
Por razões de espaço deixo apenas uma breve citação do poema de Amadeu Baptista. Nele se percebe como o poeta imita o crente ajoelhado no templo quando junta de novo tudo o que a morte, a solidão e o esquecimento ajudaram a separar: «O poeta despede-se da Sé do Porto»: São verticais as coisas de Deus / e estou a chorar sob o transepto / da catedral da cidade da Virgem. / De um lado a outro deste mundo, / onde a sombra se transfigura, / em seda e tempestades luminosas, / aqui venho pela derradeira vez, / a confirmar razões que nem sequer supunha. / Esta é a cidade em que nasci e a rua ali em baixo, / sempre escura, foi a que minha mãe deixou, / sem que soubesse como eu a choraria / ao percorrer esta nave onde me vejo / cego de tudo, com o coração a arder / por não conseguir capturar outro destino / que esta sorte sem sorte de ter de partir.»
(Editora: Quetzal, Organização: Teresa Carvalho e Maria do Céu Fialho, Apoio: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, Capa: Rui Rodrigues, Revisão: Pedro Ernesto Ferreira)
José do Carmo Francisco

































