Vou ali já venho…Para acabar de vez com a cultura

Sempre gostei de passear por Óbidos, mas confesso que nos últimos anos andava um pouco preocupada. A terra parecia evoluir para uma espécie de parque temático… Do Chocolate, da Feira Medieval, da Vila Natal… esgotando-se como uma Disneylândia, armadilha de turismo de fachada e de consumo fácil, desvitalizante e sem sumo. Mas este ano houve uma maravilhosa novidade. Óbidos Vila Literária, povoada de belíssimos espaços de livros e de cultura. E os livros e as livrarias são para ficar. Onde há livros, há pensamento e saber, e estímulo para descobrir e aprender. Que bom, uma lufada de ar fresco e um motor de vida e de dinamismo criativos. A possibilidade de um casamento feliz, entre a tradição, a história, e o novo, o actual. Esperemos que a iniciativa seja bem acarinhada, e não se esgote numa manobra de eleitoralismo esperto…
Os pensamentos são como as cerejas, atrás dum surgem outros e por vezes em cachos. E a propósito de coisas da cultura e das ideias, que sendo boas, precisam de ser bem executadas, pois de boas ideias está o inferno cheio, veio-me à ideia o caldense CCC. Logo quando foi inaugurado, uma das piadas que correu, vá-se lá saber porquê, foi a de que a sigla CCC, significava, Centro da Conceição e do Costa… Mas o equipamento é de primeiríssima qualidade e as pessoas gostam sempre de começar por maldizer… Finalmente a cidade tinha uma estrutura digna e moderna, e que tanto tinha tardado em surgir.
Mas se nem só de pão vive o homem, nestas matérias culturais, por definição complexas e em que os consensos podem ser perigosos, exige-se massa critica, inteligência, informação, conhecimento e a capacidade de pensar fora da conjuntura e da solução fácil. Pois aí é que começa a amarelar o riso, e parece que nem aqui, nos livramos dos jogos de favores e interesses partidários, só porque sim. O recém-nomeado Presidente da Direcção, regedor duma das freguesias locais, quando interrogado sobre o porquê da sua nomeação, deu como justificação o facto de a sua freguesia ser uma das que tinha uma Banda Filarmónica…?!
Confesso que quem ficou de boca à banda fui eu… Não percebi… Que raio de resposta é esta? Então se na dita freguesia existir por exemplo, uma unidade de saúde, o dito regedor achará ter toda a legitimidade para, sei lá, presidir ao ACES (agrupamento de centros de saúde), quiçá ao hospital? Será que são estes os critérios de selecção? Na verdade, muitas vezes não se percebe bem quais são… Será queao assumir o lugar de presidente da Junta, se recebe automaticamente, como bónus, numa espécie de iluminação divina, o saber e o conhecimento de tudo o que existe na sua jurisdição? Banda Filarmónica, música. Música, cultura. Logo, Presidente do Centro Cultural.
Ou será que só os já iluminados atingem este patamar do poder? Assimdo tipo, “… sim, porque eu é que sou o presidente da junta…”, que o Herman tão risivelmente bem, encarnou num dos seus personagens cómicos.
Agora que, quer o Costa quer a Conceição, saíram (?) da boca de cena,será que a piada a propósito do CCC vai ser, Centro da Confraria de Cromos?
Por favor meus senhores, vá lá… Atinai.Não estraguem mais um dos projectos bons da cidade. Sob risco de se acabar de vez com a cultura, e com ela, inevitavelmente, a própria cidade.
Vou ali já venho…

Leonor Tornada
leonor.tornada@gmail.com