõe. Pela negativa é dada nota da falta de agenda, de iniciativas do VM durante este período, com enfoque ao nível da saúde e do termalismo, que precisa de uma definição estratégica sobre o seu futuro.

 

O Chega vê como positivo a vontade do executivo em estabelecer diálogo com as forças políticas não eleitas e em agregar e envolver o máximo de forças vivas da cidade. A falta de comparência de dois deputados VM na tomada de posse para a Assembleia Municipal é vista como um aspeto negativo e um mau exemplo dado logo no primeiro dia.

 

 

A preocupação em ouvir as pessoas, e especialmente as outras forças políticas sem assento nos órgãos autárquicos eleitos tem nota positiva do CDS-PP. Pela negativa, refere a falta de comunicação e informação, até das dificuldades que encontrou. Há dossiers pelos quais a população anseia notícias e é importante partilhar.

 

Ouvir as outras forças que concorreram nas eleições, o clima de diálogo construtivo e a intervenção nos espaços verdes da cidade são aspetos positivos deste executivo. Já o facto de não ter inscrito no Orçamento a Tarifa Social de Água e Resíduos, a falta de medidas com impacto ao nível da emergência climática e segurança é negativo.

 

 

A CDU considera não haver, neste período, elementos suficientes para um balanço substancial da nova governação, pelo que não crê que existam para já aspetos negativos ou positivos que possa destacar.

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