Por: Armando Ramos
O coronel Armando Ramos foi um dos militares mais activos no 16 de Março de 74, tendo si preso na Trafaria e libertado a 25 de Abril. Num artigo exclusivo para a Gazeta das Caldas dá-nos o seu testemunho sobre aquela data história que pôs o nome das Caldas da Rainha a circular pelo mundo inteiro.
Todos os anos celebro com a mesma alegria o 16 de Março e o 25 de Abril porque estas duas datas correspondem ao primeiro e segundo acto da mesma peça “A Revolução das Flores”.
O ex-Conselheiro e Porta-voz do Conselho da Revolução, Coronel Sousa e Castro, explicou-o clara e inequivocamente no seu livro, publicado em Outubro 2009, ao relembrar o discurso breve do Comandante das Forças em parada na Escola Prática de Infantaria de Mafra. Disse o Coronel Rui Rodrigues, na noite de 24 para 25 de Abril:
«A Revolução começou. Vamos libertar os nossos camaradas que estão presos desde 16 de Março. A nossa missão é ocupar o Aeroporto. Quem não quiser vir sai da formatura….»
E Sousa e Castro concluiu: «este é um discurso da própria madrugada do 25 de Abril que estabelece uma relação directa com o 16 de Março».
O historiador Prof. Fernando Rosas, foi dizer às Caldas da Rainha em 2007, no Salão Nobre da Câmara Municipal, que o golpe militar das Caldas marcou o princípio do fim da Ditadura.
Consola-me recordar que Salgueiro Maia em Setembro de 1974, disse no livro «Capitães de Abril» de Alexandre Pais, «quando sabemos que um camarada da Academia Militar que arriscou a vida em algumas comissões no Ultramar está preso algures pelo simples facto de comungar dos mesmos ideais, só há duas hipóteses, vamos ter com ele a bem ou a mal. Nós tínhamos de ir buscá-los.»
Muitos se questionam como é que eu, não sendo um Oficial do então RI 5, comandei a coluna militar das Caldas da Rainha a caminho de Lisboa.
Isso vem bem explicado pelo Coronel Gonçalves Novo no livro: «O Movimento dos Capitães e O 25 de Abril» de Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso.
Ao sairmos de casa de Manuel Monge, em Miraflores, para desencadearmos o golpe de Estado, o Otelo Saraiva de Carvalho, o Luís Casanova Ferreira, o Manuel Monge e eu, assumimos a missão de tentarmos pôr as Unidades que cada um ia contactar, a caminho dos objectivos que a ordem de operações impunha e que fora elaborada na véspera por Casanova Ferreira, Garcia dos Santos e Otelo e depois ajustada ao momento em casa de Monge.
A nenhum de nós passou pela cabeça vir a comandá-las porque não conhecíamos o respectivo pessoal. Só se pode comandar uma unidade quando se conhece a tropa que se vai comandar. Isto é uma “verdade de La Palisse”.
Quando cheguei às Caldas, no meu carro, com o qual imaginava regressar a Lisboa na cauda da coluna militar, fui confrontado com uma situação bizarra que passo a explicar:
Antes de seguir para a cidade, fui fazer um reconhecimento minucioso ao Aeroporto e, ao chegar ao RI 5, na primeira reunião que fizemos, eu disse aos oficiais que era para escolherem o Comandante da coluna para eu lhe poder transmitir de imediato o que observara e para se estabelecer uma ideia de manobra.
Disseram-me então que teria de ser eu a comandar, porque ali ninguém tinha experiência de Comando de tropas em combate, à excepção do Domingos Gil, do Freitas, do Piedade Faria, do Vítor de Carvalho e do Varela.
