A construção do empreendimento Falésia d’el Rey, junto à Lagoa de Óbidos, que levou à desmatação de uma grande área de coberto vegetal e ao corte de caminhos tem motivado a queixa de muitos moradores da freguesia do Vau. Este é o principal problema com que se bate o presidente da Junta, Joaquim Martins, que embora reconheça o impacto do investimento, teme que este não se venha a concretizar na sua plenitude, à semelhança do que aconteceu com outros nas imediações.
“A Junta na altura [2009] pronunciou-se contra o fecho do caminho e contra a desmatação de toda a faixa paralela às dunas”, disse, adiantando que a informação “não foi ouvida” e que “foi tudo aprovado e estão a fazer o que entendem”.
Entre as obras que Joaquim Martins quer fazer durante o seu mandato está a construção dos balneários públicos.
Apresentada como “aldeia dos encantos”, o Vau tem 952 habitantes (Censos 2011) que se dedicam essencialmente à agricultura, sobretudo produção de cebola, e à pesca e apanha de bivalves na Lagoa de Óbidos.
Com uma área de 32,9 quilómetros quadrados, o Vau é freguesia desde 1747 e, desde 2012 que possui a propriedade dos 60 hectares que compõem a Poça do Vau, uma área que foi dada pela rainha à população para pastoreio, caça e pesca.
Joaquim dos Santos Martins
Eleito como independente pelo PSD
Segundo mandato
71 anos
Profissão: reformado
Casado, dois filhos e três netos
GAZETA DAS CALDAS – Estamos a meio do mandato autárquico. Como está a correr?
JOAQUIM MARTINS – Está a correr bem.
G.C. – Quais as promessas eleitorais que já cumpriu desde que tomou posse?
J.M. – Estamos a requalificar as traseiras da Igreja, com as obras praticamente concluídas. Também está num estado muito avançado o alargamento da Estrada do Barreiro, que liga ao Arelho.
Ainda este ano tenciono avançar com a criação de um espaço de lazer junto ao campo de futebol, que terá um espaço relvado, com baloiços e escorregas onde as crianças podem brincar e passar os tempos livres, juntamente também com as pessoas de mais idade.
G.C. – O que lhe falta ainda fazer?
J.M. – Até ao fim do mandado ainda queria construir uns balneários públicos junto da parafarmácia. É uma obra que faz muita falta à freguesia, sobretudo às pessoas da localidade porque o existente, junto aos lavadouros, já não tem condições.
G.C. – Quais são os principais problemas desta freguesia?
J.M. – Tenho tido alguns problemas com a construção do empreendimento Falésia d’el Rey, em que os moradores do Bom Sucesso estão um bocado descontentes com o corte de caminhos, nomeadamente um que é centenário.
G.C. – E o que acha da destruição de coberto vegetal que está a ser feita na sua freguesia com aquela obra?
J.M. – Tenho tido muita reclamação por parte dos moradores. Só um dia recebi na Junta mais de 20 e-mail de pessoas do Bom Sucesso a reclamar e onde alertavam para a possibilidade do empreendimento ficar parado e não ter sucesso.
G.C. – Não o preocupa os avisos dos ambientalistas de que isso vai, a prazo, provocar a erosão da costa e prejudicar as praias da zona?
J.M . – Sim. O problema é que agora as pessoas reclamaram, mas já foi tarde. Em 2009, quando foi feito o estudo de impacto ambiental e pediram à Junta de Freguesia do Vau para se pronunciar sobre o caminho, esta disse que se tratava de um caminho centenário e que era para manter. E não só o caminho como também a zona das dunas.
A Junta na altura pronunciou-se contra o fecho do caminho e contra a desmatação de toda a faixa paralela às dunas. Informámos a CCDR, mas a nossa informação não foi ouvida, foi tudo aprovado e estão a fazer o que entendem.
Em algumas coisas vamos ficar beneficiados porque havia uma estrada de terra batida que dava acesso ao Rio Cortiço e que agora será alcatroada. No entanto, alguns acessos vão deixar de existir e isso preocupa-nos.
“Preocupa-me muito que o empreendimento fique incompleto”
G.C. – Teme que o projecto Falésias D’el Rey venha a ficar incompleto, tendo em conta que é gerido pela massa insolvente de uma empresa?
J.M . – Preocupa-me muito que fique incompleto. Tenho falado com o presidente da Câmara.
Gosto que os empreendedores invistam na zona, só que muito me custa se acontecer como o empreendimento do Bom Sucesso em que estão casas e o hotel inacabado. O empreendimento da Falésia d’el Rey também prevê a construção de um hotel, muito perto de um outro, do Royal Óbidos
G.C. – A Câmara de Óbidos recebeu 10 milhões de euros pelo licenciamento desse projecto. A freguesia do Vau recebeu alguma parte desse montante?
J.M . – Não. Muitas pessoas da freguesias perguntam-me isso mesmo, se não havia possibilidade de aplicar esse dinheiro mais para a freguesia, mas o presidente da Câmara diz que tem que ser distribuído por todo o concelho. E ainda na Assembleia disse que tem sido canalizado para programas sociais.
G.C. – Qual o impacto dos projectos imobiliários da zona no emprego da freguesia do Vau? Há muita gente da freguesia a trabalhar nesses empreendimentos?
J.M. – Sim, muitas pessoas do Vau trabalharam no empreendimento do Bom Sucesso quando esteve em construção, só que foi temporário. Neste momento há várias pessoas que trabalham na manutenção dos campos de golfe.
