À frente dos destinos da concelhia socialista desde outubro do ano passado, Pedro Seixas, de 35 anos, assume agora a representação do partido junto do executivo, fruto da desvinculação do vereador eleito. O memorando assinado entre o PS e o VM deverá ter continuidade, mas depois de revisto.
Com a desvinculação do partido, por parte do vereador Luís Patacho, o PS ficou sem representatividade na Câmara. Que consequências tem esta posição?
A desvinculação do vereador foi algo inesperado e teve a consequência do PS, pela primeira vez, deixar de ter representação no executivo municipal. Para nós isso era importantíssimo. Agora deixamos de ter uma informação semanal sobre a agenda municipal dos assuntos que estão em cima da mesa, o que é fundamental para fazermos uma oposição construtiva.
Como militante e presidente da concelhia assumo que não é confortável deixarmos de ter essa representação, ainda mais de forma inesperada e por ser um dos nossos a ir embora.
A concelhia já estava à espera deste desfecho ou foi apanhada de surpresa?
Não, foi mesmo uma surpresa. Falávamos semanalmente sobre os assuntos da ordem do dia e esta decisão foi mesmo inesperada.
E como é que a concelhia reagiu internamente?
Reagiu com tristeza, mas de uma forma democrática, aceitando a decisão e assumindo que temos de ter uma estratégia, que passa sempre pelo PS. Contamos com os que estão, os que se querem ir embora, democraticamente, aceitamos a sua saída.
No comunicado que fez referiu que a liderança representativa do PS nos órgãos municipais será assumida pelo presidente da concelhia e primeiro eleito na Assembleia Municipal (AM), Pedro Seixas. Que novas funções terá?
Na comissão política que convoquei para anunciar o que o vereador Luís Patacho me tinha comunicado foram peremptórios, e entenderam-no por unanimidade, que terá de haver um representante junto da instituição Câmara, com o executivo, e que seria o presidente da concelhia a fazê-lo. Com essa responsabilidade assumida, pedi uma reunião ao executivo para informar que, a partir de agora a comunicação seria comigo, o presidente da concelhia, e que estávamos prontos para liderar o processo.
Na Assembleia Municipal continua o Jaime Neto como líder da bancada, mas serei também ali uma voz ativa do partido.
E já reuniu com o executivo?
Sim, pedi uma reunião e já falámos abertamente sobre o novo quadro político. Tive uma conversa cordial e honesta, em que falámos de pontos de divergência e de convergência e da necessidade de haver, agora, mais diálogo porque não há uma representação no executivo, sendo que ainda há uma relação institucional entre o VM e o PS, através do memorando.
Esse memorando terá continuidade?
O memorando é assinado por duas entidades, para haver continuidade ambas têm de querer, se uma não quer este não faz sentido. A conversa foi muito cordial e não vejo que não possa continuar, mas agora vamos falar nos órgãos próprios (na comissão concelhia). Ambos reconhecemos que há necessidade de fazer um balanço e podem-se rever algumas coisas porque o memorando está centralizado na ação executiva. O PS continua com a sua ação na assembleia municipal, é um órgão deliberativo, da máxima importância e estratégico, pelo que teremos de ter acesso a informações que agora não temos. Na reunião senti necessidade de dizer que é preciso fazer reuniões sobre diversos assuntos que passam na agenda municipal e mostraram-se abertos a isso.
Qual o balanço que faz do trabalho do executivo?
Foi uma quebra do que era a governação do PSD, os atores mudaram e a forma de fazer política também mudou. Há aspetos positivos em alterações que eu acho que devem ser tidos em conta, mas ainda não há nada visível para que possa dizer que há uma grande transformação na cidade. A ajuda que o PS pode dar é através das nossas propostas que enunciamos nos orçamentos.
Eu defendo muito a proximidade e o compromisso. Temos de ir ter com as pessoas e saber o que querem e temos de dizer-lhes o que queremos, porque o queremos e da maneira que o vamos fazer. Por exemplo, na Assembleia Municipal, na questão do saneamento, defendi que era preciso falar com as pessoas.
