Quarenta anos depois da edição original (Jornal do Fundão) o livreiro Pedro Oliveira (Sá da Costa) resgatou do esquecimento relativo esta plaquete de VST para o Natal de 1972. Acabado às 17h e 40m de 2-11-1972, com o título retirado das suas últimas palavras, este texto nasce no café Monte Carlos de uma ideia de VST: «decidi plaquetear os amigos, conhecidos e mais família».
O autor apresenta-se deste modo: «À falta de melhor direi que sou um poeta – embora o texto não o comprove devidamente. Sou um poeta que não sabe escrever mas escreve o seu não saber». Dito de outra maneira: «Este texto, que não tem importância nenhuma, pode muito bem ser importante. Mais que não seja para mim. Estou vivo e escrevê-lo é importante. Escrevo também por terapêutica ocupacional». Frente ao autor está a realidade: «Cumpro a minha dose de realidade mas cumprir a realidade é uma coisa e cumprir a escrita outra».
Entre o autor e a realidade surge a literatura: «com ou sem enredo toda a escrita é uma ficção – ou uma invenção com rédeas próprias. Também um espelho do autor ainda que poliédrico ou deformador como os das barracas de feira». Dito de outra maneira: «estou-me nas tintas para a literatura, ou melhor, para as belas-artes». A sua rejeição da sociedade como ela existia em 1972 vai mais longe: «prosperidades para a compra do aparelho de televisão e do pópó e dos discos contestatários e dos poster revolucionários e dos livros utilitários e dos outros produtos e objectos vários propostos activamente pelos nossos publicitários e seus mandatários».
Por fim surge a relação entre o texto de 1972 e o mundo de 2012: «o eu-narrador exibe as contingências da sua impotência face ao garrote de uma situação política que ele julgava eternizar-se, qual era a do fascismo envolvente, que mesmo quando não matava à queima-roupa, moía até à morte macaca – a dignidade virada lixo».
(Editora: Dois Dias, Desenho: Inês Botelho, Revisão: Rui Almeida Paiva e Sofia Gonçalves)
José do Carmo Francisco
