Ao virar-me para estes, todos recusaram comandar e falando com eles, um a um, afastavam-se da ideia como o Diabo da Cruz. Dir-se-ia que dentro do grupo de veteranos da Unidade nenhum se queria ver comandado pelos outros! O impasse durou bastante tempo e começaram a afirmar que só iriam sob o meu comando porque eu tinha duas Cruzes de Guerra e duas Comissões em combate, ao que eu contrapunha que tinha vindo de Angola com o esqueleto todo aparafusado. Nem mesmo isso os demovia da recusa, pelo que apresentaram uma solução de compromisso, dizendo que o Vítor Carvalho que tinha experiência de combate e uma Cruz de Guerra da Guiné, me coadjuvaria. Aí aceitei, sendo suposto andarmos sempre colados um ao outro. Viemos ambos na cabine da primeira viatura, uma Mercedes. Na caixa da Mercedes seguia o Tenente Carlos Barros, Cruz de Guerra e Oficial Comando, que comandava o pessoal da primeira viatura.
Ao contrário do que se tem dito e se pode constatar no Processo de Averiguações do Golpe Militar do 16 de Março de 74, a coluna integrou pessoal da Companhia de Caçadores, da Formação, e das Companhias de instrução, em especial no que respeita a Aspirantes, Furriéis e Cabos Milicianos, mas também seguiam alguns instruendos que já haviam finalizado a recruta.
O PROCESSO DE AVERIGUAÇÕES
Possuo o original do Processo de Averiguações do 16 de Março 74 e era minha intenção fazer a sua entrega ao Sr. Chefe de Estado Maior do Exército, no próximo ano de 2012, dias antes das celebrações desta data e, em seguida, no dia 16 de Março, entregaria duas “PEN” aos Srs. Presidentes da Câmara Municipal das Caldas da Rainha e Comandante da Unidade. E faria assim, porque pretendo lançar o meu livro sobre a Revolução no seu 40º Aniversário. É pois do meu maior interesse fazer entrega daqueles documentos no próximo ano, 38º aniversário.
No que respeita às duas “PEN”, a entregar aos Senhores Presidente da Câmara Municipal e Comandante da Unidade, era meu entendimento que estes documentos fariam parte do Património Cultural da Cidade e da Escola de Sargentos do Exército. Só que este ano, ao receber o convite em carta da Unidade e assinada pelo Senhor Comandante e pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal, para assistir às celebrações, esta chegou na véspera, ao meio-dia de dia 15 e logo suspeitei que, mais uma vez, iria deparar com uma manipulação da verdade histórica, como viria de facto a constatar, numa forma que nem no tempo de Oliveira Salazar alguém se atreveria.
Na impossibilidade de fazer duas “PEN” com mil e oitocentas páginas cada, resolvi, à pressa, fazer três conjuntos de fotocópias de peças do Processo, que são prova inequívoca e irrefutável de se encontrarem em meu poder. Repito-o, apenas por mais um ano.
Ao entregar aquelas três pastas aos seus destinatários, resolvi fazer humor dizendo ao Sr. Presidente da Câmara Municipal, Dr. Fernando Costa, que andou 25 anos com medo de perguntar o que tinha sido o 16 de Março 74, pois, agora, bem merecia aqueles documentos para se tirar de dúvidas e conhecer a verdade; ao Sr. Comandante da Unidade, dizendo-lhe que tinha prestado um mau serviço à Unidade e à Cidade, ao abolir o debate; e ao meu amigo Rocha Neves, entreguei uma pasta igual às outras duas, com a excepção de que a sua continha o seu próprio depoimento nos Autos.
Todavia, irei sugerir quanto à sua divulgação que ela só venha a ocorrer passados mais de dez anos, porque o Processo pode prejudicar o bom nome e a felicidade de alguns dos protagonistas. Aos que têm faltado à verdade e se põem em bicos de pés a propalar o que não fizeram, vou entregar-lhes desde já o seu próprio depoimento para que caiam em si (esse depoimento será acompanhado das declarações dos Soldados, Cabos Milicianos, Furriéis e Aspirantes que lhes permitam concluir dos disparates que fizeram ao cruzarem as declarações destes sobre si próprios).
