“A Câmara da Nazaré é a minha cadeira de sonho na política”

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Reeleito para um terceiro e derradeiro mandato à frente da Câmara da Nazaré, Walter Chicharro garante que não tem intenção de sair do cargo antes de 2025

A conclusão do projeto do Funicular da Pederneira é uma das grandes metas do socialista que, em 2013, recuperou um bastião para o partido. Em entrevista, Walter Chicharro volta a garantir que pretende cumprir os 12 anos na Câmara da Nazaré.
Entra no terceiro mandato. Com que expetativas parte para fechar o ciclo de 12 anos?
Mantenho a mesma dedicação, empenho e vontade de continuar a qualificar o concelho, para lá da obra física, com que encarei os dois primeiros mandatos. Estes oito anos têm tido muita afirmação que vai para além da obra física, basta ver o reconhecimento global da marca Nazaré, desencadeada através de uma campanha de comunicação que tem a onda gigante como base. Por isso, as premissas são as mesmas. Sendo presidente da Federação Distrital de Leiria do PS e na antecâmara das eleições legislativas, seria legítimo integrar a lista de deputados, mas mantenho aquilo que disse quando apresentei a candidatura: manter-me-ei na Nazaré até ao fim do mandato, porque tenho muita coisa para concretizar e há muito poucas coisas que me fariam sair da Câmara.

E que grandes projetos espera ver concretizados?
Há um conjunto de obras que, sendo estruturantes, não terão o mesmo peso das obras do segundo mandato, em que inaugurámos o Centro de Saúde, o Centro Escolar de Famalicão e o parque empresarial de Valado dos Frades. O Funicular da Pederneira é uma das obras que desejamos ver concretizadas. Mas também temos iniciativas ligadas à mobilidade, nomeadamente para resolver o problema, que é antigo, do estacionamento. Nesse sentido, vamos construir um silo automóvel, com um parque de estacionamento com dois pisos enterrados e dois pisos à superfície, junto à Câmara, cuja solução de financiamento está a ser gizada. Além disso, depositamos grande esperança no projeto de mobilidade suave do Alcoa, que é uma iniciativa com a Câmara de Alcobaça, que vai permitir ligar o centro da Nazaré ao centro de Alcobaça e que é uma grande aposta dos dois municípios. Outro projeto que acarinhamos é a requalificação do Mercado Municipal da Nazaré, com uma solução de estacionamento, mas também com aposta no alojamento. Queremos criar uma centralidade ligada à gastronomia, tendo como referência os mercados de Roterdão, Barcelona e o mercado de San Miguel, em Madrid.

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E nas freguesias?
Em Famalicão vamos concretizar o projeto do pavilhão, até porque é a única freguesia do concelho onde não há desporto federado. E em Valado dos Frades estamos a construir um parque de estacionamento no centro da vila, para dar uma resposta efetiva às populações. E, depois, há obras muito significativas, como a desclassificação da EN8-5, que atravessa Valado dos Frades e termina no Forte de S. Miguel Arcanjo, no Sítio, e que possibilitará à Câmara, fazer uma intervenção que a valorize. A negociação com a Infraestruturas de Portugal está encaminhada e virá acompanhada do respetivo envelope financeiro. Mas temos muito mais por fazer, como tratar das arribas do Sítio, a requalificação da Ladeira ou o fecho do projeto da Escola Amadeu Gaudêncio. Estas serão obras muito importantes, mas talvez não tenham o impacto das obras do segundo mandato.

Já se começa a falar na sucessão. Como é que o PS/Nazaré está a preparar esse processo?
O PS ainda não iniciou essa preparação. O presidente da Câmara tem uma ideia de quem deve assumir essa sucessão, e é alguém que está dentro desta equipa, mas esse assunto será tratado em devido tempo. É muito cedo para iniciar essa discussão e há, acima de tudo, de prosseguir o trabalho e criar condições, naturalmente, para o partido continuar a ganhar eleições. Quando entrei na Câmara acreditava que 12 anos seriam suficientes para mudar a face da autarquia. Com modéstia, digo que essa mudança foi logo muito notória no primeiro mandato e consolidada no segundo mandato. Concordo com a renovação nestes lugares, não discuto se devem ser dois ou três mandatos, seguramente não são cinco, mas o que não faz muito sentido é quem faz estas leis não tenha estas limitações. No Parlamento continua a não haver limitações de mandatos.

No mandato anterior chegou a falar-se de uma saída para o Turismo do Centro. Mas a intenção é ficar até 2025?
Volto a reiterar que há muito poucos projetos que me possam tirar daqui. Mas há convites que são irrecusáveis. Ainda assim, só poderia admitir sair se deixasse a Câmara governável, no sentido de ela caminhar para o que entendemos ser o melhor para o concelho. Ser presidente da Câmara da Nazaré nunca foi um objetivo de vida, mas é a minha cadeira de sonho na política. Por isso, não há muitos convites que me façam balançar. Qualquer convite teria de ser altamente ponderado, mas nunca serão a minha cadeira de sonho. Tenho de deixar essa possibilidade em aberto, mas a probabilidade de vir a acontecer é baixíssima.

