Com as dificuldades económicas que o país atravessa, a praia, ou o campo, alvo de qualquer exorcista imolador pelo fogo, de entranhas inconformadas, ainda constituem as alternativas de lazer e de reconstituição física e mental para o cidadão comum, a quem os sucessivos governos não se lembraram, de considerar este bem natural, matéria passível de imposto.
Não imaginava, como frequentador assíduo da Praia da Foz do Arelho, há já muitos anos, voltar a ver famílias completas reunidas, como outrora era prática sazonal; ouvir línguas de diversos países, não só emigrantes, até uma família de etnia cigana, o que me deixou feliz, por verificar constituir a praia um lugar de integração e partilha comum, em que o objetivo é o bem estar para quase todos e não só para alguns, não esquecendo aqueles que por não terem dinheiro para comer ou por não terem saúde, não poderão ter o usufruto como nós.
As ondas estão lá, as correntes, os famosos agueiros, a temperatura da água, o esplendoroso sol e até os inevitáveis nevoeiros. Tudo como instrumentos de uma orquestra a que nós como instrumentistas nos sujeitamos a tocar por puro prazer, sob a orientação de atentos e rigorosos maestros, os nadadores salvadores.
Figuras de respeito, a quem os utilizadores da praia respeitam e cumprimentam no dia-a-dia, procurando saber a hora das marés, o melhor sítio para tomarem banho como se elementos de família se tratassem. Houve uma avó, que desabafou com o nadador salvador em tom de pedido de ajuda: “Não consigo fazer o meu neto sair da àgua, o senhor não poderá fazer qualquer coisa?”. Esta situação atesta bem, a confiança e a familiaridade que têm nestes vigilantes.
Estes dois rapazes, trabalham desde as oito horas da manhã até às vinte horas, sem se poderem distrair. Se houvesse a fatalidade de haver uma morte por afogamento eram incriminados judicialmente por homicídio involuntário. Se num dia de bandeira vermelha, algum veraneante fôr encontrado a tomar banho na área vigiada concessionada, são multados quer o vigilante, quer o banhista, pela autoridade marítima.
Dois pequenos exemplos da responsabilidade, entre muitos, que ataviam estes homens diàriamente.
Gostaria de referir que esta praia goza das três bandeiras mais desejadas em qualquer praia, mas apraz-me também registar a presença assídua do cabo do mar, da polícia marítima, do corpo de nadadores salvadores dos Bombeiros Voluntários de Caldas da Rainha – INEM (salvamento em mar e em terra), com os quais os nossos vigilantes, podem contar e estão em permanente contacto.
Gostaria de lembrar, num só dia, estes dois valorosos rapazes resgataram do mar mais de seis pessoas. Muito mais haverá para estatística.
Não gostaria de terminar sem vos dizer que quando se ouve o apito do nadador salvador, as pessoas, mesmo algumas que estão deitadas, levantam as cabeças para verificarem em tempo real o que se passa. Ou chamam as pessoas que entram mais no mar, ou congregam as pessoas de molde a proporcionar um banho mais calmo fóra dos agueiros, mudando para esse efeito com frequência a placa de zona de banhos, ou chamam e dissuadem os praticantes de body board que não façam uso de pés de rã (barbatanas curtas), ou até com nevoeiro chamam os banhistas de molde a estarem todos observáveis evitando deste modo a substituição da bandeira que estiver, por bandeira vermelha, impossibilitando a permanência de quem quer seja na água.
Até neste pormenor, sinto o respeito e o cuidado que estes homens têm pelo nosso bem estar.
Que poderei mais dizer?
As leis são para todos, mas os homens que as fazem executar, zelando pelo nosso bem estar, fazem a diferença.
Bem hajam nadadores salvadores e vossa equipa. Gostei de vos conhecer.
Daniel Rabiais
