Podem estar todos certos que tenho a noção de que a verdade é muitas vezes inconveniente e até pode ser homicida. Não me dá nenhum prazer, magoar seja quem for.
Apenas posso afirmar que houve quem, bastante etilizado, tivesse andado a levantar soldados, que se encontravam a dormir, ameaçando-os com uma pistola que empunhava para que integrassem a coluna, tendo, no final, ele próprio, ficado na cama a curtir os efeitos etílicos de bebidas tomadas antes, não seguindo pois na coluna Militar para Lisboa. Houve quem na hora da rendição caísse no paroxismo de não controlar os nervos e quase chegasse a um transe de histeria!
COMEMORAÇÕES FORAM UMA FRUSTRAÇÃO
Nas comemorações do 16 de Março deste ano o Tenente-coronel de Infantaria na reserva, Costa Santos, esmerou-se na dissertação que fez apoiada em slides e num filme.
Todavia, o programa anunciado nos convites previa: «Tertúlia de debate e sessão aberta de questões com a participação de alguns dos intervenientes no 16 de Março 74», que não se realizou, não por culpa do Comandante da Unidade ou do Presidente da Câmara, mas por pressões de uma «manus longa» a partir de Lisboa, como de resto já aconteceu em outras celebrações.
Foi uma frustração total no auditório da Escola, cheio de estudantes do ensino secundário, dos respectivos professores e dos próprios instruendos da Escola de Sargentos do Exército, para não falar nos protagonistas do evento histórico. E depois queixam-se de que esta geração nada sabe sobre História recente do país…
Recordo mais uma vez que o Prof. Dr. Fernando Rosas, num discurso cristalino, demonstrou que o 25 de Abril 74 foi a Revolução das Flores, porque os homens das Caldas, nas circunstâncias em que tudo ocorreu, foram parar à prisão, constituindo-se catalisadores do 25 de Abril. E teve o cuidado de sublinhar que nas Caldas da Rainha começou a nascer o Sol da Liberdade e da Democracia.
A sua exposição teve o condão de agitar a sala até ao exacerbamento de alguns Munícipes que, muito legitimamente, quiseram saber porque é que o Sr. Presidente da Câmara não havia defendido, do antecedente, algo tão importante para o Património Cultural da Cidade e do Regimento.
“Dos 22 Oficiais que serviam no RI5, nenhum tinha servido sob as ordens do General Spínola”
Um camarada nosso que nos idos de 1968/69 serviu nas Caldas comigo, sem ter assistido ao 16 de Março, nem ao 25 de Abril, regressado dos Açores, três dias depois desta última data, qual luminária, sem se dar conta que a objectividade e a verdade histórica são inalcançáveis por um só indivíduo, afirmou que o 16 de Março fora uma tentativa dos Oficiais Spinolistas para empalmarem a Revolução, a benefício do General, ideia logo agarrada pelo PCP e pela extrema-esquerda, na sua necessidade de se desenvencilharem do Presidente da República, General Spínola.
Dos 22 Oficiais que serviam no Regimento de Infantaria nº 5, nenhum tinha servido sob as ordens do General Spínola, mas foram todos rotulados de Spinolistas, porque os três oficiais: Otelo, Manuel Monge e Casanova Ferreira, que comigo em representação dos Oficiais do QP oriundos dos milicianos, nos decidimos pelo desencadeamento de um golpe de Estado, tinham de facto servido com o General Spínola recentemente.
O desencadeamento do golpe dá-se na sequência de um telefonema de Lamego, informando da sua sublevação em relação à Região Militar Norte e anunciando que já estavam sobre rodas. O alvoroço que se instalou em todas as unidades por causa da cerimónia de vassalagem da “Brigada do Reumático” também contribuiu para esta decisão – convencidos que estávamos – que o Movimento das Forças Armadas tinha atingido o estado máximo de maturação e que, com meia dúzia de Unidades, o regime caía de podre.