O PS baixou votação nas últimas autárquicas, perdeu um vereador, a Junta de Valado dos Frades e a maioria absoluta na Assembleia Municipal. Sentiu que foi um cartão amarelo da população?
De modo algum. É preciso dizer que esta é a minha terceira vitória consecutiva, que foi a minha segunda maior votação e também, porque isso tem de ser dito, que vínhamos da maior votação de sempre do PS no concelho, onde nunca nenhum partido tinha obtido cinco eleitos. Temos maioria absoluta na Assembleia Municipal, embora com voto de qualidade, e na Câmara também temos maioria absoluta. Aliás, o executivo é igual ao do primeiro mandato, mas com votação superior. É natural que oito anos tragam desgaste. Fizemos a leitura do que sucedeu em Valado dos Frades, mas foi algo que nos surpreendeu. Não posso deixar de afirmar que esse resultado aconteceu na freguesia que recebeu o maior investimento dos meus mandatos, com 5,5 milhões de euros no parque empresarial, essencialmente feito com capitais próprios, pois só tivemos 1,7 milhões de euros de fundos europeus. Mas isso não nos impedirá de continuar a trabalhar pela freguesia e o relacionamento com o presidente da Junta [Samuel de Oliveira, da CDU] é muito bom. Mais do que os partidos, o que está em causa são as pessoas.

O tema da dívida parece estar a cair em desuso no discurso político na Nazaré. Isso quer dizer que a dívida já não pesa tanto?
A dívida continua a ser um problema diário. Vivemos é uma boa onda no que diz respeito à gestão da dívida. Chegámos a esta casa em outubro de 2013 com 43 milhões de euros de dívida inscrita, mas ano e meio depois fomos alertados que havia 2 milhões de euros que não constavam da dívida. Passámos a 45 milhões de euros de dívida, sendo que, já em 2017, fomos surpreendidos por um achado dos revisores oficiais de contas, que nos indicam que o terreno do parque empresarial de Valado dos Frades estava por pagar ao Estado e que tinha desaparecido do serviço de dívida em 2012… Chegámos, assim, aos 46,4 milhões de euros de dívida. Apesar de todas as dificuldades, conseguimos hoje reduzir a dívida para os 32 milhões de euros e estamos a pagar abaixo do prazo médio de pagamento a fornecedores. Ou seja, não temos dívida de curto prazo. O que temos é o empréstimo que foi contraído ao Fundo de Apoio Municipal (FAM) e que muito tem contribuído para sanar uma série de problemas financeiros. Tudo isto tem sido possível por força de uma enorme dinâmica do mercado imobiliário, que nos tem dado receitas significativas de IMT. É isso que nos tem permitido salvar dívida. Em termos financeiros, esperamos no prazo de dois anos estar abaixo do excesso de endividamento, que no nosso caso fica pelos 27,8 milhões de euros, e, por essa via, solicitar autorização ao FAM para baixar impostos. ■

“Temos feito pressão constante sobre a Linha do Oeste”

Necessidade de inscrever projeto a norte das Caldas no Plano Nacional de Investimentos é prioritário para o autarca da Nazaré

O presidente da Câmara da Nazaré exige ao Governo que avance com a eletrificação da Linha do Oeste a Norte das Caldas da Rainha. Walter Chicharro diz que, sobretudo em conjunto com a Câmara de Alcobaça, tem sido feita uma “pressão constante” ao Estado, para que a obra seja “rapidamente incluída no Plano Nacional de Investimentos 2030. “É decisivo para o Oeste, mas também para Leiria e até à Figueira da Foz”, alerta o socialista, que, em termos regionais, admite haver outro tema que possa causar divisão entre os autarcas.
“Não tenho memória de haver decisões da OesteCIM que não tenham sido tomadas por unanimidade ao longo destes últimos oito anos. Acredito que esse é o caminho, mas sabemos que há territórios que vão estar em disputa e, por isso, essa posição de consenso pode não acontecer na discussão sobre o hospital”, adverte o socialista, que, tal como o congénere de Peniche, Henrique Bertino, afirmou na semana passada à Gazeta, também ambiciona uma marina atlântica para o concelho.
“Esse é um comboio mais difícil de encarrilar na Nazaré do que em Peniche, até por causa da própria configuração do Porto”, assume o chefe do executivo municipal, que se mostra contrário ao projeto que chegou a ser levado a concurso público pelos executivos de Jorge Barroso (PSD) de uma marina interior, na zona dos Caixins. “A marina só pode ser em S. Gião. Não tendo desistido desse projeto, temos sido contactados por alguns investidores que querem criar a marina a sul, com uma zona imobiliária que permita suportar os custos. Mas depende muito do Estado, que é quem é dono dos terrenos. Uma marina a sul vai obrigar a uma dinâmica diferente no Porto, sendo que não trocamos a nossa pesca por uma marina atlântica”, adverte Walter Chicharro, que revela, por outro lado, a vontade de transformar os terrenos dos Caixins, hoje em dia uma área agrícola, em área urbanizável: “A visão que tenho é muito clara: fazer ali uma separação entre a Nazaré antiga e a Nazaré moderna, com construção em altura”, sustenta.
A aposta no culto de Nossa Senhora da Nazaré é uma das prioridades do socialista, que pretende, ainda, aplicar a estratégia local de habitação, aprovada há três anos, para encontrar habitação condigna para 94 agregados familiares e 233 pessoas, mas também recuperar edifícios na vila e colocar no mercado a rendas controladas, por forma a “atrair jovens, população e mão de obra” para o concelho. ■

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