João Silva
professor
Sábado, ligo a televisão e vejo as notícias da tarde. Coincide com um longo direto da manifestação de professores e demais profissionais da educação em Lisboa. Concentram-se junto ao Palácio da Justiça, próximo da Penitenciária de Lisboa, ao cimo do Parque Eduardo VII. Localização de encruzilhada de lugares simbólicos de uma cidade que não se cansa de receber milhares de docentes desiludidos, cansados, revoltados, desencantados, …, com o estado que nos governa. Os cabelos que ondulam ao vento estão mesclados de um intenso branco que atesta os muitos anos ao serviço da escola pública.
Perante o autismo do governo que aposta em os vencer pelo cansaço, não desistem e renovam energias para uma luta que não dão por perdida. Admiro-os pela forma determinada e pacífica como lutam pelos seus direitos, sinal de uma democracia amadurecida.
No meio destas cogitações, penso nos primeiros passos como professor na Escola Secundária Raul Proença, no distante ano letivo de 1993/1994. Nesse ano fui recebido pela direção da escola, que era assumida pelos docentes Jaime Serafim, Fernanda Bernardo, Alice Alves e Luís Perna. Passados 30 anos já nenhum está ao serviço da escola, estão a viver uma merecida aposentação. Mas passaram 30 anos e muitas transformações ocorreram no sistema educativo. As escolas, nas Caldas da Rainha, estão todas organizadas em agrupamentos. Resultado da ação da troika, é mais uma das heranças de má memória deste período da nossa história recente.
Não, não me vou desviar do tema central que aqui me traz. Passaram trinta anos, a escola integrou-se numa unidade significativamente maior, o Agrupamento de Escolas Raul Proença e o número de professores que nele trabalham aumentou, aumentou muito. Estamos perante um universo de 260 professores que, na sua larga maioria, acumulam dezenas de anos de serviço.
Volto a olhar para os números e faço contas. Números redondos mostram uma realidade que muitos não querem ver. Nos próximos cinco anos, cerca de 98 professores reúnem condições para se aposentar. Dá uma média de vinte docentes aposentados por ano e, nos outros agrupamentos de escolas da cidade, a realidade é em tudo semelhante.
São números avassaladores para um país que não está a formar novos professores. Onde os jovens não querem ser professores. Onde os pais desses jovens não querem que estes estudem para ser professores. Chegados aqui é tempo de pensar que país queremos ser… e o tempo está a escassear! ■

































