Uma vez mais o problema do termalismo

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Jorge Mangorrinha
ex-vereador da Câmara das Caldas da Rainha

O problema do termalismo nas Caldas da Rainha arrasta-se há muito tempo, com mais impasses do que avanços. Em período de crise no setor e dando como certo que todos almejam a resolução do problema nesta cidade, eu não concebo outra atitude possível senão a de ajudar a equacionar uma solução para minimizar ou resolver uma dificuldade. É disso que se trata quando escrevo ou me disponibilizo diretamente para colaborar. O que é preciso é que deixem que essa ajuda se concretize.
Estudei, viajei, palestrei, intervim sobre esta temática, desde há cerca de três dezenas de anos, colocando esse conhecimento, também, em prol da defesa de um termalismo e de uma cidade mais prósperos nas Caldas da Rainha. Porém, é a indiferença e a falta de interesse muitas vezes existente que nos destroem por dentro como comunidade, que nos fazem questionar a importância que temos para os outros, que nos afastam e nos transformam.
Quantos caldenses conhecem por dentro o Hospital Termal, como visitantes ou usuários?
Este introito vem a propósito do facto de o atual presidente da Câmara preferir encomendar um Master Plan para o futuro do termalismo local, neste caso a um gabinete de Lisboa que, apesar dos seus créditos no planeamento estratégico e territorial e de ser autor do Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo, acarreta despesa para a autarquia, quando as conclusões técnicas e as recomendações são desde já previsíveis.
Eu sou defensor do planeamento, inclusivamente já elaborei estudos de desenvolvimento termal, para além de me ter doutorado com uma tese sobre o conceito de Cidade Termal e fazer parte de júris e orientar teses de doutoramento em áreas conexas ao termalismo, no país e no estrangeiro. Porém, creio que para as Caldas, mais do que fazer um novo estudo, o que importa é analisar documentos estratégicos mais ou menos recentes (ISCTE, CENCAL, Augusto Mateus & Associados) e avançar imediatamente com as linhas de ação comuns, dentre as quais temos a urgente construção de um novo estabelecimento termal na antiga parada militar, a recuperação do património e a salvaguarda e valorização do centro histórico, agora que finalmente há um instrumento de planeamento em vigor para este centro urbano – ao que consta (a confirmar) a ser “consertado” para satisfazer alguns interesses pessoais. Para tal, não se torna necessário um novo plano setorial, isso era indispensável quando defendi, em sede própria, o Projeto Integrado de Termalismo, há 20 anos. Só que agora, para além da sua dispensabilidade, tem uma verba de despesa que poderia ser canalizada para outra ação – e há das Caldas gente capaz para fazer essa reunião dos estudos existentes e ajudar a autarquia.
Pelos vistos, esta encomenda faz parte do “contrato” com o Partido Socialista.
Fazer das Caldas uma Cidade Termal – como tanto tenho defendido, seja como cidadão, especialista ou político – tem como objetivo central a reconfiguração deste setor e a sua reanimação, orientando-o para tornar Caldas numa referência no panorama termal, com abrangência nacional e internacional. Nesta ótica, urge integrar um conjunto de iniciativas e de programas que envolvam várias vertentes: a reabilitação e a reativação das estruturas termais existentes, em complemento com o alargamento das atividades termais a novas áreas de atuação, como o ensino, a investigação, a medicina desportiva e de reabilitação, a cosmética e o termoludismo, bem como a divulgação do património termal e uma oferta diferenciadora – e, segundo um amigo meu, a água mineral natural engarrafada e distribuída (se tal fosse possível) por quem sabe deste negócio.
Pelos vistos, vamos esperar mais uns largos meses pelas conclusões óbvias do novo estudo e adiar o início do processo do novo estabelecimento termal – à semelhança do desnecessário concurso para a direção do CCC, que tem deixado o equipamento sem comando –, sendo que, entretanto, a zona de doenças respiratórias está às moscas, ou melhor, aos sapos, e o exíguo e renovado corredor do Hospital Termal não chegará para as encomendas. Salva-se a Igreja, que está como nova, pela parceria do anterior executivo camarário com a DGPC, e pronta para receber os fiéis, que ali estão literalmente de costas voltadas para as termas. Uma metáfora que, respeitosa mas simbolicamente, talvez queira dizer alguma coisa. ■

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