Reestruturar a casa leva tempo, mas há coisas que quando se executam ou quando se tem uma proposta, se calhar há pontos que faríamos de forma diferente.
É também verdade que o PS viabilizou os dois orçamentos, pois continham propostas nossas.
Estamos quase a meio do mandato autárquico, daqui para a frente como será a oposição socialista?
Será, pelo menos, mais exigente. Na reunião frisei que o PS tem um memorando de entendimento, mas que eu não prescindo nem abdico de fazer oposição, foi esse mandato que nos deram. Vamos estar vigilantes, mas construtivos e fazendo propostas concretas em determinados assuntos, como o saneamento. Acho que a Assembleia Municipal deve continuar esta discussão e não a dar como terminada porque o assunto foi aprovado.
Não foi convencido dessa inevitabilidade?
Não, porque não sou a favor que se taxe alguma coisa que não se usufrui. Custa ao cidadão caldense que não tem saneamento ter um aumento na fatura sobre um serviço que não tem. Também não entendo que a entidade reguladora venha impor. Nesta situação concreta há pessoas que não se importarão de pagar, mas temos de dar o direito de opção porque não existe o serviço em todo o lado.
A saúde e o novo hospital foram apontados como a prioridade em termos de ação política. O que o PS está a fazer?
A última iniciativa que fizemos foi pedir reuniões às lideranças do partido. Reunirmos como o líder parlamentar do PS, com o coordenador na área da saúde do PS e com a vice-presidente do grupo parlamentar, aos quais pudemos expor a nossa opinião sobre o assunto. O PS também foi defensor que houvesse uma assembleia extraordinária, para depois sair dali uma posição unânime de todas as forças, e em que a população também estivesse presente. Mas não foi aceite por questões regimentais.
Uma das críticas que outros partidos têm apontado é a da liderança nacional do PS e PSD não tomarem uma posição relativamente a este assunto. Também sente isso?
A necessidade de ir falar com o grupo parlamentar, que eu represento localmente, foi mesmo essa, de vincar a nossa posição. É verdade que a nível nacional, abdicam de ter alguma opinião sobre o assunto porque não cabe ao parlamento decidir. Na minha opinião pessoal, se era um ato de coragem assumi-la, sim, mas é difícil porque os grupos parlamentares grandes também têm maiores oposições internas.
O presidente da Câmara das Caldas diz associa a escolha da localização a opções políticas, neste caso do PS. Que comentário lhe merece?
É uma decisão política e espero que seja bem tomada, como caldense e como socialista. Não é uma decisão fácil, mas espero que olhem na sua globalidade e que, sobretudo seja tomada a pensar no país. Se assim for certamente Caldas da Rainha é a melhor localização.
Quando foi eleito presidente da concelhia referiu que um dos objetivos seria unir os socialistas? Está a conseguir?
Creio que sim. Os socialistas também mostraram alguma maturidade política com o que se passou recentemente e unimo-nos. O nosso projeto é mostrar às pessoas que estamos aqui para elas. Neste momento temos uma concelhia unida, forte e, tenho a certeza, capaz de levar o barco a bom porto e construirmos uma alternativa para as Caldas.
As eleições serão dentro de dois anos. O que se pode esperar do PS caldense?
É no entendimento de que é preciso proximidade que o PS está a construir o seu caminho. Vamos criar, ainda este ano, umas jornadas municipais. Irão começar nas freguesias, com as pessoas, as associações e agentes locais, e depois queremos terminar com os Estados Gerais, que será uma sumula de todo o trabalho feito e que pretendemos que seja uma base para o nosso programa eleitoral.
Para além da saúde, quais são as prioridades para esta concelhia?
A questão da habitação, por exemplo. Quero fazer um colóquio sobre a habitação e já falei com a ministra da Habitação para o podermos fazer nas Caldas, porque a habitação começa a ser um problema.
Quando tornarmos o nosso parque habitacional melhor, tornará a cidade mais atrativa.
A saúde tomou as agendas de todos mas a habitação também está entre os principais problemas porque toca diretamente na vida das pessoas. ■