G.C. – Está a decorrer a intervenção de dragagens na Lagoa de Óbidos. Está a acompanhar os trabalhos? O problema do assoreamento ficará resolvido?
J.M. – Aqui no Vau há algumas dezenas de pessoas que trabalham diariamente na apanha de peixe e marisco na Lagoa e dizem que não acham bem como esta intervenção está a ser feita. Há uma máquina que está a intervir na zona da aberta e a colocar ali areia que, parece-me a mim e aos pescadores, que está de novo a entrar para dentro da Lagoa, que aquele não seria o melhor local para a colocar.
“Precisava de mais dois funcionários”
G.C. – O financiamento continua a ser o principal problema da freguesia?
J.M. – Sim. Temos uma freguesia com 33 quilómetros de superfície, com toda a área do Bom Sucessos, com tantas ruas para limpar, passeios para pulverizar e mais de 200 quilómetros de caminhos rurais, que temos que manter transitáveis. As pessoas também são hoje mais exigentes e temos que tentar dar respostas.
G.C. – Qual o orçamento da sua Junta de Freguesia?
J.M. – O orçamento é de cerca de 130 mil euros. Do Fundo de Financiamento das Freguesias provêm 37 mil euros e a Câmara atribuí 57 mil euros.
Depois temos outras pequenas receitas de licenciamentos e rendas da extensão de saúde, da parafarmácia e do posto de análises.
G.C. – Quantos funcionários tem a Junta?
J.M. – Temos três funcionários a tempo inteiro e outro a meio tempo.
G.C. – São suficientes?
J.M . – Não. Para manter a minha freguesia limpa precisava de mais dois funcionários. É uma área muito extensa.
G.C. – A delegação de competências é uma boa medida ou é um presente envenenado?
J.M. – Para mim a delegação de competências é uma coisa boa pois dá-nos mais autonomia para fazermos os trabalhos.
G.C. – Como é o diálogo com o presidente da Câmara?
J.M. – É muito bom. Às vezes evito telefonar-lhe porque é uma pessoa ocupada e é ele próprio que me liga.
G.C. – Quando estarão concluídas as obras no Jardim-de-infância do Vau?
J.M. – Já estão acabadas e o jardim começou a funcionar no dia 29 de Setembro com 14 crianças. A empresa atrasou-se na obra, mas deu-a por finalizada no sábado.
O jardim-de-infância levou um piso novo, foram trocadas as torneiras das casas de banho, colocada uma bancada na cozinha, mudados os estores e pintado, está muito funcional.
G.C. – A extensão do centro de saúde está a funcionar?
J.M. – Tem um funcionamento impecável, nunca mais vamos ter uma doutora dedicada como esta que entra diariamente às 9h15 e sai muitas vezes às 19h00.
Também tínhamos uma enfermeira, mas por motivos de doença deixou de vir. Desde há seis meses que a Junta de Freguesia assegura o transporte, duas vezes por semana, ao centro de saúde de Óbidos para cuidados de enfermagem.
G.C. – A estação dos CTT está a funcionar?
J.M. – Sim, a Junta garante o serviço com uma funcionária. É uma mais-valia para as pessoas, que podem aqui fazer os pagamentos sem necessidade de se deslocar a Óbidos.
G.C. – Que colectividades e grupos cívicos se destacam na dinamização da vida social e cultural da freguesia?
J.M. – Temos a Associação Desportiva, Recreativa e Cultural Vauense (que neste momento está sem direcção), a Associação de Pescadores e Mariscadores Amigos da Lagoa de Óbidos e o Centro Social do Vau.
“Gosto do que faço e tenho disponibilidade”
G.C. – Como é o dia-a-dia de um presidente de Junta?
J.M. – Levanto-me cedo e diariamente, pelas 8h30, estou na Junta de Freguesia. Quando é necessário posso terminar às 19h00 ou mais tarde. Gosto do que faço e tenho disponibilidade.
G.C. – Quais são as maiores dificuldades com que se depara?
J.M. – Gostava de fazer mais coisas, mas há limitações sobretudo financeiras, que não me deixam ir mais longe.
G.C. – Como é que se meteu na política?
J.M. – Fui convidado pelo candidato pelo PSD, José Teixeira da Silva, que depois foi eleito presidente da Junta. Antes, em 1985, já tinha feito parte da Assembleia de Freguesia.
G.C. – Como tem sido o comportamento da oposição na Assembleia de Freguesia?
J.M. – Neste mandato a oposição tem sido impecável. Por vezes chamam-me a atenção, e eu agradeço, porque não sabemos de tudo o que se passa, mas não levantam problemas e são compreensivos.
G.C. – Nasceu nesta freguesia?
J.M. – Sim. Vivi sempre cá, com excepção dos anos entre 1970 e 1977, altura em que estive emigrado em França.
G.C. – Tenciona recandidatar-se?
J.M. – Não, acho que já chega. Os meus filhos estão no estrangeiro e a minha esposa sente-se sozinha. Quando chegar a 2017 deixo a política para outros.
G.C. – Como lida com as pessoas descontentes com a sua prestação?
J.M. – Acho que as pessoas estão satisfeitas com o meu trabalho, e eu tenho paciência e oiço todas as opiniões.
G.C. – Das suas funções neste cargo, de que é que gosta mais?
J.M. – Gosto de acompanhar as obras, e até queria ter mais, assim como de ajudar as pessoas com mais necessidades. Estou sempre disponível para transportar as pessoas que moram nos locais mais isolados, e que não têm forma de se deslocar, aqui ao posto médico ou para irem a Óbidos.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt






























