Abraço ao hospital das Caldas marcado para hoje à noite às 20h00

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Um cordão humano em torno do hospital das Caldas para realizar hoje à noite foi uma das acções resultantes da reunião que teve lugar no CCC no passado dia 15 de Fevereiro e que contou com a participação de mais de 200 pessoas.

A iniciativa foi organizada pelo BE, CDU e PS e destinou-se a debater o futuro do hospital caldense, tendo em conta as notícias recentes de junção do Centro Hospitalar Oeste Norte com os hospitais de Torres Vedras.
Num encontro que provou que os serviços de saúde motivam uma rápida mobilização da população, foi elaborada uma petição que no início desta semana contava já com mais de mil assinaturas e convocou-se o abraço ao hospital para as 20h00 de hoje.

Mas a noite acabou por ficar marcada com o abandono da sala por parte de Manuel Isaac, deputado à Assembleia da República pelo CDS-PP, que não tolerou os insultos e ofensas vindos de uma das pessoas que lotavam o auditório. Com o deputado saíram os militantes centristas que assistiam à sessão, bem como diversas pessoas sem ligações partidárias, que não pouparam críticas à inacção da mesa perante as ofensas vindas da plateia.
“Reiterar às populações abrangidas pelo CHON (229 mil habitantes) cuidados de saúde que custaram muitos anos a consolidar e legitimar é algo que não pode ser aceite, especialmente porque contraria as reiteradas expectativas criadas por inúmeras e recorrentes promessas dos governantes ao longo dos anos”. É esta a mensagem veiculada pela petição que anda nas ruas e que no início da semana tinha já reunido mais mil assinaturas. Um texto saído do encontro realizado no CCC e que, depois de discutida uma versão inicial, foi limpo de quaisquer partidarismos e reclamações de investimentos para os quais, sabe-se de antemão, o país não tem dinheiro.
A missiva reclama a manutenção de uma urgência médico-cirúrgica nas Caldas da Rainha e das valências existentes no hospital local, não só das necessárias ao funcionamento das referidas urgências, mas também das que se articulam com a actividade termal, nomeadamente a Reumatologia, a Medicina Física e de Reabilitação e a Otorrinolaringologia. Exige-se ainda a manutenção do Conselho de Administração do futuro Centro Hospitalar Norte nas Caldas da Rainha.
O texto que agora pode ser assinado não é, no entanto, o que inicialmente foi apresentado no encontro de dia 15. Promovida pelo BE, CDU e PS, a reunião foi aproveitada pelos três partidos para reafirmarem as críticas que já tinham feito no manifesto comum (noticiado na última edição da Gazeta das Caldas). Além do alerta quanto à possibilidade da unidade hospitalar local perder especialidades que se consideram essenciais em qualquer hospital, os três partidos de esquerda apontaram ainda o dedo aos governantes nacionais e aos eleitos locais do PSD e CDS-PP. Isto apesar de defenderem que a luta pela manutenção dos serviços de saúde tem que estar acima de qualquer questão partidária.
O trio formado pelo BE, CDU e PS acusa Fernando Costa, Maria da Conceição Pereira e Manuel Isaac de andarem “a negociar esta afronta pelo menos há cerca de dois meses em absoluto segredo nas costas da população a quem devem o poder que ocupam”, e por isso mesmo os grandes responsáveis pela incerteza que se vive actualmente.
Neste momento ainda não é conhecida qualquer decisão formal por parte da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) quanto às mudanças que serão introduzidas com a já certa fusão do Centro Hospitalar Oeste Norte com o Centro Hospitalar de Torres Vedras.
No seu estilo habitual, Fernando Rocha, do BE, falou na “corja que nos governa”, num “império de saqueadores e incompetentes” que quer “enxotar o direito aos cuidados de saúde”.
Mais moderado nas críticas, Vítor Fernandes (CDU), diz que “este processo começou mal porque está a ser tratado nos gabinetes” e acrescenta que “é grave” o facto do alguns autarcas de concelhos afectados pelas mudanças terem conhecimento do que se passa apenas pelos jornais. O comunista alertou ainda para a situação dos trabalhadores do hospital, que se vêem perante uma “deterioração” dos serviços e despedimentos de pessoal, sem saberem ao certo o que se passa.
Já Delfim Azevedo (PS), recusou estarem a ser alarmistas e defendeu que “seja o que for que aconteça a Torres Vedras, a unidade das Caldas é a que tem futuro nesta região”. Além do impacto que teria para a qualidade de vida das populações a perda de valências no Hospital das Caldas, o socialista alertou ainda para as consequências económicas desta alegada mudança: “sem a unidade das Caldas, a aposta no turismo cai por terra”.
Manuel Isaac “dá a cara” e acaba insultado