Em casa de Manuel Monge decidimos os quatro que a primeira unidade a sair seria o RI5, com a missão de ocupar o Aeroporto e logo que quebrada a surpresa, saltariam as escolas Práticas e outras unidades, entre as quais pontificaria Lamego pela sua força (Centro de Operações Especiais e Comandos).
Chegado às Caldas e perante a incredulidade de alguns camaradas face aos impasses das últimas reuniões do Movimento, que haviam dado lugar a desânimo, fizeram-se chamadas telefónicas para várias unidades, não tendo nenhuma delas objectado à sua própria saída, sendo que algumas se queixaram de ter pouco pessoal, mas que iriam fazer tudo para saírem.
A Escola Prática de Infantaria de Mafra saiu até à Ponte de Cheleiros e como na exploração rádio que fizeram não se deram conta de haver outras unidades em movimento, recolheram a Quartéis, quando afinal nós já estávamos a caminho de Lisboa.
O nosso pessoal de Transmissões, que julgávamos experiente, não conseguiu detectá-los. No RI 14, em Viseu, os oficiais quiseram neutralizar o Comandante para saírem de imediato, mas este deu-lhes a volta, sugerindo-lhes que se mantivessem atentos a eventuais movimentos: de outras unidades e, em caso afirmativo, então decidiriam e ele próprio os acompanharia.
A partir do falhanço das Caldas, o comandante da RI14, passou a andar com a chave do parque Auto no bolso mas, ainda hoje não se sabe, como e porquê, deflagrou naquele espaço um incêndio que destruiu as viaturas e no dia 15 de Abril ele viria a morrer de ataque cardíaco. Terá sido a única baixa no contexto do 25 de Abril…
O pessoal das Caldas sempre desconfiou que algo de anormal tinha acontecido e o General Spínola não se cansava de afirmar que havíamos sido traídos pela infiltração do Partido Comunista no Movimento das Forças Armadas. Não foi exactamente assim, mas sem telemóveis já não foi possível suster-nos e a as Caldas avançaram para Lisboa sem saberem que estavam sozinhos. Temos hoje de reconhecer que um acaso milagroso levou a que constituíssemos um engodo para o Regime que, ao convencer-se que tinha logrado neutralizar o Movimento de Capitães, caiu no relaxamento que conduziu a uma Revolução de Flores e sem baixas. Valeu a pena o sofrimento da prisão e o suplício da separação das famílias, tortura que ainda hoje nos marca e a que não escaparam as esposas e os filhos, alguns sofrendo ainda hoje o trauma.
“Fomos votados ao ostracismo com a mais descarada má-fé”
Os militares do 16 de Março não eram os jovens irreflectidos, ingénuos e impulsivos como pretendeu Marcelo Caetano na sua mensagem ao país.
O grau de motivação da Unidade e a prontidão com que saímos, deu como resultado o encontrarmo-nos sozinhos, a caminho de Lisboa, num tempo em que ainda não existiam telemóveis….
Quer na minha viagem para as Caldas, quer depois na coluna a caminho de Lisboa, eu não conseguia pensar noutra coisa senão nas muitas baixas que iríamos ter e em todos aqueles momentos não conseguia evitar a imagem de minha mulher com os nossos dois filhos, ainda de tenra idade ao seu colo.
É um facto que se a Revolução não se desse em dois tempos, da confrontação com o aparelho repressivo do Regime, era inevitável a ocorrência de muitos mortos por mais unidades que saltassem para a rua.
Fomos votados ao ostracismo com a mais descarada má-fé por vários motivos que já passarei a referir, mas antes deixe-me aclarar o seguinte: se recordarmos que o golpe Militar de Beja em 1961 falhou na fase da neutralização do Comando, teremos que aplaudir a operação cirúrgica da neutralização do Comandante do RI 5, que se deve à actuação de quatro camaradas: Virgílio Varela, Rocha Neves, Vítor da Silva Carvalho e Gabriel Mendes.
