Vivo no caixote do lixo mais lindo das Caldas

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notícias das CaldasA minha consciência, o meu sentido cívico e o meu dever de cidadão dizem-me que devo escrever esta carta. Parece que cada vez mais o cidadão comum está esquecido das suas responsabilidades e tem uma postura de passividade para com aquilo que se passa na actual sociedade.
Sou caldense desde 2008, gosto desta cidade, da sua herança cultural e a sua história fascina-me. Vivi 40 anos de estudo e de trabalho em Paris e tenho presente na minha personalidade o património e a cultura francesa. Inequivocamente devo isso ao meu país de adopção (a França) e estou orgulhoso dos seus valores e códigos de honra de um país a quem eu tudo devo.
Voltei ao meu país de origem e morei dez anos na região do Ribatejo, entre Santarém e Cartaxo, em Atalaia, que é a terra das minhas origens.
Decidi depois escolher Caldas da Rainha, rica de uma cultura regional. Os turistas descobrem-na e não ficam insensíveis.
Mas a rua onde vivo (Travessa da Água Quente) muito raramente é limpa. Em dois anos, não tenho qualquer lembrança de ter sido limpa. Vejo beatas, garrafas, papéis, dejectos de cães… A rua serve também de casa de banho para os bêbados e para os cães dos vizinhos do bairro.

Eu e os meus vizinhos do prédio temos o prazer de partilhar estas visas e o cheiros.
À noite eu e os meus vizinhos assistimos a discussões ente jovens bêbados sentados na calçada a fumarem e a beberem cervejas e outras garrafas de álcool que compram no supermercado, tudo isso no mesmo sítio onde urinam.
Quando chego a casa à noite, eles são dez ou mais, intimidam e eu quase tenho de pedir desculpa para poder entrar no meu prédio.
Há pessoas com 50 anos ou mais nesta rua, que sentem-se aterrorizadas com facas, sem dizerem nada com medo de certas retaliações.
Eu já tentei falar ao nosso presidente da Câmara das Caldas que teve a elegância de me desmarcar o encontro, marcado uma semana antes, porque ele tinha uma reunião urgente. Eu insisti junto da secretária dizendo que vinha expressamente de Santarém para esta reunião. Acabei por ser recebido pelo senhor José António, responsável pelo ambiente. Dei-lhe conhecimento desta situação e ele mesmo fez sugestões para resolver uma parte do problema.
Infelizmente esta pessoa não tem poder de decisão e aqueles que o têm não servem como deviam. Parece-me que eles são eleitos para gerir a cidade, mas as minhas sugestões – que não têm qualquer custo financeiro – não são aceites. (…)
A Praça 5 de Outubro está muito suja e vi que as mesas dos bares nem sequer têm cinzeiros porque se os houvesse haveria menos beatas no chão. (…)
Para me queixar sobre estes problemas já fui à PSP onde falei com o agente Fernando sobre o supermercado de droga que existe em frente à minha porta, mas ele respondeu-me que não poderia fazer grande coisa e que eu deveria falar com os donos dos bares para que fechassem os estabelecimentos às 2h00 da manhã em vez de ser às 4h00.
Fiquei com a sensação de que, além da Câmara, também a PSP não resolve nada e, como cidadão, sinto-me impotente para a resolução dos problemas da minha rua que afectam a mim e aos meus vizinhos.
É por isso que digo que vivo no caixote do lixo mais lindo das Caldas – perto do Hotel Lisbonense e do Parque, que estão limpos e arranjados –, mas numa rua suja e porca.

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Rui Silvestre

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