«Lisnave – Uma viagem no tempo» de Luís Alves Milheiro e João Soeiro

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Nostalgia e desencanto são duas palavras que se colocam ao leitor perante este livro com fotos de João Soeiro e textos de Luís Alves Milheiro. De facto a «viagem no tempo» que o título avança, implica um olhar nostálgico e desencantado sobre a realidade dos estaleiros inaugurados em 23-6-1967, pouco tempo depois de em 6-8-1966 ter sido aberta ao tráfego a chamada «Ponte Salazar» que veio retirar a importância relativa a Cacilhas como nó essencial de transporte de pessoas e bens entre as duas margens do Tejo.
Nos primeiros tempos da LISNAVE, Almada recebeu milhares de pessoas, na sua maioria vindas do Alentejo, à procura de melhores condições de vida. Outros vieram do Arsenal do Alfeite, da CP e da Sociedade de Reparação de Navios, numa altura em que a oferta da LISNAVE era para eles o triplo do seu vencimento anterior.
A LISNAVE era uma cidade dentro da cidade e funcionava 24 horas por dias 365 dias por ano mas em 1969 uma greve nos dias 12 e 13 de Novembro veio abalar a paz social da empresa: a polícia de choque e a GNR expulsaram os trabalhadores das instalações. De seguida houve despedimentos. A chamada «crise do Canal do Suez» veio em 1973 alterar as condições da actividade da construção naval em todo o Mundo e seguiu-se em 1974 o «25 de Abril» em Portugal que veio alterar as relações de trabalho entre trabalhadores e patrões. Tudo acabou em 30-6-2000, se por «tudo» entendermos a ideia e o sonho de muitos portugueses para quem ir trabalhar para a LISNAVE era «emigrar sem sair do país».
Para além de ser tudo o mais, este livro é também uma forma de dizer adeus ao executivo e à freguesia de Cacilhas que patrocinou vários livros sobre a história local: Abrantes Raposo, Alberto Afonso, Diamantino Lourenço, Fernando Barão, João Soeiro, Luís Alves Milheiro, Luís Bayó Veiga e Víctor Aparício são os seus autores. Aqui o autor conclui e faz votos: «Treze anos depois do fecho oficial dos estaleiros da LISNAVE resta-nos esperar que não lhes aconteça o mesmo que aconteceu a outros complexos industriais do Concelho.»
(Edição: Junta de Freguesia de Cacilhas, Apresentação: Carlos Leal, Capa: João Soeiro)

José do Carmo Francisco

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