Tal como aconteceu aos de Beja, estes homens arriscaram a vida porque no quarto do Comandante estavam armados, além dele, o 2º Comandante e o Oficial de Segurança.
Foi o discurso fácil do Varela a quem reconhecemos o dom da palavra e um auto-controle excepcionais, que os “anestesiou” do lado de fora da porta. Mas atente-se que o Vítor Carvalho, o Rocha Neves e o Gabriel Mendes, arriscaram de novo a vida, ao integrarem a coluna militar.
Ninguém em todo o universo de militares do 25 de Abril, arriscou tanto a vida como estes três homens e, a seguir, como se não bastasse, sofreram 40 dias de prisão sem saberem, ao entrarem nela, se os dias passariam a ser anos. Não houve para eles a Comenda da Ordem da Liberdade nem a inscrição dos seus nomes no «muro da vergonha» de Grândola, onde está muita gente que nada fez pelo 25 de Abril e os restantes pouco arriscaram e não tiveram o suplício da separação das suas famílias.
Não existe um único militar no muro «da vergonha» de Grândola, que tenha sofrido a prisão e tenha sido exposto à morte como os que integraram a coluna das Caldas da Rainha.
E o Furriel Miliciano, Rui de Abreu Silva, que também integrou a coluna e por tal sofreu a prisão, a quem foi pedida a recuperação de algumas viaturas avariadas uma semana antes do 16 de Março e com elas prontas no dia 14, assinou, com esta data, os Boletins de saída das viaturas, lançando a maior confusão nos Oficiais Averiguantes do Processo levantado a todos os militares depois de falhado o golpe, porque contrariava a teoria da espontaneidade que envolveu o 16 de Março.
Será que ninguém lhe reconhece o mérito? É que no RI5 fervilhavam os ideais da Revolução também entre os Aspirantes, Furriéis e Cabos Milicianos, que eram todos os dias contagiados pelos Oficiais e integraram-se todos voluntariamente na coluna militar.
Ao longo dos anos nem os Presidentes da República nem a Associação 25 de Abril tiveram para com os homens das Caldas qualquer gesto de reconhecimento quanto ao contributo que deram para o derrube da Ditadura.
Como fomos rotulados de Spinolistas, somos um grupo naturalmente execrado desde o início da Revolução pelo poder político que se veio a instalar no país. Tempos houve em que chamar-se a alguém “Spinolista” era uma injúria. O “Spinolismo” foi ideologicamente entendido como fundamentalismo de uma corrente militar fiel ao cumprimento do Art.º n.º 8, do Programa do Movimento das Forças Armadas, que visava a Descolonização.
É legítimo que nestas condições nos sintamos vítimas de uma grande injustiça e exista da parte de todos nós algum ressentimento com os Presidentes da República que temos tido e com a Associação 25 de Abril, presidida por um homem que, vivendo sob o signo da vingança, diabolizou Spínola e os Spinolistas.
As mentiras sobre o 16 de Março
As pessoas que estão à frente do Centro de Documentação 25 de Abril e a Sra. Professora Dra. Maria Manuela Cruzeiro que presidiu às celebrações do 25 de Abril de 2007, para as quais fui convidado a participar, puseram no meu painel um ex -Alferes miliciano, Álvaro Bento Lapa, que servira no RI5, que foi ali com o propósito de dizer duas mentiras para serem gravadas e enviadas para o Centro de Documentação 25 de Abril.
Disse este indivíduo na primeira mentira, que o General Spínola lhe tinha dito, nas Termas do Luso, que no dia 16 de Março 74, seguiu para o Porto, com a esposa, e ali deram baixa no Hospital Militar. Pretendia esta mentira equiparar, para a história, o General Spínola e esposa na vergonha que acontecera na noite de 24 para 25 de Abril com o casal Costa Gomes, que deu baixa ao Hospital Militar Principal, em Lisboa.