Presente na sala estava o deputado Manuel Isaac, que disse estar ali “para dar a cara e negar olhos nos olhos as acusações de traição” que lhe tinham sido feitas pelos partidos de esquerda e deixar a garantia de “defender os interesses dos caldenses, independentemente do partido que está no poder”. Pouco depois de se ter dirigido ao palanque o deputado centrista foi insultado, por diversas vezes, por um popular que estava na plateia. A mesa não se pronunciou e as ofensas continuaram, até com impropérios, pelo que Manuel Isaac abandonou a sala.
O episódio acabou por marcar a noite. Cerca de 20 pessoas (umas ligadas ao CDS-PP, outras sem ligações partidárias conhecidas) recusaram-se a continuar no debate e também saíram da sala. A mesa foi acusada de ter sido permissiva e de não se ter imposto perante um episódio que pôs em causa o civismo que se queria para o debate. Críticas feitas não só pelos populares, mas por diversos políticos, alguns até militantes dos partidos que convocaram a reunião. Outros houve que na altura nada fizeram e apenas no dia seguinte se serviram das redes sociais para manifestar “total solidariedade” para com Manuel Isaac.
Já depois da reunião, Manuel Isaac deixou à Gazeta das Caldas a garantia de “nunca fugir da polémica, seja ela qual for”, dando a cara “para o bem e para o mal”. Mas disse “não poder permitir que quem organizou o debate não tenha em atenção o respeito pelas pessoas”.

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Abraço ao hospital marcado para esta noite

Ao longo de mais de duas horas de debate, onde se recuperou história do Hospital das Caldas da Rainha e as sucessivas mudanças nos serviços de saúde regionais, muitos foram os que levantaram a voz para reivindicar a manutenção das especialidades e criticarem o governo pelo que se prepara para fazer na reorganização dos hospitais.
Um dos oradores foi Jorge Varanda, antigo administrador do hospital das Caldas da Rainha, que defendeu que “não faz sentido que se coloque a hipótese de concentrar mais recursos nas proximidades de Lisboa”. O ex-administrador criticou as decisões tomadas localmente há 25 anos, que considera parte das causas da actual incerteza. “Assentar o desenvolvimento de uma cidade apenas na construção civil não dá”, acusou, defendendo que “se tivessem investido na saúde teríamos neste momento capacidade concorrencial”. A tónica, defende, deveria ter sido posta no termalismo. Uma opinião partilhada por António Curado, actual chefe do serviço de Gastrenterologia do hospital caldense.
Considerando que “a defesa do hospital distrital é justificável mesmo na actual situação financeira do país”, Jorge Varanda deixou ainda aos presentes o apelo para que “não se deixem enrolar nesta situação. Podem até prometer-vos um hospital novo, mas o país não tem dinheiro”, alertou. E foram muitas as vozes que se juntaram para apelar à mobilização da população nesta luta. A petição que já anda a circular nas ruas e na Internet é uma das acções de protesto.
Mas o texto actual está bem longe da primeira versão que foi apresentada na reunião de dia 16 de Fevereiro. No original acusavam-se o PSD e o CDS-PP como culpados pela incerteza que se vive e reclamavam-se investimentos, entre outras reivindicações. Mas assim que o texto foi lido pelo vereador socialista Rui Correia, alguns dos presentes alertaram para o facto de aquele texto partidarizar a luta e exigir do governo algo que se sabe já ser impossível: dezenas de milhões de euros investidos em altura de crise. Foi já no final da reunião que o texto final, dirigido à presidente da Assembleia da República, foi redigido. Para esta noite, às 20h00, está convocado um abraço ao hospital, na qual os organizadores querem ver envolvidos populares e funcionários da unidade (muitos dois quais marcaram presença, ainda que silenciosa, no encontro do CCC).

Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt

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2 COMENTÁRIOS

  1. Não há €€ para construir mais nenhum hospital, o de Caldas é muito deficente em instalações. Para ficar com um mínimo de segurança deve reduzir a capacidade para 90 camas. Tem serviços de apoio a funcionar em contentores alugados a preços exorbitantes,logo não tem capacidade para ser o centro de decisão do CHO.

  2. Os recursos hospitalares devem ser colocados de acordo com o nº de utentes. O concelho de Caldas tem 51.000 utentes, subirá a 63.000 se lhe juntar Óbidos. Torres tem 79.000, subirá a 105.000 se juntar a Lourinhã e se Peniche se juntar a Torres Vedras (que era o que devia ter sido feito em 2009) somarão 130.000, logo a sede administrativa do CHO deve ficar sediada em Torres Vedras, até porque tem maior capacidade e melhores instalações de Internamento