A segunda mentira, foi a de dizer que na rendição do RI5 das Caldas da Rainha o negociador da rendição foi o Capitão Piedade Faria, com o Brigº Serrano, quando consta nas fotografias dos jornais, nos textos destes e de livros sobre o acontecimento, que os negociadores foram os majores Luís Casanova Ferreira e Manuel Monge.
Na primeira fila do auditório estava Vasco Lourenço, provavelmente o patrão deste circo, que não disse palavra, mas do meio da assistência levantou-se Otelo Saraiva Carvalho que disse, que o que acabara de ouvir, era mentira.
Esta gente quer dizer que a “tesourada” que o Regime levou, foi dada com uma “tesoura” que só possuía um olhal e uma lâmina… No futuro os nossos historiadores virão a beber desta água salobra e é pena que a história seja assim feita!
De facto para escrever disparates, nenhum historiador precisa de cruzar fontes de informação. Veja o caso da História de Portugal coordenada por Rui Ramos. Na página 709, diz: «Na noite de 15 para 16 de Março, 200 homens saíram do Regimento de Infantaria nº 5, das Caldas da Rainha. Perante uma barreira militar à entrada da Capital, recuaram e renderam-se a meio da tarde». Isto dá a ideia que recuaram, porque avistaram uma barreira militar… Todos os Oficiais que integravam a Coluna das Caldas da Rainha e os dois Oficiais que a pararam, hoje General Manuel Monge e Coronel Casanova Ferreira, estão todos vivos e nenhum viu uma barreira militar, mas também nenhum deles foi ouvido pelos cronistas desta História. Só os autores desta “História de Portugal” enxergaram essa “barreira militar…”.
Com intelectuais e historiadores destes o país nunca conseguirá amadurecer politicamente. Os governantes não têm ética nem seriedade e o sinecurismo despudorado continua a levar-nos à ruína e à miséria que já é visível por todo o lado. A deslealdade institucional chegou ao inaudito. A mentira é moeda de troca na classe política que cultiva o despeito, a inveja e o pedantismo. A falta de humanidade, o rancor político e/ou profissional conduzem à estupidez e corrompem o carácter de muitos que se julgam sábios da verdade, mas que não passam de “pitosgas” do entendimento.
Enfim, neste artigo, esforcei-me por explicar o eclipse do 16 de Março nas Caldas da Rainha de que vamos sair com certeza, porque a verdade vem sempre ao de cima.
AS MINHAS DUAS FAMÍLIAS
O melhor e mais importante acontecimento da minha vida, foi ter encontrado a minha mulher que reúne todas as perfeições e ter uma família de excelência, que me faz feliz.
Depois tenho uma segunda família, a ADFA- Associação dos Deficientes das Forças Armadas, onde se luta estoicamente contra as injustiças que sofrem os que derramaram o seu sangue por uma Pátria que não lhes acode. É um desafio constante de solidariedade, que me preenche a vida e me dá o sentimento de utilidade que eu sinto necessário na caminhada para o desconhecido.
O actual Presidente da Assembleia da República, Dr. Jaime Gama, considerou esta família, de cerca de 14.000 membros, a excepção das excepções e a prioridade das prioridades, só que, infelizmente para nós, não lhe compete a ele resolver os nossos problemas.
Na ADFA, sou Conselheiro Nacional com fraterno empenho em relação aos que aguardam com sofrimento as reparações dos sacrifícios que Portugal lhes exigiu na Flor da vida e dos sonhos.
Quando no Hospital Militar da Estrela me vi cercado de invisuais, amputados e paraplégicos às centenas, foi, fundamentalmente por eles, que tomei a decisão inabalável de pegar em armas contra o Regime.
































